sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A neurolinguística e o Evangellho de Cristo

Falo como observador

RESUMO
Nesta reflexão defendo que a excelência em comunicação, esta representada pelo uso consciente ou não da neurolinguística, pode tanto ajudar quanto atrapalhar a disseminação do Evangelho de Cristo. Tudo depende da intenção. Quando há exageros, é fácil detectar eventuais jogos de cena. Contudo, se se aproveitam dons naturais, ou se a encenação é feita profissionalmente, só Deus pode livrar as ovelhas de eventuais ciladas.

1. INTRODUÇÃO
Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho da Igreja Católica, foi, primeiramente, professor de retórica. Ele conhecia a importância da eloquência. Quando ainda era maniqueu, convertou cristãos ao maniqueísmo. Após encontrar a verdade no cristianismo, fez o contrário.

No livro A Doutrina Cristã, Agostinho aborda os três aspectos fundamentais da evangelização: 1. descobrir a verdade na Bíblia; 2. praticar a verdade; e 3. transmitir essa verdade da melhor maneira possível, incluindo: 3.1 - instruir; 3.2 - agradar e, se necessário, 3.3 - convencer. Agostinho sabia do que estava falando.

Certo pregador do evangelho da prosperidade, ao descobrir o que realmente estava fazendo, e gostava de fazer, passou a designar-se empresário da comunicação. Há farto material seu no YouTube em que ele afirma que o segredo do crescimento da igreja não está em Deus, mas nos comunicadores possuidores de aptidões e habilidades apropriadas.

Nesta reflexão desejo apresentar a neurolinguística para quem nunca ouviu falar nela, assim como suas vantagens e riscos como arma de comunicação do Evangelho de Cristo. Agostinho dominou-a intuitivamente. Hitler a usou de forma calculada, embora não lhe tenha dado um nome. Atualmente existem estudos que a explicam detalhadamente, além de pessoas que a usam com má fé.

2. A NEUROLINGUÍSTICA
A neurolinguística, como lembrou um dos seus difusores no campo da autoajuda, representa a decodificação do processo usado intuitivamente pelos melhores comunicadores de todos os tempos e lugares. Ele lembrou, por exemplo, que a comunicação torna-se mais eficiente quando se domina a língua do interlocutor. Na China, pode ser que um estrangeiro consiga alguns resultados comunicando-se apenas por meio de gestos, mas certamente se sairia melhor se falasse chinês na sua versão local.

O discurso, veja amostras neste vídeo, é a principal arma de convencimento. O político pode conseguir mais resultados usando expressões que vão de encontro às paixões, necessidades, frustrações e esperanças do povo. No Brasil pode-se, por exemplo, usar a linguagem do futebol e do samba no que tange às paixões do povo. Em relação às suas necessidades, pode-se acionar a fome dos famintos, ou cortejar os sem teto ou sem emprego. Quanto às frustrações, pode-se acionar a necessidade de estima e autoestima. Pode-se, ainda, coroar essa comunicação compartilhando uma visão de futuro estimulante. Veja, por exemplo, um bom modelo do discurso vitorioso do Presidente Lula neste vídeo.

A neurolinguística está na essência dos grandes líderes. Entre eles, grande pregadores. Mas ela é, igualmente, a arma de Satanás como orador. Veja, por exemplo, o filme O Advogado do Diabo. Nesse filme, Al Pacino mostra o seu talento como ator que domina a arte da oratória. A Bíblia registra que Satanás tentou enganar Jesus Cristo com um discurso que visava a inflar o Seu (de Jesus) ego. Não fosse Ele o Filho de Deus, teria caído na armadilha de render-se a demonstrações do seu poder de fazer milagres e de apossar-se da glória deste mundo.

A neurolinguística consiste no uso dos estímulos capazes de mover os homens em certa direção. Na visão comportamentalista de Skinner, por exemplo, basta combinar recompensa e punição de maneira controlada para conseguir reforçar certos comportamentos e extinguir outros. Já os políticos usam as palavras, como se pode ver neste discurso de Che Guevara. Antes de ser capaz de exercer um senso crítico à altura do desafio, eu tinha Che por herói. Só mudei de opinião quando descobri que ele era apenas um homem violento à procura de um álibi para exercitar-se.

A música tem papel fundamental no amolecimento de corações e mentes. Se os sons são articulados apropriadamente, a letra nem precisa ser compreendida para se obterem os resultados desejados. Veja-se por exemplo, como foi bem vendido o nome Obama neste vídeo . Não é por acaso que Platão julgava que a música tem imenso poder para formar o caráter, podendo contribuir fortemente para transformar o animal humano num ser civilizado ou numa besta. Mais poder tem a música combinada com cenários fantásticos e gestos calculados para impressionar. Hitler e Stalin usaram bem desse conhecimento. A Coréia do Norte o tem explorado com eficiência, embora o seu povo viva na miséria. Mas não é muito diferente nos Estados Unidos, onde se usa o mesmo conhecimento de forma mais disfarçada, por meio de mensagens subliminares.

No livro Comunicação Global, a neurolinguística é indicada por Lair Ribeiro na sua versão popular para conquistar pessoas. O livro Poder Sem Limites, de Anthony Robbins, dá uma versão da mesma atrelada a aconselhamentos para que ela seja usada apenas para o bem. Já o livro A Lei do Triunfo, de Naplleon Hill, que não a conhecia como tal, dá uma síntese de como se pode preparar-se para conseguir objetivos na vida, tendo o autor o cuidado de estimular que se definam objetivos alinhados com o serviço ao próximo. No caso de Hill, ele tinha consciência de que estados de espírito adequados podem ser induzidos, embora sua manutenção seja difícil. Ele fez experimentos a esse respeito em convenções de vendas, tendo obtido resultados espetaculares na elevação do moral dos participantes.

A neurolinguísta, portanto, não é ruim em si mesma. Ela pode ser usada para o mal ou para o bem. Ela foi descoberta durante uma pesquisa financiada pelo governo americano para saber se as técnicas da psicologia realmente funcionam e porquê. O resultado foi: sim, elas funcionam, desde que por trás estejam bons comunicadores que criem empatia com seus pacientes. Richard Bandler explicou o processo no seu livro Usando Sua Mente. Bandler, conjuntamente com John Grinder, escreveram o livro Resignificando, onde demonstram o que ela é e como funciona.

Uma conclusão geral é que todo processo de comunicação eficiente usa, intuitivamente ou conscientemente, a neurolinguística. Ela consiste em acionar as chaves que abrem corações e mentes para torná-los desejosos de fazer aquilo que o comunicador ativo, para não usar o termo manipulador, deseja do seu interlocutor, ou vítima. E isso é usado em larga escala, por exemplo, na propaganda. De certa forma a propaganda trata da psicologia da influência, para lembrar um dos títulos queridos dos especialistas em marketing. Veja-se, por exemplo, INFLUENCE: The Psychology of Persuation, de Robert B. Cialdini.

O comunicador neurolinguístico tem a pretensão de poder: convencer (quase) qualquer um de (quase) qualquer coisa, como faziam os sofistas; tornar-se amado, como fazem os líderes; vender ilusões, como fazem os pregadores de ideologias; e dai por diante. Trata-se, ao estudar o assunto, de elucidar a magia da comunicação. Música, presença cênica, luzes, cheiros, etc., fazem parte do arsenal do comunicador neurolinguístico. Porém, havendo necessidades profundas a explorar, basta que ele use voz e gestos apropriados.

Um livro simples, prático e bem intencionado a respeito é o Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, de Dale Carnagie. Todos os livros sobre Como Falar em Público exploram o mesmo princípio. Enfim, trata-se de buscar a comunicação eficiente que pode, dependendo do comunicador, tornar-se manipulação eficiente. O mundo vive disso, daí que o Evangelho de Cristo não deve moldar-se ao mundo, mas buscar transformá-lo pela verdade. Num primeiro momento, a verdade pode ser amarga como o fel, embora, se compreendida e vivida, mostre-se mais doce do que o mel.

Infelizmente, algumas pessoas apossam-se do Evangelho como álibi para ganhar a vida como profissionais da comunicação. Assim, conseguem o que realmente querem: dinheiro, prestígio, emprego, viagens e outras vantagens. Os piores modelos de mercenários nesse campo passam por refinados treinamentos na arte de explorar ovelhas ingênuas e/ou emocionalmente dependentes. Se acreditassem em Deus, saberiam que o inferno os espera. Mas, há os que fazem tudo isso com a consciência limpa, por possuírem vocação para a coisa e nunca refletirem sobre os motivos que estão por trás de sua atuação.


3. ALGUNS CUIDADOS COM A COMUNICAÇÃO DO EVANGELHO
Conforme nos alertou Agostinho, o objetivo da instrução não pode ser manchado pelo agrado e pela persuasão que demanda eloquência do orador, embora não seja errado agradar e persuadir quando a verdade é conhecida, aceita e praticada pelo pregador. Mas, pode ser que o pregador seja um ator/orador nato e, neste caso, ele pode não ter consciência de que está usurpando o lugar de Jesus Cristo.

A manipulação de plateias carentes com músicas, voz modulada sob medida, apelos emocionais e outras encenações não é compatível com a decência na pregação. O uso de cantores que se tornam estrelas, e grupos musicais que imitam a música pagã excitante, são evidências de má consciência caso os atores levem alguma vantagem no processo, seja em dinheiro, seja em prestígio.

Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia (1 Coríntios 10:12), pois é preciso muita humildade para evitar os atrativos da encenação pública. Há quem use conscientemente técnicas de atração do público para, uma vez que as ovelhas em potencial caiam na armadilha, elas recebam a mensagem verdadeira. Não sei até onde é possível fazer isso sem comprometer-se com a mentira e desviar-se da missão de evangelizar para a missão de faturar, sob qualquer pretexto.

Para evitar tais males, justifica-se o culto regulado de forma que seja sóbrio e conservador. Em caso de liberdade criativa, abre-se o caminho para a simples manipulação de líderes adeptos da religião antropocêntrica. Sob esse aspecto, as críticas de alguns ateus inteligentes são pertinentes, e deveriam ser usadas como um sinal enviado por Deus para que a Igreja não se converta ao mundo, ao invés de converter o mundo.

4. CONCLUSÃO
Creio que Agostinho estava certo ao dizer que a missão do pregador deve ser instruir, agradar e convencer. Mas isso se ele está de posse de verdade, crê nela e a pratica, sem afetação. O que se tem visto por ai, em larga escala, é o cinismo de transformar a igreja em teatro, e o pregador em ator que impressiona pela presença cênica. Os ministérios de louvor costumam completar o quadro dessas encenações.

Quem deseja ser um cristão esclarecido, que se informe e se comporte decentemente para que Cristo não seja motivo de piada por sua causa. Quanto a isso, os ignorantes de boa fé estão livres de culpa; mas, aqueles que entram no jogo sabendo suas regras não têm desculpas. A comunicação eficiente ocorre, em primeiro lugar, pelo exemplo. Ela pode usar meios que agradam e persuadem, mas desde que esses meios não se tornem fins em si mesmo.

Pelo uso competente da neurolinguística, podem-se hipnotizar indivíduos, grupos de indivíduos, ou grandes populações, induzindo ovelhas indefesas a entregarem-se a lobos vorazes. As moblizações de guerra o comprovam. A propaganda moderna o comprova. Na política, ela é usada à esquerda, à direita e pelo centro. Mas ela pode ser usada na sua forma mais pura e sem manipulação pelos que defendem a verdade, como Gandhi e Martin Luther King.

Embora Gandhi e King fossem homens imperfeitos, até mais do que a maioria em alguns aspectos, foram usados para demonstrar a possibilidade de mudanças positivas profundas no mundo injusto. Só que, neste caso, é preciso ter mais coragem de morrer do que de matar, ou de perder uma causa do que vencê-la usando fraude. Os políticos em geral não entendem, ou não querem entender isso, pois adotam a neurolinguística na sua versão demoníaca. Imagine todo esse poder sendo usado malandramente em nome de Cristo visando a escravizar mentes frágeis!

No caso da comunicação do Evangelho de Cristo, melhor seria banir tudo que exalta a aparência, ficando apenas com a verdade nua e crua. A verdade é simples, é humilde, é decente. Não finge ser o que não é, nem vive de ilusões. Cristo é a Verdade, o Caminho e a Vida. Os atores do teatro deste mundo podem excitar-se à vontade, mas só encontrarão descanso na Verdade, conforme ilustra este vídeo.

5 comentários:

  1. Oi professor,
    a exposição do artigo é ótima, só tem um pequeno detalhe:
    " É quem pensa estar de pé....isto significa que ninguém está de pé diante de Deus, na verdade a posição correta é estar prostrado, bem é meu pensamento.

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  2. Prezado Anônimo,

    Você está certo. Ninguém está de pé diante de Deus. Eu me referi apenas ao fato de uma pessoa julgar que sua posição está correta, pelo menos pela intenção. Assim, admito que os que sabem que estão errados, são usurpadores. Mas há aqueles que acham que estão de pé, mas que são, no fundo, apenas ignorantes que não sabem que não sabem.

    Obrigado pelo comentário.

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  3. oi,
    ótimo texto, gostei muito mesmo.
    parabens, Deus abençoe o irmão.
    quero destacar isto:
    "Os piores modelos de mercenários nesse campo passam por refinados treinamentos na arte de explorar ovelhas ingênuas e/ou emocionalmente dependentes. Se acreditassem em Deus, saberiam que o inferno os espera."
    Perfeita a consideração, só faltou dar nomes aos bois:
    Waldemiro, Macedo, marco Feliciano, Malafaia, Casal Hernandes... tem muito mais...

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  4. Prezado irmão Maurício,

    Não nomeio ninguém. Cada um que se veja no espelho. As aberrações estão patentes, mas há pequenos manipuladores que não estão tão visíveis assim.

    Que Deus ilumine os presbiterianos para que eles não se deixem seduzir pelo show neurolinguístico.

    Abraços,
    João Martins

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  5. Gostei muito, gostaria de saber mais sobre a ponte entre a neurolinguística e a Bíblia, se existe livros com tal tema. Obrigada.
    Irian Beserra

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