sábado, 4 de setembro de 2010

Como Cristo veria o capitalismo e o comunismo?

As palavras nem sempre representam as coisas que são evocadas para representar. Mas, não há como se comunicar sem elas. Ás vezes elas são usadas para enganar, e às vezes para libertar. Entre essas palavras estão o capitalismo e o comunismo.

Ouvi um sermão no qual o pastor brilhou em sua capacidade retórica ao referir-se aos dois sistemas. Ele afirmou que o capitalismo é o regime no qual o homem à direita explora o homem à sua esquerda. Já no comunismo, afirmou o pastor, ocorre exatamente o contrário. Nenhum dos dois sistemas presta, mas o ser humano teve de viver experiências com os dois. Assim, ele tem elementos para não se deixar escravizar mais por nenhum dos dois, desde que entenda e pratique o Evangelho.

Sob a perspectiva de Cristo, como eu posso avaliá-la, ele defenderia a liberdade do indivíduo e, ao mesmo tempo, sua posição de servo da sociedade. Ele endossaria o paradoxo: "O cristão é livre e não deve satisfação a ninguém. O cristão é servo de todos e a todos deve satisfação." Com isso Ele estaria defendendo ideias que estão tanto no capitalismo como no comunismo e, ao mesmo tempo, combatendo os dois sistemas. E disso depende a liberdade do cristão.

Na sua acepção mais próxima da literal, o capitalismo é, por definição, materialista e ateu. Ele, nessa perspectiva, é a religião de mamom, que Cristo condenou. Ele estimula que o homem idolatre o fruto do seu trabalho e que, ao mesmo tempo, sofra de necessidades que poderiam ser satisfeitas pelos bens e serviços já produzidos pelo trabalho. Na sua versão animal o capitalismo estimula o consumismo, o endeusamento do ego e destruição a Terra sem dar esperança quanto ao Céu.

Igualmente, o comunismo seria automaticamente condenado por Cristo. O ateísmo, afirmou Marx, é a primeira condição para o comunismo. A religião, disse Marx - e nisso talvez ele tivesse razão - é o ópio do povo. O comunismo seria, assim como o capitalismo, o sistema doutrinário do próprio diabo.

Foram os cristãos que, com sua parcimônia, trabalho duro e ética da responsabilidade, viveram segundo os princípios que permitiram a acumulação de capital. Igualmente, foram os cristãos que primeiro partilharam os seus bens de forma que cada um contribuísse segundo suas possibilidades e usufruisse dos recursos em comum segundo suas reais necessidades.

Embora capitalismo e comunismo tenham sido experimentados em sua forma extrema, isso praticamente não existe mais. O mundo conquistou a democracia como um valor universal. Nela, oscila-se em torno da social-democracia, à esquerda e à direita. Mas, para manter essa condição propiciada pela democracia, há que ficar atento, pois o preço da democracia é a eterna vigilância. Desque que não se imponha mais o ateísmo e a supressão da religião, o cristão pode viver muito bem nesse sistema.

Conforme ressaltou Popper no seu livro A Sociedade Aberta e seus Inimigos, o que está em jogo, realmente, é uma luta entre a sociedade aberta e a sociedade com direção central autoritária. No momento a sociedade aberta está vencendo a luta. E nela os cristãos podem sentir-se á vontade, embora devam pagar o preço de responder por sua liberdade.

Um cristão pode ser favorável tanto à sociedade aberta quanto à sociedade dirigida por autoridade central autoritária. Mas só enquanto ainda não atinge sua maturidade em Cristo. E disso depende a sua liberdade individual em qualquer sistema político/econômico.

Dentro desse campo de liberdade conquistado por duras lutas, o cristão tem o grande desafio de viver o Evangelho em meio à tentação do capitalismo e do comunismo latentes. Isto é, o diabo o tenta à esquerda e à direita, e também no centro. A luta real, porém, está no interior de cada homem. E ela só pode ser vencida quando se ancora em Cristo.

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