domingo, 12 de dezembro de 2010

Como Ler a Bíblia?

O dilema

RESUMO
Argumento que, ao ler a Bíblia, é preciso ter em mente um objetivo claro. Remeto o leitor a documentos escritos por especialistas, católicos e protestantes, que demonstram o quanto é arriscado colocar-se como examinador crítico ou intérprete da mesma. Ressalto que, naquilo que é essencial, ela é clara o suficiente para ser lida por todos; entretanto, naquilo que pode gerar interpretações passíveis de discordâncias doutrinárias, o leitor pode meter-se em conflitos hermenêuticos inúteis e perigosos que se têm arrastado por séculos.

1. INTRODUÇÃO
De acordo com a minha experiência de leigo, penso que se pode ler a Bíblia: 1. para alimentar-se daquele seu conteúdo que dispensa interpretação; 2. para confirmar ou negar afirmações de pessoas que a citam; 3. como especulador; 4. como intérprete.

Na modalidade 1, em que se busca alimento espiritual, a Bíblia pode ser lida por todos que saibam ler. Entretanto, é preciso que leitores mais experientes indiquem, paras os novatos, as passagens mais apropriadas para essa finalidade. Veja, por exemplo, o endereço http://cristianismocriticopratico.blogspot.com/2010/11/onde-procurar-na-biblia.html , onde postei indicações tiradas de fonte segura. Um leitor um pouco mais curioso deveria ler alguma Bílbia de Estudos da corrente interpretativa de sua preferência.

Quanto à modalidade 2, checar citações, a leitura é simples, e pode ser realizada sem problemas. Contudo, quando as citações estão no contexto doutrinário, é preciso interpretar, pois as mesmas citações podem ser evocadas para reforçar ou negar doutrinas incompatíveis entre si. Quando isso ocorre, cai-se na modalidade 4. Contendas sem fim podem resultar dessa postura. A esse respeito, reflitamos sobre Tito 3:9, que aconselha: "Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs."

A leitura com a finalidade 3, de natureza especulativa, é feita geralmente por ateus militantes, ou por pensadores independentes que querem confrontar as interpretações que da Bíblia fazem os religiosos. Leitores com tendências neutras poderiam fazer também esse tipo de leitura, seja para extrair dela elementos da sabedoria universal, seja para analisar os textos da Bíblia ou o discurso dos religiosos que a interpretam. Geralmente esse tipo de leitura alimenta o agnosticismo e o ateísmo, mas pode, eventualmente, iluminar o caminho de alguns escolhidos que se encontravam perdidos.

Na modalidade de leitura número 4 busca-se interpretar a Bíblia. E é nesse momento que se deve tomar muito cuidado. Vejamos alguns documentos que tratam desse nível de leitura, dos quais darei os endereços, mas sobre os quais não farei comentários. Caso o leitor se interesse, poderá fazer a leitura dos textos indicados e tirar suas próprias conclusões, assim como tirei as minhas.

De uma maneira geral, todos os leitores podem tirar proveito se aprenderem a ler como pesquisadores. Para isso, leia aqui o resumo que fiz do livro Como Ler um Livro, de Adler e Van Doren. Embora os documentos que serão apresentados a seguir demonstrem o quanto é perigoso interpretar a Bíblia em sentido rigoroso para dar suporte a doutrinas, há recomendações de bom senso que são compatíveis com a arte de ler qualquer texto, e que são reconhecidas como válidas por todas a linhas interpretativas.

Algumas dessas recomendações estão no livro A Doutrina Cristã, de Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho da Igreja Católica Romana: quando houver várias passagens sobre o mesmo tema, analisar todas elas, compará-las e adotar a mais simples e clara, sempre partindo do sentido literal; quando persistir possíveis contradições, não fazer opções, mas pedir esclarecimentos a especialistas; se persistir a dúvida, suspender o julgamento e reconhecer a finitude humana diante da infinitude de Deus.

A seguir serão apresentados os endereços eletrônicos de importantes documentos de especialistas sobre a interpretação da Bíblia. Não tenha pressa de lê-los; mas, se o fizer, leia-os com bastante cuidado. Em seguida, pesquise por contra própria outros documentos, sempre prestando atenção à credibilidade dos autores diante de sua linha interpretativa.


2. A CORRENTE CATÓLICA ROMANA

2.1 - A Posição Oficial da Igreja Católica
Quanto à posição da Igreja Católica, leia aqui, ou vá ao seguinte endereço:http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#top

2.2. O Posicionamento Crítico de um Católico Romano Dito Tradicionalista Contra o Livre Exame Proposto pelos Protestantes
Leia aqui.

3. A CORRENTE PROTESTANTE

3.1 - A Posição de Lutero
As sugestões de Lutero podem ser encontradas no seu livro Da Liberdade do Cristão. Ele, que era professor de Bíblia credenciado pela Igreja Católica, aconselhava que a leitura deve iniciar-se pelos textos que ressaltam a espiritualidade, tais como: João, 1 Pedro e Romanos. Ele procurou, ainda, indicar o que se poderia encontrar na Bíblia como um todo. Lutero defendia o livre exame, mas não a livre interpretação. Ele aconselhou a não se fixar nos textos que descrevem muitos milagres, pois isso poderia desviar a atenção do leitor. Em última análise, ele próprio interpretou a Bíblia de forma diferente da Igreja Católica, tendo sido a principal força isolada a romper o dique do catolicismo.

3.2 - A Posição de Calvino
A posição de Calvino foi defendida na sua famosa obra Institutas da Religião Cristã. Assim como Lutero, ele defendeu que as passagens da Bíblia que são úteis para compreender as condições da salvação são perfeitamente claras, e podem ser lidas por qualquer um. Ele, embora tenha sido conhecido por sua coragem em acatar todos os pontos difíceis da Bíblia, como a predestinação, ressaltou que não se deve insistir muito em elucidar o que Deus ocultou. Nas Institutas ele procurou ressaltar os pontos que julgou serem os principais para se compreender a Bíblia e a doutrina de Cristo.

3.3 - Um Exemplo de Abordagem Acadêmica do Tema por um Calvinista
3.3.1 - Visão geral do tema
Leia aqui, ou vá ao seguinte endereço: http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermA_02.pdf

3.3.2 - Questionamento do método Histórico-Crítico
Leia aqui, ou vá ao seguinte endereço: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_X__2005__1/augustus.pdf

4. CONCLUSÃO
A julgar pelos textos apresentados, tanto a corrente católica como a corrente protestante age com responsabilidade na interpretação da Bíblia. Nenhuma delas propõe a livre interpretação, embora até mesmo os mais renomados especialistas possam contradizer-se uns aos outros numa mesma corrente e, em especial, quando são de correntes diferentes.

Quanto ao livre exame protestante, o pressuposto é que a Bíblia, embora não seja clara em todos os pontos, é suficientemente clara nos aspectos essenciais à salvação, e pode ser lida por qualquer pessoa alfabetizada. Para isso, os protestantes estimularam, desde o início, a educação universal e de qualidade para todos. Algumas entre as universidades atualmente mais respeitadas, como Harvard, por exemplo, foram criadas por eles com a missão inicial de preparar bons teólogos.

Para exames críticos de posições que se dizem bíblicas, o leitor deve ser especialmente qualificado. No caso do protestantismo histórico, conforme compreendo, esse livre exame visa apenas a identificar erros grosseiros de interpretação perpetrados por falsos profetas e/ou analfabetos funcionais. Contudo, de acordo com a minha experiência, os livre-examinadores nem sempre têm o preparo adequado e, de fato, colocam-se como intérpretes desastrados da Bíblia.

Assim, penso com o meu presumido bom senso: - O leigo não deve ler a Bíblia para interpretá-la, mas apenas para retirar dela o alimento espiritual de que necessita. Ao ler textos que não consegue compreender, ele deve partir do consenso daqueles que estudaram o tema com afinco e foram considerados competentes para fazê-lo, desde que suas interpretações tenham resistido às mais competentes críticas. Para isso existem as Bíblias de Estudo.

Entretanto, mesmo o leigo pode capacitar-se de tal maneira que se veja na obrigação de discordar totalmente de alguma intepretação tida por correta. Neste caso, ele deve limitar-se a instruir-se, e não colocar-se como instrutor alheio. Se, por outro lado, dispõe-se a difundir sua própria interpretação, que antes se submeta ao debate acadêmico rigoroso. Para tal é preciso estudar filosofia para entender teologia, além de conhecer aramáico, grego, latim, entre outros temas. Se não tiver esses pre-requisisitos, que se cale quanto à discussão dos temas polêmicos que se arrastam pela história da Igreja.

Assim, nunca é demais lembrar Deuteronônio 29:29: "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei." Acatemos, ainda, a sabedoria expressa em 1 Coríntios, 13:12 "Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido."

Em síntese, é preciso ter coragem para dizer Eu Não Sei. A insistência em tentar conhecer o que está oculto na letra da Bíblia pode ser o caminho mais rápido para mergulharmos no abismo sem fundo do desastre espiritual. Necessitamos, pois, praticar o que nela está manifesto antes de desejar elucidar o que está oculto.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Natureza Humana

Uma reflexão para o estabelecimento de um Projeto Didático-Pedagógico Cristão

RESUMO
A presente reflexão refere-se ao conhecimento do homem e sua natureza como condição prévia para o estabelecimento de um programa de educação e treinamento. Parto de uma visão geral, passível de aplicação pela educação secular, mas termino a reflexão ressaltando a necessidade de que a educação secular seja complementada por uma educação genuinamente cristã para aqueles que se consideram seguidores do Evangelho de Jesus Cristo. Apresento ideias que, eventualmente, poderão ser peneiradas para extrair uma ou outra de valor, como acontece quando se faz um "brainwriting".

1 INTRODUÇÃO
O homem não nasce pronto. Ele nasce com um campo potencial de possibilidades que podem ou não ser realizadas de acordo com as condições de sua existência. Sua formação como homem, de acordo com a visão do seu grupo de referência, necessita, entre outras coisas, de educação e treinamento.

No caso do cristianismo, essa formação é dada pela igreja - instituição cristã - a que o indivíduo se associa, involutaria ou voluntariamente. Uma adesão involuntária ocorre por nascimento, quando os pais encaminham os filhos segundo sua tradição. Eventualmente o caminho inicialmente seguido é mudado por opção consciente, ou por invisível ação do Espírito.

Este texto situa-se como uma extensão natural de três textos anteriores que escrevi para autoesclarecimento: 1) Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental; 2) Deus, a Bíblia e Seus Intérpretes e 3) Os Sistemas de Doutrinas Cristãos e Suas Verdades. Além desses três textos mais estruturados, fiz algumas reflexões avulsas sobre temas que julguei relevantes.

Tenho a impressão de que o Evangelho simples foi tornado complexo até o limite de sua quase perda de credibilidade. Defendo a volta às raízes, porém sob uma forma de pensar que torne o Evangelho significativo para a mentalidade científica reinante, ou que deveria reinar, nessa era do conhecimento. Para isso, reflitamos sobre o homem e sua natureza, pois é preciso conhecer o homem como sujeito a ser formado e, ao mesmo tempo, como o objeto da educação.


2. O HOMEM E SUA NATUREZA

2.1 - O Problema Geral
A experiência cotidiana permite-nos observar, no ser humano, um conjunto de características cuja intensidade varia de indivíduo para indivíduo. Entre essas características poderíamos citar, num extremo, aquelas que levam ao aperfeiçoamento do caráter; num outro extremo, poderíamos listar várias características que são típicas do comportamento destrutivo. Qualidades antagônicas podem manifestar-se, ocasionalmente, numa mesma pessoa, o que levou certo sábio a dizer que “tudo que é humano não me é estranho”.

No dia-a-dia, muitas pessoas sacrificam-se na fogueira da vaidade em busca de dinheiro, fama e poder, enquanto outras, como verdadeiros santos, sacrificam-se pelo próximo. Guerras são travadas em nome de Deus, da libertação de classes sociais, e em nome da supremacia de raças, com o sacrifício de milhões de vidas. Por outro lado, a inabilidade para o convívio diário com o outro cria ambientes tensos que geram sofrimentos desnecessários durante o encontro humano em tempos de paz. Esse quadro não é mudado automaticamente pela educação formal, uma vez que entre as pessoas mais agressivas e egoístas existem muitos doutores, enquanto a sabedoria pode ser encontrada entre pessoas analfabetas.

Diante desse quadro, o homem reflexivo é atormentado por perguntas que têm permanecido sem respostas satisfatórias ao longo dos séculos. O que é o ser humano, afinal? O que lhe é inerente ao nascer e o que lhe é transmissível pela educação? A seguir serão apresentadas, de forma sintética, algumas entre as mais influentes visões sobre a natureza humana.


2.2 - O Homem Segundo a Tradição
O antropólogo Fernando Schwarz , chefe de Cátedra na Escola de Antropologia de Paris, fez extensas revisões da literatura a respeito do fenômeno humano no campo do Sagrado. Suas pesquisas evidenciaram que, da antiga China à Grécia, da Sibéria ao mundo cristão, dos Maias pré-colombianos ao Egito dos faraós, o denominador comum de todas as Tradições é uma constituição esotérica do homem, fundada numa estrutura ternária do Universo.

A criação estaria dividida em três esferas que se interpenetram: o mundo material simbolizado pela Terra, o mundo espiritual simbolizado pelo Céu e o mundo intermediário simbolizado pela atmosfera, reunindo os dois precedentes, no qual vive o homem. Segundo essa visão o homem seria um ‘microcosmos’ ou ‘pequeno universo’, possuindo em si a mesma estrutura organizada do Universo.

Platão, assumindo essa visão, assim descreveu, no Timeu, a criação da alma humana: “o demiurgo formou primeiro a alma imortal (nous), isto é, a inteligência; após o que, os deuses subalternos, enquanto encerravam essa primeira alma num corpo físico (soma), formaram a alma mortal (psyché), composta da coragem e do desejo. Assim, em nome de sua união com o corpo, a alma se torna sujeita à morte; somente é imortal a alma inteligente, que é a alma na integridade de sua natureza divina”.

A essas três partes do homem corresponderiam quatro virtudes: sabedoria, coragem, temperança e justiça, que são as mesmas no indivíduo e no Estado. A sabedoria é a virtude da alma inteligente (nous), enquanto possui o conhecimento que lhe permite exercer o comando; a coragem é a virtude da alma intermediária (psyché), enquanto obedece às ordens da inteligência. A psyché deve ter uma segunda virtude: a temperança, que lhe permite dominar sua parte concupiscente. Já a justiça, tanto no indivíduo como no Estado, manifesta-se quando as diversas partes estão em acordo entre si, cada uma executando sua função própria, sendo esta o equivalente à saúde para o corpo (soma).

A partir da estruturação anterior, Platão imaginava que a educação, visando a um estado de harmonia e felicidade, deveria incluir a ginástica, a música e a filosofia, em relação, respectivamente, com os mundos físico, psicológico e espiritual. Platão tinha um enfoque teocentrista, ao contrário do enfoque antropocentrista do seu discípulo Aristóteles. Sua visão teocentrista admitia, porém, que o “o homem é um deus, mas disto já se esqueceu”.

A partir da aceitação de uma estrutura ternária do Universo e do homem, certas Escolas de Sabedoria do Oriente e do Ocidente desenvolveram vias de ação mais detalhadas a fim de compreender o fenômeno humano; assim, pode-se encontrar a estrutura ternária desdobrada em 5, 7 ou 9 elementos.

A Tradição judia reconhecia a estrutura ternária, com a alma vivente sendo resultante da união do corpo com a inspiração do Espírito. O Maia, como o Budista, reconhecia cinco elementos constitutivos do homem. A Índia e o Egito, sociedades tradicionais por excelência, referiam-se a uma chave setenária. A Grécia de Platão concebia uma estrutura ternária, reflexo direto da estrutura do Universo: soma ou parte física, psyché ou parte psicológica ligada à alma (psyché = alma) e nous, a parte espiritual do homem. O cristianismo retomou a visão ternária usando a nomenclatura espírito, alma e corpo, que São João inscreveu no seu Evangelho na forma de verbum (mundo espiritual), lux (luz, estado físico) e vita (mundo corporal).

Na visão cristã, o homem é um ser criado à imagem e semelhança de Deus, tendo usado o seu livre arbítrio para corromper-se e afastar-se do seu estado de perfeição. Sua redenção poderia ser conseguida unicamente pela fé, mediante a graça salvadora do filho de Deus seu criador. A ética cristã valoriza a pobreza voluntária e o desapego à riqueza, que não é incompatível com a riqueza material lícita, ou seja, aquela que não se apodera do homem e nem o faça esquecer a sua realidade de membro de uma comunidade fraterna, submetida à lei do amor.

Na visão budista, o homem seria naturalmente imperfeito, porém, perfectível a partir do esforço para compreender e viver segundo as quatro nobres verdades: i) a insatisfação faz parte da realidade humana; ii) os anseios e os desejos são a fonte da insatisfação; iii) a extinção do desejo leva à extinção do sofrimento e iv) somente o caminho intermediário, ou moderação, pode eliminar os desejos e a insatisfação. Na perspectiva budista, enquanto não atingir a perfeição, o ser humano participaria de um ciclo de encarnação/desencarnação, para redimir-se de suas faltas passadas. A solução final estaria na busca do aperfeiçoamento contínuo da personalidade e de tudo que esteja ao alcance da ação humana.

Em oposição à visão da Tradição, geralmente criacionista, os evolucionistas vêm no ser humano apenas um dos produtos da natureza. Sua evolução teria acontecido nos planos biológico e cultural, com o primeiro plano tendo realizado praticamente todo o seu potencial. Na atualidade, a evolução humana dar-se-ia principalmente no plano cultural, com uma grande expectativa quanto à possibilidade de recriação humana pela manipulação genética. Maturana e Varela, abordando o homem a partir de uma visão sistêmica da biologia, enfatizam que a construção do ser humano em sociedade dá-se pelo compartilhamento de linguagem e emoção, ressaltando a importância do amor como elemento fundamental para se estabelecerem comunidades autopoiéticas, isto é, que se autoconstróem.


2.3 - Abordagem Marxista versus Freudiana
Vázquez afirma que: “Para Marx, o homem real é uma unidade indissolúvel, um ser espiritual e sensível, natural e propriamente humano, teórico e prático, objetivo e subjetivo. O homem é, antes de tudo, praxis: isto é, define-se como um ser produtor, transformador, criador; mediante o seu trabalho, transforma a natureza externa, nela se plasma e, ao mesmo tempo, cria um mundo à sua medida, isto é, à medida de sua natureza humana. (...). Ele seria, ainda, um ser social e histórico.”

Como ser social e histórico, o homem não teria uma natureza intrínseca, boa ou má, mas seria um produto do sistema social, embora esteja ao seu alcance reconstruir esse sistema. A propriedade privada dos meios de produção seria o principal empecilho à realização da essência humana, levando à escravização de toda a classe trabalhadora, ainda que sob aparência de liberdade. Marx e Engels concluíram que a história segue uma lei inexorável em direção a uma sociedade verdadeiramente humana, sem explorados e exploradores, que atingiria o seu clímax no comunismo. Nesse sistema, cujo advento poderia ser acelerado pelo socialismo científico – tese que não se confirmou nos experimentos até então realizados -, o homem superaria o reino da necessidade e manifestaria sua verdadeira essência de solidariedade e liberdade criadora.

A psicologia sócio-histórica, criada por Vygostky, assim expressa a sua visão do desenvolvimento humano: “a cultura e a tecnologia fortalecem teleologica e causalmente a consciência. Assim sendo, a consciência incorpora o caráter de suas mediações culturais e tecnológicas formativas, e sua forma, conteúdo e nível de desenvolvimento refletem as mediações culturais e tecnológicas. Essa consciência social medeia o impacto dos estímulos. As emoções, as sensações, as necessidades, a percepção e a recordação são partes integrantes da consciência social e estão impregnados de seu caráter social consciente. Finalmente, os indivíduos atuam sobre o mundo do estímulo pela intermediação da tecnologia e das instituições sociais.” Na opinião do biólogo Schneirla , adepto da psicologia sócio-histórica “é válido falar de uma ‘natureza do verme’, de uma ‘natureza da formiga’ ou, até mesmo, de uma ‘natureza do pássaro’, mas não de uma ‘natureza humana’, porque o homem pode ter toda e qualquer natureza que permitam as condições de sua criação e de sua situação social”.

Contrapondo-se à visão marxista, embora sem a intenção de combate político, Freud, criador da psicanálise, interpretou o homem a partir do seu aparelho psíquico, tentando esclarecer sua natureza fundamental, herdada e adquirida. Ele alertou que o seu modelo era imperfeito, apesar de útil, devendo ser modificado quando se conhecesse o suficiente sobre biologia. Alertou, ainda, para o fato de sua análise referir-se ao indivíduo na sociedade, e não como ser existente por si mesmo. Sua psicologia seria, portanto, também uma sociologia. Seu mapa da alma destaca três reinos: superego, ego e id, englobando cinco campos.

O superego eqüivale ao educador introjetado. Identifica-se com a sociedade normativa. O ego consciente está a serviço da percepção e da ação, em relação direta com o mundo externo. O pré-consciente é a outra parte do ego, contendo as informações inconscientes não reprimidas, e o campo neutral-vital, representando as necessidades vitais fisiologicamente determinadas. Estas, em última análise, representariam o principal impulso para a ação, no homem e nos animais.

Para Freud, os interesses individuais estão, quase sempre, em colisão com os interesses da civilização. Desta forma, toda evolução da civilização implicaria a imposição de restrições a que o indivíduo obtenha a plenitude do prazer instintual egoísta. Essa repressão, por outro lado, levaria o indivíduo a um estado de neurose que, no limite, se transformaria em doença permanente. As formas de educar para a civilização decorreriam da combinação entre: coerção, liderança pelo exemplo, trabalho, arte, esportes e conhecimento. Embora ateu, ele ainda destacou o grande papel da religião para a civilização.

Tendo em vista as conclusões a que chegou sobre o fenômeno humano, Freud manifestou total descrença no futuro do marxismo, atribuindo-lhe o status de uma “insustentável ilusão”, por basear-se, segundo ele, numa teoria errônea sobre a natureza humana. Para ele, os impulsos biológicos contraditórios que movem o homem não seriam eliminados junto com a extinção da propriedade privada, embora a eliminação da desigualdade econômica pudesse suprimir uma das principais causas de injustiça. Por outro lado, os marxistas caracterizaram a psicanálise como “psicologia do homem ocioso”, pois ela teria esquecido que os homens se definem pelo seu trabalho, por sua relação com o mundo objetivo .

Embora Marx e Freud pareçam irreconciliáveis, com o primeiro justificando o socialismo e o segundo sendo evocado para justificar o capitalismo como adequado à natureza humana, Fromm procurou demonstrar que o terreno comum entre os dois foi o esforço para romper as cadeias da ilusão e dar ao homem uma visão da realidade, usando para isso três elementos principais: a dúvida, o poder da verdade e o humanismo. Fromm ilustra a semelhança entre o núcleo central das idéias de Marx e Freud por meio de algumas citações dos mesmos.

De Marx ele destaca: “As exigências de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar a uma condição que necessita de ilusões.” “A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as cadeias, não para que o homem use as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, mas para que se liberte das cadeias e apanhe a flor viva.”

Quanto a Freud, Fromm destacou: “Os homens não podem continuar sendo sempre crianças; devem, por fim, enfrentar a vida hostil. A isso podemos chamar de educação para a realidade.” “Não, nossa ciência não é uma ilusão. Mas seria ilusão, isso sim, supor que possamos encontrar noutra parte aquilo que a ciência não nos pode dar.” “Onde houver Id, haverá Ego.”

Fromm defendeu que, para compreender o homem, é preciso partir de suas necessidades, conforme resultam das condições de sua existência. Ele afirmou, com base em ampla experiência clínica e estudos, que o homem se defronta com algumas opções de cujo equilíbrio depende a sua saúde mental: a) relacionar-se com o outro ou cultivar o narcisismo; b) evoluir pela liberação de suas tendências criadoras ou involuir pela vazão de suas tendências destrutivas; c) assumir a fraternidade ou praticar o incesto; d) optar pela individualidade ou pela conformidade gregária; e) submeter-se à razão ou agir de forma irracional. A saúde mental, em suma, dependeria das condições de existência, e o conceito seria o mesmo para os homens de todas as épocas: “A saúde mental se caracteriza pela capacidade de amar e criar, pela libertação dos vínculos incestuosos com o clã e o solo, por uma sensação de identidade baseada no sentimento de si mesmo como o sujeito e o agente das capacidades próprias, pela captação da realidade interior e exterior, isto é, pelo desenvolvimento da objetividade e da razão.”


2.4 - A Síntese de Maslow
Entre as principais teorias da personalidade, selecionadas por Fadiman e Frager , será destacada a tentativa de síntese realizada pelo psicólogo humanista Abraham Maslow, por sua grande influência no ocidente e no Japão do pós-Guerra. Sua postura otimista pode ser resumida em suas próprias palavras: “Para simplificar a questão, é como se Freud nos tivesse fornecido a metade doente da Psicologia e nós devêssemos preencher a outra metade sadia.”

Maslow pesquisou alguns modelos de seres humanos sadios que poderiam ser tomados como exemplos do que, potencialmente, os homens poderiam se tornar. As pessoas que escolheu para estudar estavam relativamente livres de neuroses ou de problemas pessoais maiores, usavam da melhor maneira possível os seus talentos, capacidades e outras forças. Ele as chamou de “autoatualizadoras”, significando que elas estavam em permanente processo de crescimento, fazendo realizar os seus potenciais.

Ele enumerou as seguintes características dessas pessoas:

• Percepção mais eficiente da realidade e relações mais satisfatórias com ela;
• Aceitação (de si, dos outros e da natureza);
• Espontaneidade, simplicidade e naturalidade;
• Concentração no problema, em oposição ao estar concentrado no ego;
• Desprendimento e necessidade de privacidade;
• Autonomia em relação à cultura e ao meio ambiente;
• Pureza permanente de apreciação;
• Experiências místicas e culminantes;
• Sentimento de parentesco com outros;
• Relações pessoais mais profundas e intensas;
• Caráter democrático;
• Discriminação entre os meio e os fins, entre o bem e o mal;
• Senso de humor filosófico e não hostil;
• Criatividade autoatualizadora;
• Resistência à aculturação: a transcendência de qualquer cultura específica.

Não se pode perder de vista que o próprio Maslow concluiu que não existem mais do que 2% de pessoas autoatualizadoras. Quando tentou aplicar suas idéias à administração da fábrica de um parente, descobriu a diferença entre teoria e prática, tendo concluído que o desenvolvimento de altas expectativas quanto às pessoas chega a ser cruel para com aquelas que não podem corresponder à altura. Em verdade, a única maneira racional e justa de lidar com as pessoas seria permitir que os seus potenciais sejam atualizados de forma a fluir, sem ansiedade ou tédio, de acordo com as provas científicas mais recentes obtidas por Csikszentmihalyi .

Uma das mais citadas contribuições de Maslow é a sua hierarquia das necessidades humanas. Para ele a neurose e o desajustamento psicológico são “doenças de carência’, isto é, causadas pela privação de necessidades básicas. As necessidades por ele enumeradas manifestam-se simultaneamente nas pessoas, porém, com intensidades diferentes, exigindo satisfação de acordo com a demanda. Sua hierarquia de necessidades é a seguinte:

• Necessidades fisiológicas (fome, sono, etc.);
• Necessidades de segurança (estabilidade, ordem);
• Necessidades sociais (família, amizade);
• Necessidades de estima (auto-respeito, aprovação);
• Necessidades de autoatualização (desenvolvimento de capacidades).

Maslow chamou a atenção para o fato de que quando um organismo, animal ou humano, não está com fome, dor ou medo, novas motivações emergem, tais como a curiosidade e a alegria. Sob essas condições o organismo superaria a motivação de deficiência, orientada para fugir do sofrimento, e entraria num estado de motivação do ser.

Os seres humanos entram em atividade para satisfazer suas necessidades. Para obter a sua cooperação é preciso dar-lhes a esperança, alimentada por fatos e dados concretos, de que o esforço inteligente é a única forma de satisfazer tais necessidades, no presente e no futuro. As organizações mais avançadas, por exemplo, não se contentam em satisfazer as necessidades materiais e sociais dos seus colaboradores, acenando para a realização de uma missão nobre, de valor para a nação e para a humanidade. Veja-se, por exemplo, ainda que pareça falso, a declararão da missão da empresa HP: “Inovar para o bem da humanidade”. Veja-se, também, o ponto de vista do empresário Matsushita, mais adiante.

Pesquisando o que havia em comum sobre os motivos que levam os homens à ação entre vários autores da mesma linha de Maslow, a que deu o nome de psicologia perceptiva, Saint-Arnaud identificou três níveis de necessidades que geram os comportamentos humanos: as necessidades fundamentais, as necessidades estruturantes e as necessidades situacionais. A necessidade fundamental seria um elemento de atualização que manifesta uma exigência inata do organismo, exigência que não pode deixar de ser satisfeita sem graves conseqüências para o desenvolvimento do organismo. São elas: as necessidades físicas (ou biológicas), incluindo comer, dormir etc. e as necessidades psicológicas: amar e ser amado, produzir e compreender. A necessidade estruturante seria um aspecto da estrutura motivacional de natureza sócio-cultural, como os hábitos de vida que são desenvolvidos em função da tradição: três refeições, oito horas de trabalho, religião, ciência, leitura etc.. A necessidade situacional permite expressar as necessidades fundamental e estruturante num dado momento qualquer: estou com fome, estou com sono, vou rezar, quero conversar com Sílvia etc.. O desenvolvimento humano sadio ocorreria, assim, quando o ambiente fornecer os ingredientes de que o organismo necessita para desenvolver-se normalmente, tendo em vista a satisfação de suas necessidades.

À psicologia humanista, da qual Maslow foi o principal expoente, contrapôs-se a psicologia comportamentalista de Skinner . Enquanto os humanistas acreditavam numa motivação intrínseca, como o trabalho por amor ao trabalho, em ambiente sadio, Skinner tomou como hipótese forte o condicionamento operante, isto é, a reação a estímulos associados a recompensa ou punição. Enquanto a visão humanista parece mais nobre, sendo evocada sem receios, a visão de Skinner, embora nem sempre explicitada, e nem sempre julgada à altura da dignidade humana, incorporou-se ao dia-a-dia da educação e das organizações humanas em geral. Recompensar os bons resultados e, com alguma concessão, deixar de punir os maus resultados, tem sido a prática corrente no trato com as pessoas visando à sua capacitação e realização dos seus potenciais.


2.5 - O Ponto de Vista de um Empresário-Filósofo
Os empresários, como quaisquer outros seres humanos, não estão obrigados a agir somente por motivos egoístas, embora geralmente sejam acusados de fazê-lo. Platão, por exemplo, julgou que as pessoas ambiciosas tinham na indústria e no comércio a sua atividade natural. Smith , considerado um dos pais da economia, disse, de certos empresários, que eles constituem “uma classe de homens cujo interesse nunca é igual ao do público, que têm em geral o interesse de enganar e até oprimir o público, e que, por isso, em muitas ocasiões, têm efetivamente enganado e oprimido o público.”

Konosuke Matsushita, empresário-filósofo japonês, representou uma exceção explícita a esse julgamento depreciativo, tendo dedicado parte de sua vida à reflexão sobre a natureza humana. Após entrar em contato com a literatura sobre o tema, de caráter geralmente pessimista, ele concluiu que sua experiência colocava por terra todas as premissas negativas sobre o ser humano. Argumentou que o ser humano foi capaz, ao longo da história, de inventar coisas maravilhosas para melhorar a vida na Terra. Ponderou que o progresso da civilização só foi possível graças à cooperação e ao trabalho incansável de muitas pessoas que, em alguns casos, nem mesmo chegaram a usufruir dos benefícios do seu trabalho. Como poderiam essas pessoas ser classificadas como más?

A experiência de Matsushita foi notável, principalmente por ter demonstrado que homens simples, sem instrução, quando incentivados, desafiados e apoiados, podem realizar feitos surpreendentes. Ele conseguiu que muitos dos seus empregados, simples agricultores analfabetos, se tornassem inventores, espelhando-se no autodidata americano Thomas Edison.

Seu segredo, segundo ele próprio, foi criar uma missão nobre e compartilhá-la com os seus colaboradores. Ele argumentou que não se deve esperar empenho de alguém que não vê benefício para sua família, sua pátria e a humanidade, ao mesmo tempo que o seu trabalho enriquece a família dos outros. Tendo em vista essa descoberta ele explicitou, após muita reflexão, os princípios fundamentais que herdara de sua educação e que aplicara, intuitivamente, no trato com os seus colaboradores. Alertou que seus princípios foram, primeiramente, praticados e, só depois, registrados em documentos.

Os princípios adotados por Matsushita foram:

1. Serviço ao Público;
2. Justiça e Honestidade;
3. Trabalho em Equipe para uma Causa Comum;
4. Incansável Esforço de Melhoria;
5. Cortesia e Humildade;
6. Harmonia com as Leis Naturais;
7. Gratidão pelas Bençãos.

Ressalte-se que se tornou moda expressar a filosofia das organizações humanas destacando-se sua visão de futuro, sua missão e seus valores. Entretanto, raramente se tomam os cuidados tomados por Matsushita, que expressou aquilo que, segundo ele próprio, constituía a sua prática, e não a simples colocação no papel de ideais pomposos. A questão dos valores, portanto, torna-se central para a compreensão do homem em sociedade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A observação do comportamento humano no dia-a-dia, as lições da História, os insights dos grandes escritores, bem como a leitura de textos especializados evidenciam que o ser humano tem, em potencial, a virtude e o vício dentro de si. A prova de um desenvolvimento humano bem-sucedido está na capacidade de se fazer prevalecer a virtude sobre o vício, o que exige a construção de ambientes sociais propícios, ainda que não se possa garantir resultados sempre positivos no desenvolvimento de pessoas sadias a partir de ambientes sadios.

As qualidades humanas, inatas ou adquiridas, compõem um espectro de ampla variação. Embora a satisfação de necessidades básicas se imponham como condição da existência humana, em muitos casos predominam desejos que, se satisfeitos sem controle, constituem riscos para a sociedade como um todo.

A civilização, que representa o rompimento com a obediência cega aos impulsos naturais, só é possível mediante a educação que leve ao autodomínio, para que cada membro da coletividade faça distinções claras entre necessidades e desejos, nos planos individual e social. O posicionamento pessoal que liberta, a longo prazo, só pode ser baseado em conhecimento vivido, intelectual e experimentalmente, pelo indivíduo no contexto da sociedade.

As diferentes teorias sobre a natureza humana ainda não deram conta de solucionar o problema do desenvolvimento humano sadio; entretanto, os sintomas de saúde mental deficiente da civilização tornam-se gritantes, exigindo ações baseadas em solidariedade e conhecimento. Não há, portanto, que esperar a emergência de teorias corretas para agir. É preciso mobilizar o potencial humano para, a partir das condições imperfeitas do presente, construir a sociedade do futuro, com base no diálogo permanente. Para isso é preciso promover o desenvolvimento humano levando-se em consideração que há um tênue limite entre as suas necessidades e os seus desejos. Tendo em vista a sua complexidade, melhor seria considerar o homem como um ser bio-psico-socio-espiritual.

Concluindo esta reflexão, sob a perspectiva de um cristiansimo crítico e prático, e não importando se a visão cristã correta é dicotômica - aquela que diz que o homem tem apenas corpo e alma -, ou tricotômica - aquela que diz que o homem tem corpo, alma espirito -, é preciso reconhecer que ele é, antes de tudo, criado à imagem e semelhança de Deus. O homem caiu de sua grandeza, e só pode ser reconciliado com Deus por meio de Jesus Cristo como mediador. Ele precisa ser educado e treinado para adquirir as qualidades de Cristo, porém ressaltando que nem todos, uma vez submetidos a tal educação, responderão positivamente a ela, uma vez que nem todos foram eleitos para serem salvos por Jesus Cristo.

Assim, a educação secular saudável é compatível, em seus fundamentos universais, com uma educação cristã, e deve ser oferecida a todos. Mas, para os cristãos, a educação cristã precisa sobrepor-se à educação secular. E isso só pode ser feito por instituições e igrejas cristãs, sejam elas católicas romanas, reformadas, ou independentes. Uma proposta de um Projeto Pedagógico cristão básico será feito na próxima reflexão.


4. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ESTA REFLEXÃO
SCHWARZ, Fernando. A Tradição e as Vias do Conhecimento Ontem e Hoje. Nova Acrópole, 1993.
WILSON, Edward 0. On Human Nature. Harvard University Press, 1994.
MATURANA R. , Humberto & VARELA G. , Francisco. A Árvore do Conhecimento. Editorial Psi.
VÁZQUEZ, A Sanches. Ética. Civilização Brasileira, 1996.
ENGELS, Friedrich. Socialism: Utopian and Scientific. In: Mars & Engels: Basic Writings on Politics and Philosophy. Lewis S. Feuer (Editor). Ancor Books, 1989.
RATNER, Carl. A Sociologia Sócio-Histórica de Vygostky.
VAN DEN BERG, J. H. Psicologia Profunda. Mestre Jou, 1980.
FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. In: Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. Imago.
FREUD, Sigmund. O Futuro de uma Ilusão. In: Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. Imago.
FOULQUIÉ, P. A Psicologia Contemporânea. Nacional, 1955.
FROMM, Erich. Meu Encontro com Marx e Freud. Guanabara, 1986.
FROMM, Erich. Psicanálise da Sociedade Contemporânea. Zahar, 1961.
FADIMAN, James & FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. Harper & How do Brasil, 1979.
CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. A Psicologia da Felicidade. Saraiva, 1992.
SAINT-ARNAUD, Ives. A Pessoa Humana. Edições Loyola, 1984.
SKINNER, Burrhus Frederic. O Mito da Liberdade. Summus, 1983.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Ediouro.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Para pensar!

Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. Tito 3:9

Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem. Tiago 2:19

(...), e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. 1 Coríntios 13:2

A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. Tiago 1:27

Marcos 12:29-31:
"E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.

Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes."

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O cristão e o amor ao dinheiro

O dinheiro é necessário até mesmo para o cristão mais despojado. Porém, o amor ao dinheiro degrada o ser humano e, muito particularmente, é um veneno para o cristão.

O assunto precisa ser discutido criticamente para: 1. elucidar a legitimidade das exigências que são feitas às ovelhas; 2. elucidar quando se estabelece o negócio religioso, com compradores e vendedores de benefícios divinos; 3. elucidar a necessidade de a ovelha contribuir para as despesas da igreja; 4. demonstrar a necessidade de a ovelha ficar livre do amor ao dinheiro.

A Posição de Jesus
Ele tinha o apoio de alguns seguidores para satisfazer suas necessidades materiais, mas não exigiu que eles lhe pagassem uma taxa fixa dos seus rendimentos.

Ele valorizou a viúva pobre que deu a única moeda que tinha como oferta ao Senhor, esta recebida pelos sacerdotes do Templo.

Ele questionou os que davam o dízimo de tudo, mas não tinham misericórdia.

Enfim, Ele não era contra o dízimo, mas deixou claro que só o dízimo não é suficiente. Contudo, embora ele não tenha colocado o dízimo como um dos fundamentos de Sua Igreja, ficou implícito que os Seus seguidores, na medida de suas posses, deveriam prover os recursos necessários para sustentar a Igreja.

Sua maior demonstração do perigo do amor ao dinheiro ocorreu quando contou a parábola do jovem rico. O conselho - possivelmente pedagógico - que deu ao jovem para que completasse a sua perfeição, é que vendesse tudo que tinha e desse o dinheiro resultante aos pobres. Não ordenou que Lhe entregasse o dinheiro, nem aos sacerdotes.

A Posição do Apóstolo Paulo
Paulo, embora deixasse claro que tinha direito de ser custeado pelos seus filhos espirituais, preferiu ganhar o seu pão com o suor do próprio rosto. Contudo, pediu que se fizessem coletas para os pobres da igreja. A contribuição deveria ser voluntária, pois entrara em vigência a época da graça e do amor.

A Posição da Comunidade Cristã em Atos dos Apóstolos
Os cristãos decidiram, voluntariamente, partilhar seus bens. Contudo, quando Ananias mentiu, entregando menos do que apurou na venda de suas propriedades, foi punido com a morte. Ele poderia ter feito a opção de não dar nada, mas não poderia ter mentido. Ao mentir, demonstrou amor ao dinheiro e falta de integridade, e isso lhe foi fatal.

Os Falsos Profetas e o Amor ao Dinheiro
Jesus denunciou aqueles que faziam longas orações nas casas das viúvas para extrair-lhes vantagens, possivelmente, comes e bebes. Esse tipo pensava mais na satisfação do próprio estômago.

Hoje, há empreendedores religiosos que mais parecem negociantes da fé. Eles colocam os dízimos e ofertas em primeiro lugar, e elegem a si mesmos como sacerdotes e tesoureiros de Deus. A isso costumam acrescentar sacrifícios ousados para desafiar Deus a dar um grande retorno financeiro aos investidores. Alguns chegam a dizer que a Bíblia fala mais em dinheiro do que em salvação, justificando seus comportamentos ousados. Outros dizem ser canalizadores de milagres como contrapartida aos dízimos e ofertas.

Está em jogo o quanto se tem amor ao dinheiro e ao reconhecimento humano. É errado dar dízimos e ofertas esperando retorno, seja o Céu, sejam honras. É errado induzir ovelhas inocentes a pensar que podem comprar o Céu com sacrifícios financeiros. É errado, por outro lado, buscar benefícios na Igreja sem contribuir para a sua existência.

A Liberdade Frente ao Dinheiro
O cristão não pode servir a Deus e ao dinheiro. O trabalhador do Reino, embora mereça o seu salário, precisa tomar cuidado para não tornar-se um mero profissional assalariado. Muito menos é razoável que fique rico nesse serviço. O apóstolo Paulo é o modelo para a liberdade do trabalhador frente ao dinheiro das ovelhas.

Já as ovelhas podem demonstrar sua liberdade colocando, sem segundas intenções, o seu dinheiro à disposição dos trabalhadores sérios. Na minha opinião, a instituição Igreja pode, inclusive, fixar um percentual de contribuição para os seus membros, desde que isso não crie a impossibilidade de que alguns se tornem membros por falta de capacidade financeira. Porém, é preciso dar a justificativa correta para tal. A pior justificativa é aquela que busca na Bíblia jurisprudência para a legalidade de algo que pode ter interpretações diferentes a partir de intérpretes igualmente treinados.

Os que são apegados ao dinheiro poderiam, por exemplo, fazer o exercício do desapego, inicialmente seguindo a lei antiga dos 10%. Tão logo se desapegassem, poderiam doar de acordo com suas possibilidades e de acordo com as necessidades da obra, sem limites. É necessário que a consciência do doador esteja limpa e isenta de culpas e expectativas de retorno. Enfim, é preciso não cometer o pecado de tentar negociar com Deus.

Concluindo
Aqui na Terra, o trigo e o joio estão misturados. Há aqueles que agem como usurpadores, exigindo retorno em dinheiro e em reconhecimento desproporcionais à sua contribuição. Há os que são meros negociantes da fé. Há os que são mal preparados para lidar com o dinheiro. E há, evidentemente, trabalhadores sérios que necessitam de apoio financeiro para dedicarem-se integralmente à sua vocação.

É preciso, pois, aprender a lidar com o dinheiro de forma responsável, "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores (Timóteo 6:10)".

sábado, 25 de setembro de 2010

Eu não sei

As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei. (Deuteronômio 29:29)

Deus revelou-se ao homem de várias formas: 1) via natureza; 2) via livros sagrados; 3) via razão.

Deu ao homem a fé para buscá-Lo, e a razão como instrumento dessa busca. Ao encontrá-Lo, a fé e o conhecimento se unificam.

Entretanto, o homem, ao pesquisar, não se contenta com a verdade revelada confirmada por sua razão espiritual. Ele quer ir muito além e, por orgulho, alega saber o que não sabe.

Ao afirmar saber o que não sabe, ele se desmoraliza e desmoraliza o sistema sob o qual emite seu ponto de visto, seja a religião, a filosofia ou a ciência.

Eu não sei. Eis a primeira regra de quem busca o conhecimento. Mas, o que sei, pratico-o. Eis a primeira regra do religioso cristão. Mas, quando souber, aceitarei a verdade. Eis a primeira regra de quem se diz amigo do conhecimento e da sabedoria.

Eu não sei. Mas parto do axioma que se instalou em meu coração e em minha mente. Este é o ponto de partida de qualquer buscador da verdade, em qualquer área da atividade humana.

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8:32)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sobre o amor ( 1 Coríntios 13:1-13)

1 Coríntios 13

1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.

5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;

6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

8 O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;

9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;

10 Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.

11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

12 Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cristo: o guerreiro manso e suave

O Senhor dos Exércitos é o maior dos guerreiros. Não há força nem inteligência capaz de vencê-Lo. Ele fustiga os adversários impenitentes, e os faz prostrar a Seus pés. Ele os transforma em pó.

Entretanto, o jugo de Cristo é manso e suave para aqueles que se submetem a Ele. O sofredor que implora misericórdia, o amante que anseia por Ele e o amigo da sabedoria que O busca, para esses o Seu fardo é leve.

Não adianta desafiar a Cristo. Há que se submeter ou perecer sob o Seu poder absoluto. Então, ao invés de desafiá-Lo, é melhor entregar-se a Ele como uma criança que precisa de cuidados.

sábado, 4 de setembro de 2010

Como Cristo veria o capitalismo e o comunismo?

As palavras nem sempre representam as coisas que são evocadas para representar. Mas, não há como se comunicar sem elas. Ás vezes elas são usadas para enganar, e às vezes para libertar. Entre essas palavras estão o capitalismo e o comunismo.

Ouvi um sermão no qual o pastor brilhou em sua capacidade retórica ao referir-se aos dois sistemas. Ele afirmou que o capitalismo é o regime no qual o homem à direita explora o homem à sua esquerda. Já no comunismo, afirmou o pastor, ocorre exatamente o contrário. Nenhum dos dois sistemas presta, mas o ser humano teve de viver experiências com os dois. Assim, ele tem elementos para não se deixar escravizar mais por nenhum dos dois, desde que entenda e pratique o Evangelho.

Sob a perspectiva de Cristo, como eu posso avaliá-la, ele defenderia a liberdade do indivíduo e, ao mesmo tempo, sua posição de servo da sociedade. Ele endossaria o paradoxo: "O cristão é livre e não deve satisfação a ninguém. O cristão é servo de todos e a todos deve satisfação." Com isso Ele estaria defendendo ideias que estão tanto no capitalismo como no comunismo e, ao mesmo tempo, combatendo os dois sistemas. E disso depende a liberdade do cristão.

Na sua acepção mais próxima da literal, o capitalismo é, por definição, materialista e ateu. Ele, nessa perspectiva, é a religião de mamom, que Cristo condenou. Ele estimula que o homem idolatre o fruto do seu trabalho e que, ao mesmo tempo, sofra de necessidades que poderiam ser satisfeitas pelos bens e serviços já produzidos pelo trabalho. Na sua versão animal o capitalismo estimula o consumismo, o endeusamento do ego e destruição a Terra sem dar esperança quanto ao Céu.

Igualmente, o comunismo seria automaticamente condenado por Cristo. O ateísmo, afirmou Marx, é a primeira condição para o comunismo. A religião, disse Marx - e nisso talvez ele tivesse razão - é o ópio do povo. O comunismo seria, assim como o capitalismo, o sistema doutrinário do próprio diabo.

Foram os cristãos que, com sua parcimônia, trabalho duro e ética da responsabilidade, viveram segundo os princípios que permitiram a acumulação de capital. Igualmente, foram os cristãos que primeiro partilharam os seus bens de forma que cada um contribuísse segundo suas possibilidades e usufruisse dos recursos em comum segundo suas reais necessidades.

Embora capitalismo e comunismo tenham sido experimentados em sua forma extrema, isso praticamente não existe mais. O mundo conquistou a democracia como um valor universal. Nela, oscila-se em torno da social-democracia, à esquerda e à direita. Mas, para manter essa condição propiciada pela democracia, há que ficar atento, pois o preço da democracia é a eterna vigilância. Desque que não se imponha mais o ateísmo e a supressão da religião, o cristão pode viver muito bem nesse sistema.

Conforme ressaltou Popper no seu livro A Sociedade Aberta e seus Inimigos, o que está em jogo, realmente, é uma luta entre a sociedade aberta e a sociedade com direção central autoritária. No momento a sociedade aberta está vencendo a luta. E nela os cristãos podem sentir-se á vontade, embora devam pagar o preço de responder por sua liberdade.

Um cristão pode ser favorável tanto à sociedade aberta quanto à sociedade dirigida por autoridade central autoritária. Mas só enquanto ainda não atinge sua maturidade em Cristo. E disso depende a sua liberdade individual em qualquer sistema político/econômico.

Dentro desse campo de liberdade conquistado por duras lutas, o cristão tem o grande desafio de viver o Evangelho em meio à tentação do capitalismo e do comunismo latentes. Isto é, o diabo o tenta à esquerda e à direita, e também no centro. A luta real, porém, está no interior de cada homem. E ela só pode ser vencida quando se ancora em Cristo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A hipocrisia indesculpável

Todos nós somos hipócritas de alguma maneira, e em algum grau. Isso até faz parte dos chamados "bons costumes" com o nome de polidez. Régine Dhoquois escreveu um livro com o título "Polidez: a virtude das aparências", no qual apresentou o Japão e a Inglaterra como países que transformaram esse vício em virtude social.

Mas, uma coisa é ser polido, ainda que isso seja mera hipocrisia. Outra coisa é empenhar-se numa causa com total hipocrisia, tornando-a fonte de lucro e de reconhecimento público indevido. Ainda mais quando se lança mão das mais avançadas tecnologias de domínio da mente humana, escravizando-a com o seu consentimento. E isso em nome de Deus.

Jesus, em Marcos 7:6, afirmou sobre o hipócrita: "E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim."

Em Mateus 23 Jesus listou várias situações em que os hipócritas estão envolvidos, para a sua perdição. Ressalte-se, em particular, Mateus 23:13: "Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando."

Pode-se ver, hoje, muitas das hipocrisias condenadas por Jesus à época, e algumas novas, entre as quais:

posicionar-se, dentro da Igreja, nos lugares visíveis ao público, sem qualquer outra função senão a de mostrar-se;
fazer orações públicas que mais parecem discursos, para as quais são escolhidos a dedo aqueles que têm uma retórica mais refinada e um melhor domínio do vernáculo, o que inibe os demais;
alegar domínio sobre os temas mais difíceis da Bíblia, quando os maiores teólogos do mundo, no passado e no presente, terminaram suas vidas pedindo desculpas por terem usado mais palavras do que as necessárias para falar do que nunca conseguiram entender;
usar a neurolinguística para dominar corações e mentes carentes, hipnotizando as ovelhas e tornando-as membros de rebanhos passivos e passíveis de extorsão justificada em nome de Deus.

O maior de todos os pecados ocorre quando o líder evoca falar em nome de Deus, reivindicando subserviência em função de sua função especial. Alguns se declaram Ministros, outros Apóstolos, outros Bispos. Sua vontade torna-se a vontade do próprio Deus, que afirmam representar sem jamais tê-lo conhecido além de suas leituras da Bíblia. Mas, é ainda mais grave quando tiram sua autoridade por alegarem tê-Lo conhecido pessoalmente em encontros místicos.

Há um tipo de hipocrisia que torna a religião um mero negócio: a de exigir dízimos e ofertas acima de tudo o mais. Consolida-se, por essa via, a teologia das boas obras, e dizima-se a teologia do amor e da fé. A hipocrisia não está no fato de solicitar que os fiéis banquem as despesas da Igreja, mas no fato de o dízimo ser transformado numa espécie de mandamento acima dos demais. Porém, não sei se o pecado é menor quando se toma posse do dinheiro das ovelhas pela venda de produtos religiosos que visam a enriquecer os seus autores.

A hipocrisia pode ser perdoada nos que a praticam por ignorância ou falta de autocontrole, ou, talvez, como polidez resultante da cultura na qual vivem. Mas o castigo será grande, conforme afirmou Jesus, para aqueles que a usam como método maquiavélico para adquirir vantagens pessoais indevidas. Esse tipo de hipócrita - que ele não exista entre os cristãos! - será tratado como criminoso hediondo no dia do Juízo.

Que Deus nos faça reconhecer nossos pecados de hipocrisia e que nos force, ainda que sob muito sofrimento, a retratar-nos em relação a eles. Antes sofrer aqui, porém obtendo a graça do perdão pelo nosso arrependimento, do que prosseguir no erro rumo á perdição eterna.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós. Mateus 23:15.

Que a acusação acima não seja lançada sobre nós. Amém.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Convivendo com as passagens difíceis da Bíblia

Muitos teólogos inteligentes, alguns deles muito piedosos, perderam-se ao vasculhar demais algumas passagens difíceis da Bíblia. Coloco o assunto em pauta não para criar mais confusão, mas para enfatizar que a ninguém é lícito criar dúvidas nas pessoas humildes que depositam sua esperança no Deus da Biblia.

Em todos os casos em que há possibilidade de divergências sérias, julgo que a melhor solução é suspender o julgamento sobre o tema. O caso da predestinação, por exemplo, é fonte de confusão. Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino deixaram uma firme doutrina a respeito que, sabiamente, foi deixada de lado pela Igreja Católica na formulação de sua doutrina oficial.

João Calvino foi acusado de ressaltar esse tipo de tema, apesar de ter avisado sobre o perigo de se deter sobre ele. Aquino sugeriu que o assunto não deveria ser exposto àqueles que não estivessem à altura de compreendê-lo. E isso foi ressaltado, igualmente, por Lutero. Enfim, os três teólgos, apesar de estarem em oposição quanto a vários outros temas, estavam de acordo quanto à necessidade de se tomar cuidado com o potencial destrutitivo de uma discussão sobre a predestinação.

Suspendamos, pois, o julgamento sobre todos os temas que têm sido motivos de dissenso ao longo dos séculos. Contudo, estudemos silenciosamente tais temas. Pode ser que o Espírito Santo nos ilumine sobre o seu significado, ainda que isso valha só para nós.

Porém, se julgarmos ter sido agraciados com alguma iluminação, cuidemos para não ensinar nossa convicção como se fosse uma doutrina. Quem faz isso é falso profeta, e eles estão por ai em profusão. Eles dizem fazer milagres, e até ser contra a religião, mas seus frutos demonstram que estão interessados mesmo é no dinheiro de ovelhas de intelecto fraco.

Vivamos, pois, a verdade simples. Ela não é fácil de praticar, mas torna-se ainda mais difícil quando acrescida de dúvidas sobre temas espinhosos. Não acrescentemos mais dificuldades tentando remoer as passagens difíceis da Bíblia.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A lógica do perdão

"Pai nosso, que estás no Céu. (...), perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores. (...)."

Eu conversava com amigos cristãos sobre a importância do perdão. Um deles citou um caso prático de uma pessoa que ele devia perdoar, mas que não conseguia. Ele disse que ela sequer aceitaria o seu perdão, tamanha a arrogância da pessoa que ele tinha em mente.

Argumentei com o amigo que "perdoar é um grande negócio" para quem perdoa. Ele nem precisaria esperar nada da outra pessoa, pois o assunto referia-se somente a ele. Basta estudar os cientistas que analisaram a emoção.

A emoção negativa, que em geral prevalece quando não perdoamos alguém, aloja-se em nós como uma bolsa de veneno que está continuamente contaminando nossa corrente sanguínea, matando-nos aos poucos, assim como faz a nicotina com os fumantes. Os resultados acumulados podem, em certo momento, explodir, destruindo-nos como uma bomba de efeito retardado no tempo.

O amigo concordou, mas insistiu que não é fácil perdoar. Eu concordei com ele. Mas também insisti que é necessário tentar. Argumentei que, embora não seja fácil, é possível aprender a perdoar. Mas é necessário que haja iniciativa e decisão.

Perdoar é um santo remédio!

domingo, 29 de agosto de 2010

O cristão com foco no amor

Deuteronômio 29:29: "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei."

Há cristãos que estão perdidos pelo fato de não se focarem no essencial que lhes foi apontado por Cristo: o amor. Eles querem compreender todos os mistérios e, enquanto procuram compreensão intelectual, perdem-se em análises de temas secundários ou essenciais, mas que estão fora do alcance de sua limitada razão. Eles não prestam atenção em Deuteronômio 29:29.

Contudo, os que colocam o seu foco no amor, sem prejuízo de buscar sempre o conhecimeto, vivem sua fé na prática. Eles são exemplos, históricos ou atuais, de que o Evangelho não é apenas uma fantasia de alienados medrosos e desesperados. Primeiramente, produzem os frutos de sua fé para alimentar pais, irmãos e amigos.

Com o crescimento de sua maturidade, ampliam o conceito de próximo, descobrindo que toda a Humanidade se encontra em cada pessoa que necessita de ajuda e está ao alcance da ação. Às vezes eles ajudam com palavras, e isso pode ser mais do que suficiente em alguns casos. Mas não se limitam a palavras. Eles agem pela compreensão das condições da existência humana.

O cristão com foco no amor aprendeu que sua principal ajuda consiste em fazer com que o próximo se torne autossustentável. Isso levando-se em conta que deve dominar os seus desejos, pois estes não têm fim. Ele sabe que pode ajudar alguém ensinando-lhe a gastar menos do que ganha; porém, sem ignorar o príncipio da economia de que às vezes é preciso tomar emprestado - predispondo-se a pagar juros -, para se construir a prosperidade futura.

O foco no amor não significa que se deva ser bonzinho. Às vezes é preciso fazer aquilo que o dependente julga ser uma injustiça ou castigo desnecessário. Negar-lhe a satisfação de um desejo, embora possa ser tido por ato mesquinho, pode significar um ato de amor. Na infância, até mesmo um castigo físico leve pode significar um ato de amor. Mas, o principal fruto do amor é a alegria, e esta deve ser buscada sempre.

O verdadeiro alvo do cristão consiste em conquistar liberdade para amar e, assim, viver uma vida agradável a Deus.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Tiago: o apóstolo do bom senso

Tiago 1
1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão, saúde.
2 Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações,
3 sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança;
4 e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma.
5 Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada.
6 Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento.
7 Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa,
8 homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos.
9 Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação,
10 e o rico no seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva.
11 Pois o sol se levanta em seu ardor e faz secar a erva; a sua flor cai e a beleza do seu aspecto perece; assim murchará também o rico em seus caminhos.
12 Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.
13 Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta.
14 Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência;
15 então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
16 Não vos enganeis, meus amados irmãos.
17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.
18 Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.
19 Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
21 Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas.
22 E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.
23 Pois se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante a um homem que contempla no espelho o seu rosto natural;
24 porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo se esquece de como era.
25 Entretanto aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer.
26 Se alguém cuida ser religioso e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a sua religião é vã.
27 A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.



Tiago 2
1 Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
2 Porque, se entrar na vossa reunião algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido.
3 e atentardes para o que vem com traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de honra; e disserdes ao pobre: Fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés,
4 não fazeis, porventura, distinção entre vós mesmos e não vos tornais juizes movidos de maus pensamentos?
5 Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não são os ricos os que vos oprimem e os que vos arrastam aos tribunais?
7 Não blasfemam eles o bom nome pelo qual sois chamados?
8 Todavia, se estais cumprindo a lei real segundo a escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem.
9 Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela lei como transgressores.
10 Pois qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, tem-se tornado culpado de todos.
11 Porque o mesmo que disse: Não adulterarás, também disse: Não matarás. Ora, se não cometes adultério, mas és homicida, te hás tornado transgressor da lei.
12 Falai de tal maneira e de tal maneira procedei, como havendo de ser julgados pela lei da liberdade.
13 Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo.
14 Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo?
15 Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano,
16 e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?
17 Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.
18 Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
19 Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem.
20 Mas queres saber, ó homem insensato, que a fé sem as obras é inútil?
21 Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque?
22 Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
23 E se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus.
24 Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé.
25 E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho?
26 Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.



Tiago 3
1 Meus irmãos, não sejais muitos de vós mestres, sabendo que receberemos um juízo mais severo.
2 Todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, esse é homem perfeito, e capaz de refrear também todo o corpo.
3 Ora, se pomos freios na boca dos cavalos, para que nos obedeçam, então conseguimos dirigir todo o seu corpo.
4 Vede também os navios que, embora tão grandes e levados por impetuosos ventos, com um pequenino leme se voltam para onde quer o impulso do timoneiro.
5 Assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas. Vede quão grande bosque um tão pequeno fogo incendeia.
6 A língua também é um fogo; sim, a língua, qual mundo de iniqüidade, colocada entre os nossos membros, contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, sendo por sua vez inflamada pelo inferno.
7 Pois toda espécie tanto de feras, como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se doma, e tem sido domada pelo gênero humano,
8 mas a língua, nenhum homem a pode domar. É um mal irrefreável; está cheia de peçonha mortal.
9 Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
10 Da mesma boca procede bênção e maldição. Não convém, meus irmãos, que se faça assim.
11 Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?
12 Meus irmãos, pode acaso uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Nem tampouco pode uma fonte de água salgada dar água doce.
13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria.
14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má.
17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.



Tiago 4
1 Donde vêm as guerras e contendas entre vós? Porventura não vêm disto, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
2 Cobiçais e nada tendes; logo matais. Invejais, e não podeis alcançar; logo combateis e fazeis guerras. Nada tendes, porque não pedis.
3 Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.
4 Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?
6 Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes.
7 Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações.
9 Senti as vossas misérias, lamentai e chorai; torne-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza.
10 Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.
11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.
12 Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?
13 E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos.
14 No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece.
15 Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.
16 Mas agora vos jactais das vossas presunções; toda jactância tal como esta é maligna.
17 Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.



Tiago 5
1 E agora, vós ricos, chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos sobrevirão.
2 As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça.
3 O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo. Entesourastes para os últimos dias.
4 Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.
5 Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações no dia da matança.
6 Condenastes e matastes o justo; ele não vos resiste.
7 Portanto, irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima.
9 Não vos queixeis, irmãos, uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está à porta.
10 Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.
11 Eis que chamamos bem-aventurados os que suportaram aflições. Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão.
12 Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; seja, porém, o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em condenação.
13 Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.
14 Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor;
15 e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
16 Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação.
17 Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e orou com fervor para que não chovesse, e por três anos e seis meses não choveu sobre a terra.
18 E orou outra vez e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.
19 Meus irmãos, se alguém dentre vós se desviar da verdade e alguém o converter,
20 sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Há necessidade de provar que Deus existe?

A filosofia e a teologia produziram muitas provas de que Deus existe. O ateu ri dessas provas, pois, usando o mesmo método, diz poder provar exatamente o contrário. Qual o significado dessa contradição, perpetrada, algumas vezes, por pessoas igualmente inteligentes?

Acredito que isso se deve ao fato de a razão humana, sendo finita, não poder abarcar o infinito de forma objetiva, principalmente quando se fala do Todo Poderoso. Deus, sendo amor, manifesta-se no coração do homem. Sendo razão, Ele se manifesta no intelecto humano. Mas isso é um mistério, pois o ateu não acredita nem aceita nada disso. Sob esse aspecto, pode-se dizer que aqueles a quem Deus escolheu para conhecê-Lo, Ele os predestinou para tal.

Voltando às provas da existência de Deus, elas criariam uma situação bastante difícil de se compreender caso não fossem apenas um complemento da fé. Deus, sob essa perspectiva, estaria escondido, até que sua existência fosse provada. Só então Ele passaria a agir; o que é um grande absurdo.

Se Deus é Deus, ele é eterno. Então, seja Ele conhecido formalmente ou não, a vida depende dEle, pois Ele é vida. Não há, pois, necessidade de provar que Ele existe, assim como não há necessidade de provar que o amor existe no coração daquele que ama. Mas isso para quem foi agraciado com uma fé genuína.

Por outro lado, ainda que seja desnecessário provar que Deus existe, o desesperado pode, por meio desse tipo de prova, buscá-Lo antes mesmo de ter uma fé profunda. E isso justifica, na minha opinião, os esforços racionais feitos para provar Sua existência.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A teoria e a prática em religião

Toda teoria se consolida na prática. Toda prática pressupõe uma teoria. Naquilo que é esencial, não é conveniente fazer distinção entre teoria e prática.

No dia-a-dia deve-se viver grande parte das ações de forma quase automática, por meio de hábitos e costumes que tenham sido peneirados pelo senso crítico ao longo da História. Isso implica praticar a verdadeira religião sem necessidade de parar para pensar se cada ação é correta ou não, pois já se sabe que é correta.

A religião verdadeira, por exemplo, dita por Cristo, é o amor. E ninguém que ama tem dúvida sobre o amor. Geralmente o amor se manifesta entre pais e filhos, e não há necessidade de teoria para explicá-lo, embora seja interessante que os pesquisadores descubram algo de útil sobre a condição que leva ao amor.

Em Tiago 1:27 lê-se que "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo." Essa passagem ilustra que o homem comum não precisa de teoria sobre religião, mas precisa ser treinado, desde a tenra infãncia, para praticá-la, naquilo que é essencial, sem precisar evocar uma teoria.

Tiago apenas repetiu, com outras palavras, algo que Jesus Cristo já havia dito. Porém, os teóricos não se contentam com isso. Eles formulam teorias sofisticadas e rigorosas e, muitas vezes, tratam a prática como irrelevante. Às vezes o conflito é colocado no dilema da fé versus obras, gerando a negação prática das duas coisas.

Assim, conforme penso, é preciso caminhar sem estabelecer a precedência da teoria sobre a prática ou da prática sobre a teoria. A vida religiosa, por si mesma, é prática. Mas, isso não significa que o religioso não possa dedicar-se a conhecer a teoria sobre qualquer assunto. Mesmo na religião ele pode teorizar, desde que não se esqueça de praticar aquilo que está ao seu alcance.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Primeira Epístola de Pedro (I Pedro)

I Pedro 1
1 Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.
2 eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
4 para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós,
5 que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo;
6 na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados por várias provações,
7 para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;
8 a quem, sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo inefável e cheio de glória,
9 alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.
10 Desta salvação inquiririam e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que para vós era destinada,
11 indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo que estava neles indicava, ao predizer os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.
12 Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos bem desejam atentar.
13 Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos oferece na revelação de Jesus Cristo.
14 Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância;
15 mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento;
16 porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.
17 E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação,
18 sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais,
19 mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo,
20 o qual, na verdade, foi conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por amor de vós,
21 que por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de modo que a vossa fé e esperança estivessem em Deus.
22 Já que tendes purificado as vossas almas na obediência à verdade, que leva ao amor fraternal não fingido, de coração amai-vos ardentemente uns aos outros,
23 tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece.
24 Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor;
25 mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que vos foi evangelizada.



I Pedro 2
1 Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a maledicência,
2 desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação,
3 se é que já provastes que o Senhor é bom;
4 e, chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa,
5 vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo.
6 Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido.
7 E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina,
8 e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.
9 Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
10 vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.
11 Amados, exorto-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências da carne, as quais combatem contra a alma;
12 tendo o vosso procedimento correto entre os gentios, para que naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, observando as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.
13 Sujeitai-vos a toda autoridade humana por amor do Senhor, quer ao rei, como soberano,
14 quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem.
15 Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo o bem, façais emudecer a ignorância dos homens insensatos,
16 como livres, e não tendo a liberdade como capa da malícia, mas como servos de Deus.
17 Honrai a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei.
18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus.
19 Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.
20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.
21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.
22 Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano;
23 sendo injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente;
24 levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados.
25 Porque éreis desgarrados, como ovelhas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.


I Pedro 3
1 Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos; para que também, se alguns deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem palavra pelo procedimento de suas mulheres,
2 considerando a vossa vida casta, em temor.
3 O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos,
4 mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranqüilo, que és, para que permaneçam as coisas
5 Porque assim se adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam submissas a seus maridos;
6 como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor; da qual vós sois filhas, se fazeis o bem e não temeis nenhum espanto.
7 Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações.
8 Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal, misericordiosos, humildes,
9 não retribuindo mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para herdardes uma bênção.
10 Pois, quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano;
11 aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a.
12 Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atento à sua súplica; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.
13 Ora, quem é o que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?
14 Mas também, se padecerdes por amor da justiça, bem-aventurados sereis; e não temais as suas ameaças, nem vos turbeis;
15 antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós;
16 tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, fiquem confundidos os que vituperam o vosso bom procedimento em Cristo.
17 Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.
18 Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito;
19 no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão;
20 os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água,
21 que também agora, por uma verdadeira figura-o batismo, vos salva, o qual não é o despojamento da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo,
22 que está à destra de Deus, tendo subido ao céu; havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potestades.



I Pedro 4
1 Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;
2 para que, no tempo que ainda vos resta na carne não continueis a viver para as concupiscências dos homens, mas para a vontade de Deus.
3 Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias.
4 E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós;
5 os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos.
6 Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.
7 Mas já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração;
8 tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados;
9 sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmuração;
10 servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.
11 Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre segundo a força que Deus concede; para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo, ma quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre. Amém.
12 Amados, não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos experimentar, como se coisa estranha vos acontecesse;
13 mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis.
14 Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.
15 Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios alheios;
16 mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus neste nome.
17 Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e se começa por nós, qual será o fim daqueles que desobedecem ao evangelho de Deus?
18 E se o justo dificilmente se salva, onde comparecerá o ímpio pecador?
19 Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem.



I Pedro 5
1 Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:
2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.
4 E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.
5 Semelhantemente vós, os mais moços, sede sujeitos aos mais velhos. E cingi-vos todos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
6 Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;
7 lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
8 Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar;
9 ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo.
10 E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer.
11 A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém.
12 Por Silvano, nosso fiel irmão, como o considero, escravo abreviadamente, exortando e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus; nela permanecei firmes.
13 A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho Marcos.
14 Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz seja com todos vós que estais em Cristo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma mensagem de esperança aos fracos e oprimidos

Esta é uma mensagem de esperança aos que se sentem fracos e oprimidos. Fracos em todos os sentidos, mas sobretudo na fé. Oprimidos pelo medo de tudo, mas sobretudo da morte. Os fortes não precisam de ajuda, por isso me dirijo aos fracos.

Se você se sente fraco e oprimido por não ter dinheiro, nem meios de consegui-lo, pense. Você fez por merecer? Você ainda pode fazer por merecer? Há ricos que começaram praticamente no nada e acumularam grandes fortunas. Esse foi o caso, por exemplo, de Benjamim Franklin e de Amador Aguiar, o criador do Banco Bradesco.

Entretanto, muitos fracos e oprimidos sob a perspectiva financeira ficaram ainda piores quando ganharam muito dinheiro. Melhor seria que tivessem saído da miséria, porém permanecendo na pobreza digna. Pelo menos não teriam se tornado responsáveis por mais destruição dos recursos do Planeta e, assim, acumulado mais débito para o dia do juízo final.

Se você se sente fraco e oprimido por outros motivos, há um recado importante para você. Sua alma é imortal, e há um paraíso esperando por ela. Você, obviamente, não precisa viver na miséria material pelo fato da verdadeira riqueza ser de natureza espiritual. Aqui na Terra você pode dedicar-se a plantar, colher e usar bem os frutos do seu trabalho.

Mas, certifique-se de ter encontrado o tesouro que está escondido dentro de você mesmo. Sua riqueza maior consiste em precisar sempre de pouco, embora possa acumular muito para produzir o benefício de muitos. Se você descobrir a grande riqueza interior que Cristo lhe deu, você poderá viver uma vida feliz, mesmo nas piores condições materiais.

A felicidade verdadeira é gratuíta. Mas, ela só pode ser usufruída do seu alimento interior. Alegria infinita pode ser obtida quando você serve ao próximo. E, ao servir aqueles que têm recursos, poderá ter a sua recompensa financeira e guardar um pouco para si. Mas isso só lhe dará alegria se você usar parte do seu tempo para ajudar os fracos e oprimidos, como você hoje parece ser.

De fato, você não é fraco nem oprimido. Você apenas não está usando o tesouro que foi colocado à sua disposição dentro de você mesmo. Use-o e nada lhe faltará. Começando pelo fato de que, nas piores condições possíveis, você será senhor de si mesmo, em Cristo. Quem poderá escravizá-lo se você tiver liberdade interior?

Assuma a sua fé em Deus, e entregue tudo a ele. Enquanto isso, trabalhe, aproveitando cada oportunidade de prestar serviços. Se suas forças se esgotarem, peça ajuda. Mas só faça isso se for necessário. É sempre melhor ajudar do que ser ajudado.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Evangelho de Jesus Cristo registrado pelo Apóstolo João

João 1
1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5 a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele.
8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9 Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo.
10 Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;
13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.
15 João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.
16 Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça.
17 Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
18 Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.
19 E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?
20 Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.
21 Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.
22 Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?
23 Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus.
25 Então lhe perguntaram: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26 Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós está um a quem vós não conheceis.
27 aquele que vem depois de mim, de quem eu não sou digno de desatar a correia da alparca.
28 Estas coisas aconteceram em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
30 este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um varão que passou adiante de mim, porque antes de mim ele já existia.
31 Eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, é que vim batizando em água.
32 E João deu testemunho, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.
33 Eu não o conhecia; mas o que me enviou a batizar em água, esse me disse: Aquele sobre quem vires descer o Espírito, e sobre ele permanecer, esse é o que batiza no Espírito Santo.
34 Eu mesmo vi e já vos dei testemunho de que este é o Filho de Deus.
35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos
36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!
37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.
38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde pousas?
39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima.
40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar, e que seguiram a Jesus.
41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo).
42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).
43 No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e achando a Felipe disse-lhe: Segue-me.
44 Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê.
47 Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!
48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.
49 Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel.
50 Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás.
51 E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.



João 2
1 Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus;
2 e foi também convidado Jesus com seus discípulos para o casamento.
3 E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho.
4 Respondeu-lhes Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
5 Disse então sua mãe aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.
6 Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas.
7 Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.
8 Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o fizeram.
9 Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho, não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o mestre-sala ao noivo
10 e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.
11 Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
12 Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.
13 Estando próxima a páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém.
14 E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas ali sentados;
15 e tendo feito um azorrague de cordas, lançou todos fora do templo, bem como as ovelhas e os bois; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e virou-lhes as mesas;
16 e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.
17 Lembraram-se então os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.
18 Protestaram, pois, os judeus, perguntando-lhe: Que sinal de autoridade nos mostras, uma vez que fazes isto?
19 Respondeu-lhes Jesus: Derribai este santuário, e em três dias o levantarei.
20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás em três dias?
21 Mas ele falava do santuário do seu corpo.
22 Quando, pois ressurgiu dentre os mortos, seus discípulos se lembraram de que dissera isto, e creram na Escritura, e na palavra que Jesus havia dito.
23 Ora, estando ele em Jerusalém pela festa da páscoa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
24 Mas o próprio Jesus não confiava a eles, porque os conhecia a todos,
25 e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois bem sabia o que havia no homem.



João 3
1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto?
10 Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas?
11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho!
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem.
14 E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.
22 Depois disto foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia, onde se demorou com eles e batizava.
23 Ora, João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas; e o povo ia e se batizava.
24 Pois João ainda não fora lançado no cárcere.
25 Surgiu então uma contenda entre os discípulos de João e um judeu acerca da purificação.
26 E foram ter com João e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, eis que está batizando, e todos vão ter com ele.
27 Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
28 Vós mesmos me sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele.
29 Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo.
30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.
31 Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra, e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos.
32 Aquilo que ele tem visto e ouvido, isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.
33 Mas o que aceitar o seu testemunho, esse confirma que Deus é verdadeiro.
34 Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; porque Deus não dá o Espírito por medida.
35 O Pai ama ao Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos.
36 Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.



João 4
1 Quando, pois, o Senhor soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos do que João
2 (ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos)
3 deixou a Judéia, e foi outra vez para a Galiléia.
4 E era-lhe necessário passar por Samária.
5 Chegou, pois, a uma cidade de Samária, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó dera a seu filho José;
6 achava-se ali o poço de Jacó. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; era cerca da hora sexta.
7 Veio uma mulher de Samária tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
8 Pois seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida.
9 Disse-lhe então a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos.)
10 Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva.
11 Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que tirá-la, e o poço é fundo; donde, pois, tens essa água viva?
12 És tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual também ele mesmo bebeu, e os filhos, e o seu gado?.
13 Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede;
14 mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.
15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la.
16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá.
17 Respondeu a mulher: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;
18 porque cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade.
19 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
20 Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
21 Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22 Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus.
23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
24 Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
25 Replicou-lhe a mulher: Eu sei que vem o Messias (que se chama o Cristo); quando ele vier há de nos anunciar todas as coisas.
26 Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.
27 E nisto vieram os seus discípulos, e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe perguntou: Que é que procuras? ou: Por que falas com ela?
28 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
29 Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo?
30 Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele.
31 Entrementes os seus discípulos lhe rogavam, dizendo: Rabi, come.
32 Ele, porém, respondeu: Uma comida tenho para comer que vós não conheceis.
33 Então os discípulos diziam uns aos outros: Acaso alguém lhe trouxe de comer?
34 Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra.
35 Não dizeis vós: Ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: levantai os vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa.
36 Quem ceifa já está recebendo recompensa e ajuntando fruto para a vida eterna; para que o que semeia e o que ceifa juntamente se regozijem.
37 Porque nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro o que ceifa.
38 Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
39 E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testificava: Ele me disse tudo quanto tenho feito.
40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias.
41 E muitos mais creram por causa da palavra dele;
42 e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.
43 Passados os dois dias partiu dali para a Galiléia.
44 Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não recebe honra na sua própria pátria.
45 Assim, pois, que chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque tinham visto todas as coisas que fizera em Jerusalém na ocasião da festa; pois também eles tinham ido à festa.
46 Foi, então, outra vez a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. Ora, havia um oficial do rei, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum.
47 Quando ele soube que Jesus tinha vindo da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele, e lhe rogou que descesse e lhe curasse o filho; pois estava à morte.
48 Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e prodígios, de modo algum crereis.
49 Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce antes que meu filho morra.
50 Respondeu-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe dissera, e partiu.
51 Quando ele já ia descendo, saíram-lhe ao encontro os seus servos, e lhe disseram que seu filho vivia.
52 Perguntou-lhes, pois, a que hora começara a melhorar; ao que lhe disseram: Ontem à hora sétima a febre o deixou.
53 Reconheceu, pois, o pai ser aquela hora a mesma em que Jesus lhe dissera: O teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa.
54 Foi esta a segunda vez que Jesus, ao voltar da Judéia para a Galiléia, ali operou sinal.



João 5
1 Depois disso havia uma festa dos judeus; e Jesus subiu a Jerusalém.
2 Ora, em Jerusalém, próximo à porta das ovelhas, há um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco alpendres.
3 Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados esperando o movimento da água.
4 Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; então o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
5 Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo.
6 Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: Queres ficar são?
7 Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que, ao ser agitada a água, me ponha no tanque; assim, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
8 Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.
9 Imediatamente o homem ficou são; e, tomando o seu leito, começou a andar. Ora, aquele dia era sábado.
10 Pelo que disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito.
11 Ele, porém, lhes respondeu: Aquele que me curou, esse mesmo me disse: Toma o teu leito e anda.
12 Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda?
13 Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se retirara, por haver muita gente naquele lugar.
14 Depois Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe: Olha, já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior.
15 Retirou-se, então, o homem, e contou aos judeus que era Jesus quem o curara.
16 Por isso os judeus perseguiram a Jesus, porque fazia estas coisas no sábado.
17 Mas Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
18 Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19 Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.
20 Porque o Pai ama ao Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo faz; e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.
21 Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.
22 Porque o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento,
23 para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
24 Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.
25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.
26 Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos;
27 e deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.
28 Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão:
29 os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
30 Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
31 Se eu der testemunho de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.
32 Outro é quem dá testemunho de mim; e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.
33 Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade;
34 eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto para que sejais salvos.
35 Ele era a lâmpada que ardia e alumiava; e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.
36 Mas o testemunho que eu tenho é maior do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que faço dão testemunho de mim que o Pai me enviou.
37 E o Pai que me enviou, ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua forma;
38 e a sua palavra não permanece em vós; porque não credes naquele que ele enviou.
39 Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim;
40 mas não quereis vir a mim para terdes vida!
41 Eu não recebo glória da parte dos homens;
42 mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.
43 Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, a esse recebereis.
44 Como podeis crer, vós que recebeis glória uns dos outros e não buscais a glória que vem do único Deus?
45 Não penseis que eu vos hei de acusar perante o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais.
46 Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim ele escreveu.
47 Mas, se não credes nos escritos, como crereis nas minhas palavras?



João 6
1 Depois disto partiu Jesus para o outro lado do mar da Galiléia, também chamado de Tiberíades.
2 E seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sobre os enfermos.
3 Subiu, pois, Jesus ao monte e sentou-se ali com seus discípulos.
4 Ora, a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.
5 Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Felipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?
6 Mas dizia isto para o experimentar; pois ele bem sabia o que ia fazer.
7 Respondeu-lhe Felipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco.
8 Ao que lhe disse um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro:
9 Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?
10 Disse Jesus: Fazei reclinar-se o povo. Ora, naquele lugar havia muita relva. Reclinaram-se aí, pois, os homens em número de quase cinco mil.
11 Jesus, então, tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos que estavam reclinados; e de igual modo os peixes, quanto eles queriam.
12 E quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.
13 Recolheram-nos, pois e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.
14 Vendo, pois, aqueles homens o sinal que Jesus operara, diziam: este é verdadeiramente o profeta que havia de vir ao mundo.
15 Percebendo, pois, Jesus que estavam prestes a vir e levá-lo à força para o fazerem rei, tornou a retirar-se para o monte, ele sozinho.
16 Ao cair da tarde, desceram os seus discípulos ao mar;
17 e, entrando num barco, atravessavam o mar em direção a Cafarnaum; enquanto isso, escurecera e Jesus ainda não tinha vindo ter com eles;
18 ademais, o mar se empolava, porque soprava forte vento.
19 Tendo, pois, remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus andando sobre o mar e aproximando-se do barco; e ficaram atemorizados.
20 Mas ele lhes disse: Sou eu; não temais.
21 Então eles de boa mente o receberam no barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.
22 No dia seguinte, a multidão que ficara no outro lado do mar, sabendo que não houvera ali senão um barquinho, e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos, mas que estes tinham ido sós
23 (contudo, outros barquinhos haviam chegado a Tiberíades para perto do lugar onde comeram o pão, havendo o Senhor dado graças);
24 quando, pois, viram que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, entraram eles também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em busca de Jesus.
25 E, achando-o no outro lado do mar, perguntaram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui?
26 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes.
27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.
28 Pergutaram-lhe, pois: Que havemos de fazer para praticarmos as obras de Deus?
29 Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.
30 Perguntaram-lhe, então: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos e te creiamos? Que operas tu?
31 Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Do céu deu-lhes pão a comer.
32 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
34 Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
35 Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.
36 Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e contudo não credes.
37 Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.
38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
39 E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia.
40 Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu;
42 e perguntavam: Não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: Desci do céu?
43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.
46 Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que é vindo de Deus; só ele tem visto o Pai.
47 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
59 Estas coisas falou Jesus quando ensinava na sinagoga em Cafarnaum.
60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?
61 Mas, sabendo Jesus em si mesmo que murmuravam disto os seus discípulos, disse-lhes: Isto vos escandaliza?
62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?
63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.
64 Mas há alguns de vós que não crêem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.
65 E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.
66 Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele.
67 Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?
68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
69 E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus.
70 Respondeu-lhes Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? Contudo um de vós é o diabo.
71 Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era ele o que o havia de entregar, sendo um dos doze.



João 7
1 Depois disto andava Jesus pela Galiléia; pois não queria andar pela Judéia, porque os judeus procuravam matá-lo.
2 Ora, estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos.
3 Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.
4 Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
5 Pois nem seus irmãos criam nele.
6 Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente.
7 O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.
8 Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo.
9 E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia.
10 Mas quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu ele também, não publicamente, mas como em secreto.
11 Ora, os judeus o procuravam na festa, e perguntavam: Onde está ele?
12 E era grande a murmuração a respeito dele entre as multidões. Diziam alguns: Ele é bom. Mas outros diziam: não, antes engana o povo.
13 Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.
14 Estando, pois, a festa já em meio, subiu Jesus ao templo e começou a ensinar.
15 Então os judeus se admiravam, dizendo: Como sabe este letras, sem ter estudado?
16 Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
17 Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo.
18 Quem fala por si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
19 Não vos deu Moisés a lei? no entanto nenhum de vós cumpre a lei. Por que procurais matar-me?
20 Respondeu a multidão: Tens demônio; quem procura matar-te?
21 Replicou-lhes Jesus: Uma só obra fiz, e todos vós admirais por causa disto.
22 Moisés vos ordenou a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), e no sábado circuncidais um homem.
23 Ora, se um homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, como vos indignais contra mim, porque no sábado tornei um homem inteiramente são?
24 Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o reto juízo.
25 Diziam então alguns dos de Jerusalém: Não é este o que procuram matar?
26 E eis que ele está falando abertamente, e nada lhe dizem. Será que as autoridades realmente o reconhecem como o Cristo?
27 Entretanto sabemos donde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é.
28 Jesus, pois, levantou a voz no templo e ensinava, dizendo: Sim, vós me conheceis, e sabeis donde sou; contudo eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis.
29 Mas eu o conheço, porque dele venho, e ele me enviou.
30 Procuravam, pois, prendê-lo; mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora.
31 Contudo muitos da multidão creram nele, e diziam: Será que o Cristo, quando vier, fará mais sinais do que este tem feito?
32 Os fariseus ouviram a multidão murmurar estas coisas a respeito dele; e os principais sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para o prenderem.
33 Disse, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou.
34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir.
35 Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá ele, que não o acharemos? Irá, porventura, à Dispersão entre os gregos, e ensinará os gregos?
36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e, Onde eu estou, vós não podeis vir?
37 Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.
38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.
39 Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
40 Então alguns dentre o povo, ouvindo essas palavras, diziam: Verdadeiramente este é o profeta.
41 Outros diziam: Este é o Cristo; mas outros replicavam: Vem, pois, o Cristo da Galiléia?
42 Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, a aldeia donde era Davi?
43 Assim houve uma dissensão entre o povo por causa dele.
44 Alguns deles queriam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs as mãos.
45 Os guardas, pois, foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?
46 Responderam os guardas: Nunca homem algum falou assim como este homem.
47 Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados?
48 Creu nele porventura alguma das autoridades, ou alguém dentre os fariseus?
49 Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.
50 Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes:
51 A nossa lei, porventura, julga um homem sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que ele faz?
52 Responderam-lhe eles: És tu também da Galiléia? Examina e vê que da Galiléia não surge profeta.
53 E cada um foi para sua casa.



João 8
1 Mas Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
2 Pela manhã cedo voltou ao templo, e todo o povo vinha ter com ele; e Jesus, sentando-se o ensinava.
3 Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio,
4 disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
5 Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo.
7 Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse-lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra.
8 E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
9 Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé.
10 Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.
12 Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.
13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.
14 Respondeu-lhes Jesus: Ainda que eu dou testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro; porque sei donde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou.
15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.
16 E, mesmo que eu julgue, o meu juízo é verdadeiro; porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou.
17 Ora, na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
18 Sou eu que dou testemunho de mim mesmo, e o Pai que me enviou, também dá testemunho de mim.
19 Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.
20 Essas palavras proferiu Jesus no lugar do tesouro, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.
21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu me retiro; buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir.
22 Então diziam os judeus: Será que ele vai suicidar-se, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir?
23 Disse-lhes ele: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.
25 Perguntavam-lhe então: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Exatamente o que venho dizendo que sou.
26 Muitas coisas tenho que dizer e julgar acerca de vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele ouvi, isso falo ao mundo.
27 Eles não perceberam que lhes falava do Pai.
28 Prosseguiu, pois, Jesus: Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis que eu sou, e que nada faço de mim mesmo; mas como o Pai me ensinou, assim falo.
29 E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado.
30 Falando ele estas coisas, muitos creram nele.
31 Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos;
32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
33 Responderam-lhe: Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: Sereis livres?
34 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.
35 Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre.
36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
37 Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não encontra lugar em vós.
38 Eu falo do que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que também ouvistes de vosso pai.
39 Responderam-lhe: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão.
40 Mas agora procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade que de Deus ouvi; isso Abraão não fez.
41 Vós fazeis as obras de vosso pai. Replicaram-lhe eles: Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus.
42 Respondeu-lhes Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, porque eu saí e vim de Deus; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.
43 Por que não compreendeis a minha linguagem? é porque não podeis ouvir a minha palavra.
44 Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira.
45 Mas porque eu digo a verdade, não me credes.
46 Quem dentre vós me convence de pecado? Se digo a verdade, por que não me credes?
47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis, porque não sois de Deus.
48 Responderam-lhe os judeus: Não dizemos com razão que és samaritano, e que tens demônio?
49 Jesus respondeu: Eu não tenho demônio; antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.
50 Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.
51 Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
52 Disseram-lhe os judeus: Agora sabemos que tens demônios. Abraão morreu, e também os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte!
53 Porventura és tu maior do que nosso pai Abraão, que morreu? Também os profetas morreram; quem pretendes tu ser?
54 Respondeu Jesus: Se eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, do qual vós dizeis que é o vosso Deus;
55 e vós não o conheceis; mas eu o conheço; e se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós; mas eu o conheço, e guardo a sua palavra.
56 Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; viu-o, e alegrou-se.
57 Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste Abraão?
58 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
59 Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo.



João 9
1 E passando Jesus, viu um homem cego de nascença.
2 Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
3 Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.
4 Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.
5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
6 Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e untou com lodo os olhos do cego,
7 e disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa Enviado). E ele foi, lavou-se, e voltou vendo.
8 Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto, quando mendigo, perguntavam: Não é este o mesmo que se sentava a mendigar?
9 Uns diziam: É ele. E outros: Não é, mas se parece com ele. Ele dizia: Sou eu.
10 Perguntaram-lhe, pois: Como se te abriram os olhos?
11 Respondeu ele: O homem que se chama Jesus fez lodo, untou-me os olhos, e disse-me: Vai a Siloé e lava-te. Fui, pois, lavei-me, e fiquei vendo.
12 E perguntaram-lhe: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
13 Levaram aos fariseus o que fora cego.
14 Ora, era sábado o dia em que Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
15 Então os fariseus também se puseram a perguntar-lhe como recebera a vista. Respondeu-lhes ele: Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me e vejo.
16 Por isso alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
17 Tornaram, pois, a perguntar ao cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? E ele respondeu: É profeta.
18 Os judeus, porém, não acreditaram que ele tivesse sido cego e recebido a vista, enquanto não chamaram os pais do que fora curado,
19 e lhes perguntaram: É este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?
20 Responderam seus pais: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego;
21 mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe abriu os olhos, nós não sabemos; perguntai a ele mesmo; tem idade; ele falará por si mesmo.
22 Isso disseram seus pais, porque temiam os judeus, porquanto já tinham estes combinado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
23 Por isso é que seus pais disseram: Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo.
24 Então chamaram pela segunda vez o homem que fora cego, e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
25 Respondeu ele: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo.
26 Perguntaram-lhe pois: Que foi que te fez? Como te abriu os olhos?
27 Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não atendestes; para que o quereis tornar a ouvir? Acaso também vós quereis tornar-vos discípulos dele?
28 Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele és tu; nós porém, somos discípulos de Moisés.
29 Sabemos que Deus falou a Moisés; mas quanto a este, não sabemos donde é.
30 Respondeu-lhes o homem: Nisto, pois, está a maravilha: não sabeis donde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos;
31 sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém for temente a Deus, e fizer a sua vontade, a esse ele ouve.
32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.
33 Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.
34 Replicaram-lhe eles: Tu nasceste todo em pecados, e vens nos ensinar a nós? E expulsaram-no.
35 Soube Jesus que o haviam expulsado; e achando-o perguntou-lhe: Crês tu no Filho do homem?
36 Respondeu ele: Quem é, senhor, para que nele creia?
37 Disse-lhe Jesus: Já o viste, e é ele quem fala contigo.
38 Disse o homem: Creio, Senhor! E o adorou.
39 Prosseguiu então Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.
40 Alguns fariseus que ali estavam com ele, ouvindo isso, perguntaram-lhe: Porventura somos nós também cegos?
41 Respondeu-lhes Jesus: Se fosseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Nós vemos, permanece o vosso pecado.


João 10
1 Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador.
2 Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3 A este o porteiro abre; e as ovelhas ouvem a sua voz; e ele chama pelo nome as suas ovelhas, e as conduz para fora.
4 Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz;
5 mas de modo algum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6 Jesus propôs-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.
8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
9 Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens.
10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.
11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 Mas o que é mercenário, e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa.
13 Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não se importa com as ovelhas.
14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,
15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.
16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor.
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.
18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
19 Por causa dessas palavras, houve outra dissensão entre os judeus.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e perdeu o juízo; por que o escutais?
21 Diziam outros: Essas palavras não são de quem está endemoninhado; pode porventura um demônio abrir os olhos aos cegos?
22 Celebrava-se então em Jerusalém a festa da dedicação. E era inverno.
23 Andava Jesus passeando no templo, no pórtico de Salomão.
24 Rodearam-no, pois, os judeus e lhe perguntavam: Até quando nos deixarás perplexos? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho de mim.
26 Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.
27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;
28 eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.
29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
30 Eu e o Pai somos um.
31 Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
32 Disse-lhes Jesus: Muitas obras boas da parte de meu Pai vos tenho mostrado; por qual destas obras ides apedrejar-me?
33 Responderam-lhe os judeus: Não é por nenhuma obra boa que vamos apedrejar-te, mas por blasfêmia; e porque, sendo tu homem, te fazes Deus.
34 Tornou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois deuses?
35 Se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada),
36 àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, dizeis vós: Blasfemas; porque eu disse: Sou Filho de Deus?
37 Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.
38 Mas se as faço, embora não me creiais a mim, crede nas obras; para que entendais e saibais que o Pai está em mim e eu no Pai.
39 Outra vez, pois, procuravam prendê-lo; mas ele lhes escapou das mãos.
40 E retirou-se de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali ficou.
41 Muitos foram ter com ele, e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mas tudo quanto disse deste homem era verdadeiro.
42 E muitos ali creram nele.



João 11
1 Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 E Maria, cujo irmão Lázaro se achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos.
3 Mandaram, pois, as irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.
4 Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
6 Quando, pois, ouviu que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde se achava.
7 Depois disto, disse a seus discípulos: Vamos outra vez para Judéia.
8 Disseram-lhe eles: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá?
9 Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
11 E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
12 Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom.
13 Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono.
14 Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu;
15 e, por vossa causa, folgo de que eu lá não estivesse, para que creiais; mas vamos ter com ele.
16 Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos seus condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.
17 Chegando pois Jesus, encontrou-o já com quatro dias de sepultura.
18 Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.
19 E muitos dos judeus tinham vindo visitar Marta e Maria, para as consolar acerca de seu irmão.
20 Marta, pois, ao saber que Jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa.
21 Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se meu irmão não teria morrido.
22 E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.
23 Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir.
24 Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia.
25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
26 e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?
27 Respondeu-lhe Marta: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
28 Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo a Maria, sua irmã, e lhe disse: O Mestre está aí, e te chama.
29 Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa, e foi ter com ele.
30 Pois Jesus ainda não havia entrado na aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.
31 Então os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar-se apressadamente e sair, seguiram-na, pensando que ia ao sepulcro para chorar ali.
32 Tendo, pois, Maria chegado ao lugar onde Jesus estava, e vendo-a, lançou-se-lhe aos pés e disse: Senhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria morrido.
33 Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se,
34 e perguntou: Onde o puseste? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê.
35 Jesus chorou.
36 Disseram então os judeus: Vede como o amava.
37 Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também que este não morreste?
38 Jesus, pois, comovendo-se outra vez, profundamente, foi ao sepulcro; era uma gruta, e tinha uma pedra posta sobre ela.
39 Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque está morto há quase quatro dias.
40 Respondeu-lhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?
41 Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, graças te dou, porque me ouviste.
42 Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me enviaste.
43 E, tendo dito isso, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
44 Saiu o que estivera morto, ligados os pés e as mãos com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir.
45 Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.
46 Mas alguns deles foram ter com os fariseus e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.
47 Então os principais sacerdotes e os fariseus reuniram o sinédrio e diziam: Que faremos? porquanto este homem vem operando muitos sinais.
48 Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e nos tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.
49 Um deles, porém, chamado Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: Vós nada sabeis,
50 nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça a nação toda.
51 Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação,
52 e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos.
53 Desde aquele dia, pois, tomavam conselho para o matarem.
54 De sorte que Jesus já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a região vizinha ao deserto, a uma cidade chamada Efraim; e ali demorou com os seus discípulos.
55 Ora, estava próxima a páscoa dos judeus, e dessa região subiram muitos a Jerusalém, antes da páscoa, para se purificarem.
56 Buscavam, pois, a Jesus e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá ele à festa?
57 Ora, os principais sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para que o prendessem.



João 12
1 Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
2 Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.
3 Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo.
4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse:
5 Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?
6 Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava.
7 Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou;
8 porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.
9 E grande número dos judeus chegou a saber que ele estava ali: e afluiram, não só por causa de Jesus mas também para verem a Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
10 Mas os principais sacerdotes deliberaram matar também a Lázaro;
11 porque muitos, por causa dele, deixavam os judeus e criam em Jesus.
12 No dia seguinte, as grandes multidões que tinham vindo à festa, ouvindo dizer que Jesus vinha a Jerusalém,
13 tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o rei de Israel!
14 E achou Jesus um jumentinho e montou nele, conforme está escrito:
15 Não temas, ó filha de Sião; eis que vem teu Rei, montado sobre o filho de uma jumenta.
16 Os seus discípulos, porém, a princípio não entenderam isto; mas quando Jesus foi glorificado, então eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a respeito dele, e de que assim lhe fizeram.
17 Dava-lhe, pois, testemunho a multidão que estava com ele quando chamara a Lázaro da sepultura e o ressuscitara dentre os mortos;
18 e foi por isso que a multidão lhe saiu ao encontro, por ter ouvido que ele fizera este sinal.
19 De sorte que os fariseus disseram entre si: Vedes que nada aproveitais? eis que o mundo inteiro vai após ele.
20 Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos.
21 Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
22 Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus.
23 Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem.
24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.
27 Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora.
28 Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei.
29 A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou.
30 Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós.
31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.
32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.
33 Isto dizia, significando de que modo havia de morrer.
34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?
35 Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.
36 Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles.
37 E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele;
38 para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías: Senhor, quem creu em nossa pregação? e aquem foi revelado o braço do Senhor?
39 Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías:
40 Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.
41 Estas coisas disse Isaías, porque viu a sua glória, e dele falou.
42 Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele; mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga;
43 porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
44 Clamou Jesus, dizendo: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou.
45 E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
46 Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
47 E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
48 Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.
49 Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar.
50 E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.



João 13
1 Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 Enquanto ceavam, tendo já o Diabo posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, que o traísse,
3 Jesus, sabendo que o Pai lhe entregara tudo nas mãos, e que viera de Deus e para Deus voltava,
4 levantou-se da ceia, tirou o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
6 Chegou, pois, a Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço, tu não o sabes agora; mas depois o entenderás.
8 Tornou-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Replicou-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Respondeu-lhe Jesus: Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está todo limpo; e vós estais limpos, mas não todos.
11 Pois ele sabia quem o estava traindo; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 Ora, depois de lhes ter lavado os pés, tomou o manto, tornou a reclinar-se à mesa e perguntou-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.
18 Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi; mas para que se cumprisse a escritura: O que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.
19 Desde já no-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, creiais que eu sou.
20 Em verdade, em verdade vos digo: Quem receber aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
21 Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e declarou: Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há de trair.
22 Os discípulos se entreolhavam, perplexos, sem saber de quem ele falava.
23 Ora, achava-se reclinado sobre o peito de Jesus um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava.
24 A esse, pois, fez Simão Pedro sinal, e lhe pediu: Pergunta-lhe de quem é que fala.
25 Aquele discípulo, recostando-se assim ao peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?
26 Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tendo, pois, molhado um bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
27 E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Disse-lhe, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.
28 E nenhum dos que estavam à mesa percebeu a que propósito lhe disse isto;
29 pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe queria dizer: Compra o que nos é necessário para a festa; ou, que desse alguma coisa aos pobres.
30 Então ele, tendo recebido o bocado saiu logo. E era noite.
31 Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele;
32 se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.
33 Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Procurar-me-eis; e, como eu disse aos judeus, também a vós o digo agora: Para onde eu vou, não podeis vós ir.
34 Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros.
35 Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.
36 Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Respondeu Jesus; Para onde eu vou, não podes agora seguir-me; mais tarde, porém, me seguirás.
37 Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.
38 Respondeu Jesus: Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo até que me tenhas negado três vezes.



João 14
1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.
3 E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.
4 E para onde eu vou vós conheceis o caminho.
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
8 Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
9 Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras.
11 Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.
12 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai;
13 e tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei.
15 Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre.
17 a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós.
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
22 Perguntou-lhe Judas (não o Iscariotes): O que houve, Senhor, que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada.
24 Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.
25 Estas coisas vos tenho falado, estando ainda convosco.
26 Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.
27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
28 Ouvistes que eu vos disse: Vou, e voltarei a vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai; porque o Pai é maior do que eu.
29 Eu vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais.
30 Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim;
31 mas, assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo saiba que eu amo o Pai. Levantai-vos, vamo-nos daqui.



João 15
1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor.
2 Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto.
3 Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.
4 Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim.
5 Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
6 Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas.
7 Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.
8 Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
9 Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.
10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.
11 Estas coisas vos tenho dito, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.
12 O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.
16 Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.
17 Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.
18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
19 Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.
20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, guardarão também a vossa.
21 Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.
22 Se eu não viera e não lhes falara, não teriam pecado; agora, porém, não têm desculpa do seu pecado.
23 Aquele que me odeia a mim, odeia também a meu Pai.
24 Se eu entre eles não tivesse feito tais obras, quais nenhum outro fez, não teriam pecado; mas agora, não somente viram, mas também odiaram tanto a mim como a meu Pai.
25 Mas isto é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.
26 Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de mim;
27 e também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.



João 16
1 Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis.
2 Expulsar-vos-ão das sinagogas; ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar um serviço a Deus.
3 E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim.
4 Mas tenho-vos dito estas coisas, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que eu vo-las tinha dito. Não vo-las disse desde o princípio, porque estava convosco.
5 Agora, porém, vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?
6 Antes, porque vos disse isto, o vosso coração se encheu de tristeza.
7 Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei.
8 E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:
9 do pecado, porque não crêem em mim;
10 da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais,
11 e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
12 Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora.
13 Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.
14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.
15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele, recebendo do que é meu, vo-lo anunciará.
16 Um pouco, e já não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis.
17 Então alguns dos seus discípulos perguntaram uns para os outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?
18 Diziam pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não compreendemos o que ele está dizendo.
19 Percebeu Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
20 Em verdade, em verdade, vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós estareis tristes, porém a vossa tristeza se converterá em alegria.
21 A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo gozo de haver um homem nascido ao mundo.
22 Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas eu vos tornarei a ver, e alegrar-se-á o vosso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
23 Naquele dia nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo que tudo quanto pedirdes ao Pai, ele vo-lo concederá em meu nome.
24 Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo seja completo.
25 Disse-vos estas coisas por figuras; chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por figuras, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
26 Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
27 pois o Pai mesmo vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu saí de Deus.
28 Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.
29 Disseram os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não por figura alguma.
30 Agora conhecemos que sabes todas as coisas, e não necessitas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.
31 Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?
32 Eis que vem a hora, e já é chegada, em que vós sereis dispersos cada um para o seu lado, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
33 Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.



João 17
1 Depois de assim falar, Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o Filho te glorifique;
2 assim como lhe deste autoridade sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe tens dado.
3 E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.
4 Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer.
5 Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse.
6 Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste; e guardaram a tua palavra.
7 Agora sabem que tudo quanto me deste provém de ti;
8 porque eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste.
9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus;
10 todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado.
11 Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um, assim como nós.
12 Enquanto eu estava com eles, eu os guardava no teu nome que me deste; e os conservei, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
13 Mas agora vou para ti; e isto falo no mundo, para que eles tenham a minha alegria completa em si mesmos.
14 Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
15 Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno.
16 Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviarei ao mundo.
19 E por eles eu me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade.
20 E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
21 para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.
22 E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um;
23 eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim.
24 Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo.
25 Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço; conheceram que tu me enviaste;
26 e eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer ainda; para que haja neles aquele amor com que me amaste, e também eu neles esteja.



João 18
1 Tendo Jesus dito isto, saiu com seus discípulos para o outro lado do ribeiro de Cedrom, onde havia um jardim, e com eles ali entrou.
2 Ora, Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque muitas vezes Jesus se reunira ali com os discípulos.
3 Tendo, pois, Judas tomado a corte e uns guardas da parte dos principais sacerdotes e fariseus, chegou ali com lanternas archotes e armas.
4 Sabendo, pois, Jesus tudo o que lhe havia de suceder, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?
5 Responderam-lhe: A Jesus, o nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, também estava com eles.
6 Quando Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram, e cairam por terra.
7 Tornou-lhes então a perguntar: A quem buscais? e responderam: A Jesus, o nazareno.
8 Replicou-lhes Jesus: Já vos disse que sou eu; se, pois, é a mim que buscais, deixai ir estes;
9 para que se cumprisse a palavra que dissera: Dos que me tens dado, nenhum deles perdi.
10 Então Simão Pedro, que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco.
11 Disse, pois, Jesus a Pedro: Mete a tua espada na bainha; não hei de beber o cálice que o Pai me deu?
12 Então a escolta, e o comandante, e os guardas dos judeus prenderam a Jesus, e o maniataram.
13 E conduziram-no primeiramente a Anás; pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano.
14 Ora, Caifás era quem aconselhara aos judeus que convinha morrer um homem pelo povo.
15 Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote,
16 enquanto Pedro ficava da parte de fora, à porta. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, falou à porteira, e levou Pedro para dentro.
17 Então a porteira perguntou a Pedro: Não és tu também um dos discípulos deste homem? Respondeu ele: Não sou.
18 Ora, estavam ali os servos e os guardas, que tinham acendido um braseiro e se aquentavam, porque fazia frio; e também Pedro estava ali em pé no meio deles, aquentando-se.
19 Então o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 Respondeu-lhe Jesus: Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam, e nada falei em oculto.
21 Por que me perguntas a mim? pergunta aos que me ouviram o que é que lhes falei; eis que eles sabem o que eu disse.
22 E, havendo ele dito isso, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se bem, por que me feres?
24 Então Anás o enviou, maniatado, a Caifás, o sumo sacerdote.
25 E Simão Pedro ainda estava ali, aquentando-se. Perguntaram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
26 Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no jardim com ele?
27 Pedro negou outra vez, e imediatamente o galo cantou.
28 Depois conduziram Jesus da presença de Caifás para o pretório; era de manhã cedo; e eles não entraram no pretório, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
29 Então Pilatos saiu a ter com eles, e perguntou: Que acusação trazeis contra este homem?
30 Responderam-lhe: Se ele não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
31 Disse-lhes, então, Pilatos: Tomai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe os judeus: A nós não nos é lícito tirar a vida a ninguém.
32 Isso foi para que se cumprisse a palavra que dissera Jesus, significando de que morte havia de morrer.
33 Pilatos, pois, tornou a entrar no pretório, chamou a Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?
34 Respondeu Jesus: Dizes isso de ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?
35 Replicou Pilatos: Porventura sou eu judeu? O teu povo e os principais sacerdotes entregaram-te a mim; que fizeste?
36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu reino não é daqui.
37 Perguntou-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
38 Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? E dito isto, de novo saiu a ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
39 Tendes, porém, por costume que eu vos solte alguém por ocasião da páscoa; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?
40 Então todos tornaram a clamar dizendo: Este não, mas Barrabás. Ora, Barrabás era salteador.



João 19
1 Nisso, pois, Pilatos tomou a Jesus, e mandou açoitá-lo.
2 E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha sobre a cabeça, e lhe vestiram um manto de púrpura;
3 e chegando-se a ele, diziam: Salve, rei dos judeus! e davam-lhe bofetadas.
4 Então Pilatos saiu outra vez, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
5 Saiu, pois, Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis o homem!
6 Quando o viram os principais sacerdotes e os guardas, clamaram, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque nenhum crime acho nele.
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo esta lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 Ora, Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou;
9 e entrando outra vez no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 Disse-lhe, então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te crucificar?
11 Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem.
12 Daí em diante Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamaram: Se soltares a este, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei é contra César.
13 Pilatos, pois, quando ouviu isto, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, e em hebraico Gabatá.
14 Ora, era a preparação da páscoa, e cerca da hora sexta. E disse aos judeus: Eis o vosso rei.
15 Mas eles clamaram: Tira-o! tira-o! crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? responderam, os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César.
16 Então lho entregou para ser crucificado.
17 Tomaram, pois, a Jesus; e ele, carregando a sua própria cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
18 onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
19 E Pilatos escreveu também um título, e o colocou sobre a cruz; e nele estava escrito: JESUS O NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
20 Muitos dos judeus, pois, leram este título; porque o lugar onde Jesus foi crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego.
21 Diziam então a Pilatos os principais sacerdotes dos judeus: Não escrevas: O rei dos judeus; mas que ele disse: Sou rei dos judeus.
22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.
23 Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram delas quatro partes, para cada soldado uma parte. Tomaram também a túnica; ora a túnica não tinha costura, sendo toda tecida de alto a baixo.
24 Pelo que disseram uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será (para que se cumprisse a escritura que diz: Repartiram entre si as minhas vestes, e lançaram sortes). E, de fato, os soldados assim fizeram.
25 Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua mãe, e Maria, mulher de Clôpas, e Maria Madalena.
26 Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
27 Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.
28 Depois, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam consumadas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede.
29 Estava ali um vaso cheio de vinagre. Puseram, pois, numa cana de hissopo uma esponja ensopada de vinagre, e lha chegaram à boca.
30 Então Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
31 Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali.
32 Foram então os soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado;
33 mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas;
34 contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.
35 E é quem viu isso que dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que diz a verdade, para que também vós creiais.
36 Porque isto aconteceu para que se cumprisse a escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado.
37 Também há outra escritura que diz: Olharão para aquele que traspassaram.
38 Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, embora oculto por medo dos judeus, rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus; e Pilatos lho permitiu. Então foi e o tirou.
39 E Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus de noite, foi também, levando cerca de cem libras duma mistura de mirra e aloés.
40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus, e o envolveram em panos de linho com as especiarias, como os judeus costumavam fazer na preparação para a sepultura.
41 No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim, e nesse jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda havia sido posto.
42 Ali, pois, por ser a véspera do sábado dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro, puseram a Jesus.



João 20
1 No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro.
2 Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.
3 Saíram então Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro.
4 Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais ligeiro do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro;
5 e, abaixando-se viu os panos de linho ali deixados, todavia não entrou.
6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro e viu os panos de linho ali deixados,
7 e que o lenço, que estivera sobre a cabeça de Jesus, não estava com os panos, mas enrolado num lugar à parte.
8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu e creu.
9 Porque ainda não entendiam a escritura, que era necessário que ele ressurgisse dentre os mortos.
10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.
11 Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava, abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro,
12 e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13 E perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14 Ao dizer isso, voltou-se para trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus.
15 Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, virando-se, disse-lhe em hebraico: Raboni!-que quer dizer, Mestre.
17 Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
18 E foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: Vi o Senhor!-e que ele lhe dissera estas coisas.
19 Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco.
20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor.
21 Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
22 E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos.
24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25 Diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei.
26 Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco.
27 Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente.
28 Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu!
29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.
30 Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro;
31 estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.



João 21
1 Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se deste modo:
2 Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos.
3 Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe: Nós também vamos contigo. Saíram e entraram no barco; e naquela noite nada apanharam.
4 Mas ao romper da manhã, Jesus se apresentou na praia; todavia os discípulos não sabiam que era ele.
5 Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, não tendes nada que comer? Responderam-lhe: Não.
6 Disse-lhes ele: Lançai a rede à direita do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam puxar por causa da grande quantidade de peixes.
7 Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: Senhor. Quando, pois, Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava despido, e lançou-se ao mar;
8 mas os outros discípulos vieram no barquinho, puxando a rede com os peixes, porque não estavam distantes da terra senão cerca de duzentos côvados.
9 Ora, ao saltarem em terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão.
10 Disse-lhes Jesus: Trazei alguns dos peixes que agora apanhastes.
11 Entrou Simão Pedro no barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
12 Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? sabendo que era o Senhor.
13 Chegou Jesus, tomou o pão e deu-lho, e semelhantemente o peixe.
14 Foi esta a terceira vez que Jesus se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressurgido dentre os mortos.
15 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos.
16 Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas.
17 Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas-me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.
18 Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queres.
19 Ora, isto ele disse, significando com que morte havia Pedro de glorificar a Deus. E, havendo dito isto, ordenou-lhe: Segue-me.
20 E Pedro, virando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, o mesmo que na ceia se recostara sobre o peito de Jesus e perguntara: Senhor, quem é o que te trai?
21 Ora, vendo Pedro a este, perguntou a Jesus: Senhor, e deste que será?
22 Respondeu-lhe Jesus: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso? Segue-me tu.
23 Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não disse que não morreria, mas: se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso?
24 Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.
25 E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem.