terça-feira, 8 de novembro de 2011

Evangelho: saber e prática

Quando se trata do Evangelho, há os que se contentam em saber, embora não pratiquem, e há os que praticam sem preocupção com o saber que vá além do essencial, que é o amor em ação.

O saber, em sentido não apropriado, é o acúmulo de informação que não leva, necessariamente, à transformação interior. Ele é típico da mentalidade acadêmica, no mau sentido, esta aferida pela quantidade de textos que publica.

O crente do tipo acadêmico pode não ser um publicador de textos, mas um orgulhoso citador da Bíblia. Para cada situação ele pode citar muitos versículos, pois os decorou sem tê-los, contudo, introjetado no seu coração.

Entretanto, o praticante do Evangelho não perde tempo com demonstrações de saber. Ele não cita, necessariamente, versículos da Bíblia para justificar-se, embora possa fazê-lo ocasionalmente. Ele age.

Contudo, a integração entre saber - ter na memória - e prática pode gerar uma atitude semelhante à atitude científica. A razão, sempre alerta, avalia os resultados da prática e, pela reflexão, pode-se caminhar paulatinamente para a sabedoria, esta integradora do saber e da prática.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A doutrina rigorosa e a doutrina relevante

A realidade impõe-se ao homem, sem piedade. Ela lhe diz: - decifra-me ou morra!

Entretanto, ao envolver-se com a realidade, o homem pode fazê-lo de forma rigorosa, como fazem os acadêmicos e os cientistas, ou de forma relevante, como fazem os homens práticos sem formação teórica sistemática nos seus campos de atuação.

A justiça, na sua forma rigorosa, é uma ilusão, disse Hans Kelsen no seu livro A Ilusão da Justiça. Isso foi ilustrado muito bem no filme O Mercador de Veneza. Assim também ocorre com a doutrina rigorosa. Pode-se dedicar a vida toda a ela sem que se consigam os resultados mais elementares conseguidos por aqueles que apenas praticam o bom senso no dia-a-dia.

A doutrina rigorosa foi defendida tanto pela Igreja Católica Apostólica Romana como pelos Reformadores do Século XVI. E ambos ficaram em lados opostos em muitos assuntos, preferindo a eliminação física mútua do que arrefecer o rigor de suas doutrinas. O rigor a que se referiam tinha natureza lógica, mas não era ratificado nem corrigido pela prática.

Enquanto isso, o amor, que não se submete a qualquer tipo de doutrina, foi posto de lado, ou interpretado de forma a atender os interesses dos doutrinadores rigorosos. Contudo, o amor só pode ser encontrado onde é praticado de forma relevante, sem necessidade de qualquer teoria. Ninguém consegue explicar o amor, mas todos o identificam quando o veem em ação.

Assim, pode-se dizer que há muitas doutrinas conflitantes entre si que se dizem rigorosas, e apenas uma doutrina relevante: a do amor. Pratiquemos, pois, o amor onde quer que estejamos. Na prática ele signfica respeitar e cuidar de forma incondicional daqueles que necessitam de nós e que estão ao alcance de nossas ações ou palavras confortadoras.

Sejamos, pois, rigorosos na doutrina, se possível; porém, sempre relevantes na atenuação do sofrimento do próximo!