domingo, 29 de novembro de 2015

ONDE PROCURAR NA BÍBLIA

Sugestão retirada da Bíblia Sagrada NVI, Editora Vida, 2000, pp 1027-28. Todos os links estão conectados com www.bibliaonline.com.br, Almeida Corrigida e Revisada Fiel.

QUANDO...

Desejar paz interior - João 14; Romanos 8
Tudo correr bem - Salmos 33.12-22; 100 ; 1 Timóteo 8; Tiago 2.1-17
Estiver consigo mesmo - Provérbios 11; Lucas 16
Estiver procurando o melhor empreendimento - Mateus 7
Começar um novo trabalho - Salmos 1; Provérbios 16; Filipenses 3.7-21
Ocupar um cargo de responsabilidade - Josué 1.1-9; Provérbios 2; 2 Coríntios 8.1-15
Construir um novo lar - Salmos 127; Provérbios 17; Efésios 5; Colossenses 3; 1 Pedro 3.1-17
Sair para divertir-se - Mateus 15.1-20; 2 Coríntios 3; Gálatas 5
Desejar viver feliz com o próximo - Romanos 12
Estiver ansioso pelos entes queridos - Salmos 121; Lucas 17
Os negócios fracassarem - Salmos 37; 92; Eclesiastes 5
Estiver desanimado - Salmos 23; 42; 43
Parecer que tudo vai de mal a pior - 2 Timóteo 3; Hebreus 13
Os amigos falharem - Mateus 5; 1 Coríntios 13
A tristeza o assaltar - Salmos 46; Mateus 28
For tentado a fazer o mal - Salmos 15; 19; 139; Mateus 4; Tiago 1
Julgar-se muito sobrecarregado - Eclesiastes 3.1-15
Não puder dormir - Salmos 4; 56; 130
Tiver uma contenda - Mateus 18; Efésios 4; Tiago 4
Estiver cansado - Salmos 95.1-7; Mateus 11
As inquietações o afligirem - Salmos 46; Mateus 6
Sentir que a sua fé está fraca - Salmos 126; 146; Hebreus 11
Achar que Deus parece estar muito distante - Salmos 25; 125; 138; Lucas 10
Deixar o lar - Salmo 119; Provérbios 3; 4
Preparar o seu orçamento - Marcos 4; Lucas 19
Estiver se tornando fraco e indiferente - Mateus 25; Apocalipse 3
Estiver solitário ou temeroso - Salmos 27; 91; Lucas 8; 1 Pedro 4
Tiver temor da morte - João 11; 17; 20; 2 Coríntios 5.1; João 3; Apocalipse 14
Tiver pecado - Salmos 51; Isaías 53; João 3; 1 João 1
Desejar saber como orar - 1 Reis 8.12-61; Lucas 11; 18
Desejar adorar a Deus - Salmos 24; 84; 116; Isaías 1.10-20; João 3; Apocalipse 14
Estiver preocupado com o lugar que Deus tem na vida nacional - Deuteronômio 8; Salmos 85; 118; 124; Isaías 41.8-20; Miquéias 4; 6.6-16


SE VOCÊ...

For provocado por forças inimigas - Efésios 6; Filipenses 4
Estiver enfrentando uma crise - Jó 28.12-28; Provérbios 8; Isaías 55
É invejoso - Salmos 49; Tiago 3
É impaciente - Salmos 40; 90; Hebreus 12
Estiver pesaroso - 1 Coríntios 15; 1 Tessalonicenses 4.13-15,28; Apocalipse 21; 22
E diferente - 2 Reis 5; Jó 38; Salmos 103; 104; Efésios 3
Guardar rancor - Lucas 6; 2 Coríntios 4; Efésios 4
Tiver sofrido grandes perdas - Colossenses 1; 1 Pedro 1
Necessita de perdão - Mateus 23; Lucas 15; Filemon 1
Estiver doente e em sobrimento - Salmos 6; 39; 41; 67; Isaías 26


ONDE ENCONTRAR...

Os dez mandamentos - Êxodo 20; Deuteronômio 5
O salmo do pastor - Salmo 23
O nascimento de Jesus - Mateus 1; 2; Lucas 2
As bem-aventuranças - Mateus 5.1-12
O pai-nosso - Mateus 6.5-15; Lucas 11.1-13
O sermão da montanha - Mateus 5; 6; 7
O grande mandamento - Mateus 22.34-40
A parábola do bom samaritano - Lucas 10
A parábola do filho pródigo - Lucas 15
A parábola do semeador - Mateus 13
O juízo final - Mateus 25
A crucificação, a morte e a ressurreição de Jesus - Mateus 26; 27; 28; Marcos 14; 15; 16; Lucas 22; 23; 24; João 13.21
A descida do Espírito Santo - Atos 2

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Os Sistemas de Doutrinas Cristãos e Suas Verdades

(Versão 28/09/2010, em redação e passível de muitas modificações. O texto está sendo submetido a consulta pública para identificação de oportunidades de melhorias em todos os aspectos.)


RESUMO
Esta é a reflexão de um leigo que busca algum entendimento sobre os critérios da verdade e suas consequências no estabelecimento de sistemas de doutrinas cristãos. Tenho em mente tentar elucidar algumas possíveis causas de dissenso, assim como evidenciar o consenso que poderia permitir o diálogo civilizado entre os seguimentos que se acusam mutuamente de erros e heresias. Não viso ao ecumenismo, mas à comunicação eficaz entre seres humanos ditos civilizados.


1. INTRODUÇÃO
O ser humano, conforme ressaltou o cientista social Erich Fromm, necessita de um sistema de orientação e devoção para viver. Em outras palavras, todo ser humano tem uma religião, ainda que ela não se faça representar por um sistema doutrinário formal. A religião não reconhecida como tal pode ser, por exemplo, a do consumismo, a do poder e a do individualismo, eventualmente com todos esses aspectos atuando em conjunto.

Quanto à religião propriamente dita, ela pode ser formal ou real. No primeiro caso Jesus Cristo citou como exemplo a religião dos fariseus. Entre outros exemplos que Ele usou para ilustrar o segundo caso, destaca-se o do bom samaritano. Um sistema de doutrina, para Jesus, poderia ser usado como máscara para uma religião da mentira. Talvez por isso Ele tenha sintetizado o seu sistema doutrinário de forma simples, concisa, clara e profunda.

A reflexão proposta neste texto visa a atualizar o meu ponto de vista sobre o tema. Pretendo ficar em paz com minha consciência, além de compartilhar minhas ideias com quem possa ajudar-me a compreendê-las. Começo colocando em destaque a doutrina de Cristo, pois Ele é a referência máxima para todo aquele que se diz cristão.


2. A DOUTRINA DE CRISTO
Segundo Jesus Cristo, a síntese da doutrina da salvação está no amor, o qual deve ser visto sob uma perspectiva prática, conforme será enfatizado mais à frente. A fé é uma espécie de condição para o amor a Deus, a quem não se vê.

Ele resumiu sua doutrina em Mateus 7:12: Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas. Mas, Ele resumiu a mesma mensagem em outros formatos, como veremos a seguir.

Em Mateus 19:16-22, lê-se:
“E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?
E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.
Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho;
Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.”

Em Mateus 22:34-40, Ele resume novamente sua doutrina:
“E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar.
E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo:
Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”

Em síntese, a doutrina de Cristo foi resumida por ele mesmo num único ponto: o amor. A fé é um pressuposto para que Deus seja conhecido e amado, sendo que esse amor deve ser estendido ao próximo.

Porém, os teóricos podem argumentar: - Ele sintetizou sua doutrina no amor, mas isso não resolve a questão. A fé, que está na origem de tudo, é um dom de Deus. Ninguém pode decidir ter fé. Além do mais, Cristo só está acessível aos escolhidos desde a fundação do mundo. Ele mesmo disse isso. A doutrina deve ser buscada na Bíblia com um todo, pois ela fala de Cristo de Gênesis a Apocalipse. Portanto, não é o caso de partir de uma doutrina tão simples como foi colocada pelo próprio Jesus nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.

Entretanto, respondo eu, o leigo e ignorante em teologia: - Se a doutrina sintetizada por Jesus não for suficiente, nada mais é suficiente. Por outro lado, se ela é verdadeira, todo sistema doutrinário válido deve ser derivado dela, necessariamente, pois ela é a doutrina-raiz. Ele veio ao mundo explicar isso. Quanto à questão de Ele ter vindo resgatar somente os escolhidos, isso sequer é relevante, pois todo aquele que se sentir atraído por Ele pode ser considerado escolhido.

Além do mais, continuo: - A ninguém é lícito saber quem é ou não escolhido. Se isso fosse possível, muitos se vangloriariam. É necessário, pois, que o Evangelho seja anunciado a todos, e que ninguém seja julgado como tendo sido ou não escolhido, pois, como foi dito, a fé vem pelo ouvir. Até o último instante, como aconteceu com o ladrão que estava a seu lado na cruz, é possível que o predestinado fique consciente de sua situação.

Prosseguindo com meus ingênuos argumentos, eu ainda lembro que, independente de qualquer outro aspecto, Ele deu esperança a todos quando disse, em Lucas 11:9-13:

“E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.
E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?
Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”

Apesar da concisão, profundidade e clareza de Sua mensagem, muitos dos pretensos seguidores de Cristo demonstram estar perdidos num pantanal semântico, separando o que Ele uniu. Às vezes o debate se concentra no dilema fé versus obras. Eventualmente ele se estende ao conflito entre a soberania de Deus e o livre arbítrio humano. Outros se focam na quantidade de água usada no batismo. E dai por diante.

Todos os defensores de pontos de vista diferenciados fazem-no em nome de sua presumida capacidade de usar a razão para julgar o que é verdadeiro ou falso. Entre eles, alguns se dizem lógicos, e até capazes de encontrar a verdade por meio da dialética. Esta, por sua vez, é entendida por alguns como o processo de diálogo entre pessoas interessadas em encontrar a verdade, enquanto outros a entendem como o processo de convencer o interlocutor com argumentos retóricos. Entre os que se dispõem a persuadir o outro, muitos o fazem como meros manipuladores.

Os que procuram interpretar a doutrina de Cristo dizem-se, muitas vezes, inspirados pelo Espírito Santo, embora essa inspiração possa ser confundida com mera confusão mental, quando não se trata de simples má fé. Entre eles, alguns reivindicam sua autoridade por meio da realização de milagres; porém, sabemos que o diabo também realiza milagres e até mesmo crê e treme. De uma maneira geral, muitos líderes transformam-se em especialistas em condicionamento psicofísico de ovelhas mentalmente exauridas por sofrimentos e desilusões.

Ao analisar a Bíblia, seja ela considerada como sendo a Palavra, contendo a Palavra, ou tornando-se a Palavra, todos assumem que usam a razão para chegar à verdade. Fixemos, pois, nossa atenção no problema da verdade.


3. O PROBLEMA DA VERDADE
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (João 8:32).

Para chegar à verdade, é preciso que haja revelação, mas cabe à razão avaliar a própria revelação, para que ela não seja fruto de ilusão ou fruto de influência maligna. A razão atua conjuntamente com a fé, e nos assuntos de natureza material ela é usada pela ciência para formular e testar teorias. Reflitamos, pois, sobre a própria razão antes de discutir o problema da verdade e prosseguir com o esforço de compreensão dos seus critérios.

3.1 - A Razão
Cabe à razão analisar, julgar e sintetizar. Mas, seu trabalho não pode restringir-se à teoria. A teoria só faz sentido quando confrontada com a prática. Os sistemas religiosos, como todos os demais, são automaticamente questionados em função da vida prática, pois é nela que se manifestam os frutos da doutrina professada.

É por meio da razão que se faz a análise crítica desses sistemas para confirmá-los, reformá-los, refutá-los e substituí-los, conforme aconteceu no processo da Reforma Protestante do século XVI. O próprio Jesus Cristo foi um divisor de águas entre o Antigo e o Novo Testamentos, tendo sua atuação ocorrido de acordo com o preconizado desde Gênesis. Como Verbo, Palavra, ou Logos, enfim, como a síntese suprema da Verdade, Ele esclareceu o que estava antes oculto sobre Si no Antigo Testamento.

Agostinho de Hipona, citado no livro A História da Filosofia Cristã, de Boehner e Gilson, fez uma distinção que será muito útil a esta reflexão. Para ele, a razão atua em dois níveis: um inferior, ligado à condição animal do homem; e um superior, ligado à sua condição espiritual. Esses dois níveis estão sempre em conflito, até que um deles vença e prevaleça.

Com Agostinho, entendo que a razão do homem como animal é o instrumento articulador dos meios para se atingirem os fins ligados à sua própria sobrevivência e satisfação, geralmente sem levar em conta os interesses dos demais, a não ser de uma forma pragmática; porém, cabe à razão espiritual buscar o interesse do outro sem segundas intenções. Só quem a exercita torna-se verdadeiramente humano e capaz de amar a Deus e ao próximo.

Entretanto, ao usar a razão para elaborar sistemas doutrinários, pressupõe-se que se aplique um critério para a verdade, o que nos leva a perguntar: - O que é a verdade e quais os seus critérios? Tentarei responder a esta pergunta a seguir, de forma sintética.

3.2 - O Problema da Verdade em Geral
A verdade em geral pressupõe a adequação do pensamento à coisa pensada. Nesse processo o pensamento é confrontado com o seu objeto de diferentes maneiras, e as conclusões são tiradas segundo critérios que devem ser aceitos pelas pessoas consideradas aptas.

O pensamento puro, sem confrontação com o seu objeto, pode apegar-se a todo tipo de fantasia. Por meio de artifícios, pode até reivindicar que a fantasia seja considerada como verdade. Na matemática e na geometria o pensamento puro pode criar conceitos verdadeiros, passíveis de demonstração racional. Mas o mesmo não acontece quando o pensamento puro pensa uma “coisa em si” que não pode ser criada pela razão ou alcançada pela interação direta. .

Na investigação da natureza, o pensamento começa sempre como uma crença mais ou menos justificada que, mediante a confrontação com o objeto pensado, pode vir a representá-lo com maior ou menor fidelidade, seja por meio de um conceito ou de um modelo físico ou matemático, segundo algum critério de verdade. Porém, o problema central da verdade consiste em se encontrar um critério de verdade que seja verdadeiro.

No caso ideal, esse critério deve ser passível de uso por pesquisadores independentes. Quando se trata de tecnologia ele pode ser representado por um gabarito, ou instrumento de medição. No comércio, ele depende de o cliente demonstrar sua satisfação pagando pelo bem ou serviço que lhe é oferecido, e ainda ficar disposto a repetir sua compra ou indicar o produto para amigos.

Contudo, quando se fala de religião, o critério de verdade só pode ser mesmo a fé posta em prática. E esta deve gerar, além de obras tangíveis, bens espirituais intangíveis por natureza, tais como a alegria de viver em comunidade de partilha. Os corações libertos não se prendem a bens materiais, embora lhes dê o devido valor para manutenção das condições de existência típicas da vida delimitada pela existência corporal.

Quando exercitada em última instância, a fé leva ao encontro místico do religioso com Deus. Esse encontro, por sua vez, não tem como ser transmitido de forma objetiva, o que exige que aqueles que dizem passar por ele comuniquem entre si de forma a gerar uma objetividade compartilhada. Os observadores externos com mentalidade científica não reconhecem essa experiência, e têm-na como mera imaginação sem valor universal. Já os negociantes da fé e embusteiros diversos podem usar a subjetividade e a emoção para dominar corações e mentes não agraciados com a faculdade da razão crítica em grau suficiente para a autodefesa.

No cristianismo o critério da verdade deve ser buscado diretamente em Jesus Cristo, pois Ele é a fonte espiritual do cristão. Reflitamos sobre isso a seguir.

3.3 - A Verdade Segundo Jesus Cristo
Paulo resumiu os essenciais do cristianismo na fé, na esperança e no amor, tendo apresentado o amor, assim como o fez Jesus, como a síntese perfeita da doutrina cristã. Entretanto, em algum momento parece que ele fixa sua atenção na oposição entre fé e obras, o que acredito ser uma percepção errônea de seus argumentos.

Nesta reflexão parto de Jesus diretamente, ao invés de partir de Paulo, pois só Ele tem a doutrina-raiz em si mesmo. O axioma fundamental aqui é que Ele é a Verdade. Isso significa que nEle fé, obras, razão, amor e conhecimento estão perfeitamente alinhados. Todos os desdobramentos para se elaborar uma doutrina cristã devem partir desta pressuposição. Tudo o mais pode e deve ser questionado.

Algumas afirmações importantes sobre como conduzir-se a partir da doutrina de Jesus são apresentadas a seguir, retiradas de Mateus 8:24-27:

"Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.
E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda."

Disse Jesus, em João 13:35: - Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Em João 13:34, ele disse: - Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Em João 14:23, lê-se: - Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.

Em síntese, Ele próprio é a Verdade - Logos e Amor -, e tudo o mais que deve ser levado em conta. Essa síntese mais ampla encontra-se em João 14:6: - Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

Conforme ficou demonstrado, o critério de verdade que está na doutrina de Cristo é a prática. Entretanto, a Verdade, que é Cristo, é interpretada pelos sistemas de doutrinas cristãos, conforme veremos a seguir.

3.4 - A Verdade Segundo o Cristianismo
Cristo é a Verdade, o Caminho e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Ele. Mas os cristãos agrupam-se em função de suas interpretações dessa Verdade, gerando verdades e, talvez, "verdades", que transformam num sistema de doutrina com maior ou menor grau de detalhamento. Cada seguimento tem seus próprios critérios para a verdade, mesmo quando dizem que partem da mesma fonte e usam o mesmo método para encontrá-la. Destacarei, para ilustrar a situação, dois desses seguimentos que se colocaram em oposição: o católico romano e o protestante reformado.

3.4.1 - A verdade segundo o catolicismo romano
O critério da verdade no catolicismo romano é particularmente defendido pelos tradicionalistas. Esse critério é a palavra do Papa exercendo o seu magistério infalível, isto é, pronunciado-se ex-cathedra, como representante de Cristo na Terra. O tradicionalista acredita que o catolicismo romano é a única religião verdadeira, e que não existe algo chamado cristianismo, pois isso levaria a aceitar toda a confusão protestante que infestou e continua infestando a cristandade com erros e heresias.

Os católicos romanos afirmam que a Bíblia, sendo um livro organizado pela Igreja Católica a partir de uma matriz judáica inicial – o Antigo Testamento -, precisa ser interpretada. Mas, se essa interpretação for deixada a critério de cada indivíduo, como fazem os protestantes, não se chegaria nunca a verdades, mas a opiniões. E esse erro primário decorreria do fato de os protestantes terem se afastado da Verdade, esta representada na Terra pelo Papa. O católico ainda ressalta que o Papa é assessorado pelas mentes mais brilhantes entre os doutores da Igreja, entre os quais se destacaram, ao longo dos séculos, dois luminares: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino.

Quanto à necessidade de se consultarem tais especialistas, até mesmo Calvino e Lutero, os principais reformadores protestantes, concordaram. Desta forma, o critério da Igreja Católica Romana parece bastante razoável, tendo em vista criar um referencial único para os seus seguidores. Porém, esse critério foi contestado pelos articuladores da Reforma Protestante do século XVI, conforme veremos em seguida.

3.4.2 - A verdade segundo a visão reformada
Calvino e Lutero, entre outros, alegaram que a verdade foi deturpada pela Igreja Católica tendo em vista que o papado tornou-se uma instituição política e econômica, apossando-se da Igreja de Cristo e transformando-a em "sinagoga de satanás". Para eles os cristãos teriam se tornado reféns de doutrinas humanas contaminadas pela filosofia pagã tomada como referência para endossar as verdades reveladas por Cristo.

Calvino e Lutero, entre outros, fixaram como critério de verdade a fé na Palavra inerrante de Deus que está escrita na Bíblia. Para eles, toda a Bíblia é inspirada por Deus, e a verdade deve ser procurada lá, para cada questão espiritual e moral proposta. Havendo dúvidas, ou aparência de contradição, a Bíblia deve ser examinada detalhadamente para se encontrar a palavra final. No caso de Lutero, ele colocou a sua consciência acima da autoridade de teólogos, bispos e papas, mas não antes de analisar os argumentos deles. Isto é, ele usou sua razão.

Entretanto, dizer que o critério final da verdade é a própria Palavra que está na Bíblia não torna mais fácil o estabelecimento de um sistema bíblico de doutrina que seja considerado verdadeiro. Por exemplo, Calvino e Lutero, embora concordassem em certos temas essenciais, discordaram entre si de tal maneira que os luteranos se mantiveram afastados dos calvinistas, ambos formulando doutrinas que levaram à consolidação de igrejas independentes.

No item seguinte apresentarei brevemente um exemplo de conflito entre muitos outros que decorrem de se usarem critérios de verdade não reprodutíveis universalmente.

3.4.3 – Um exemplo de conflito decorrente dos critérios de verdade adotados
A história do cristianismo registra vários conflitos que decorrem de diferentes interpretações de uma mesma passagem, ou diferentes interpretações de um tema sobre os quais há, na Bíblia, várias passagens a favor e contra uma dada interpretação. Ilustremos a dificuldade de interpretação tomando como referência um tema polêmico: a predestinação.

Para esse tema evoquemos, inicialmente, Tomás de Aquino, um teólogo considerado como o mais respeitado pela Igreja Católica Apostólica Romana. Aquino, ao considerar o tema, levou em consideração tudo que era relevante sobre ele, inclusive as considerações de Agostinho de Hipona, um teólogo respeitado tanto pelos católicos quanto pelos protestantes reformados.

Os argumentos de Aquino aqui apresentados estão desenvolvidos na Suma Teológica, Vol I, Edições Loyola, 2006, nas páginas de 448 a 469. Em relação ao tema, ele faz e responde 8 perguntas. Para cada uma delas ele apresenta argumentos favoráveis e contrários, tirados tanto da Bíblia quanto dos filósofos/teólogos cristãos respeitáveis. Em seguida ele dá a sua resposta, sempre procurando encontrar um meio termo justo a respeito do assunto, mas sempre respeitando a doutrina oficial da Igreja Católica. Seguem-se alguns excertos tirados de suas argumentações.

"Convém que Deus predestine os homens."

"A predestinação não é algo nos predestinados, mas somente naquele que predestina. Como foi dito, a predestinação é parte da providência."

À pergunta número 3 “Deus Reprova Algum Homem?”, ele responde: - "Deus reprova alguns."

No Artigo 4, à pergunta Os Predestinados São Eleitos por Deus?, ele responde: - "A predestinação, segundo a razão, pressupõe a eleição; e a eleição o amor."

No Artigo 7, à pergunta O Número dos Predestinados é Certo?, ele responde: - "O número dos predestinados é certo."

A CFW - Confissão de Fé de Westminster -, adotada pelos presbiterianos, entre outras denominações reformadas, foi influenciada por Calvino. No caso, porém, o que está lá sobre predestinação parece-me, salvo melhor juízo, mais próximo da interpretação de Tomás de Aquino. Contudo, Calvino é geralmente acusado de ser o teólogo da predestinação.

A Igreja Católica Apostólica Romana, que em vários outros temas baseou-se em Tomás de Aquino durante o Concílio de Trento, convocado para responder às críticas dos teólogos Reformados, não transformou a predestinação em doutrina, não importando o quanto o tema estivesse explicitado na Bíblia e o quanto seus teólogos maiores, Agostinho e Tomás de Aquino, tivessem racionalizado essa doutrina. Quanto a isso ela foi coerente, pois as suas verdades são estabelecidas pelo magistério do Papa manifestando-se ex-cathedra, consultando a Bíblia, a Tradição e os doutores da Igreja.

O que se pode concluir do que foi dito até aqui?

Creio que, não havendo um gabarito universal e impessoal para aferir a verdade, ela passa a depender da fé e da decisão de certo sistema de doutrinas representado por uma instituição. No caso da Igreja Católica, a verdade que dela procede passa pelo filtro institucional, pressupondo-se a revelação e o uso da razão na análise da Bíblia e da Tradição. Um estudioso não pode usar sua liberdade para, alegando ter descoberto uma verdade alternativa, disseminá-la livremente, como se fosse um cientista comum. Já os protestantes sentem-se mais confortáveis quanto a usar sua consciência individual, isolando-se mais rapidamente em relação às decisões de suas instituições quando delas discordam. Estas, por sua vez, são numerosas e raramente coordenadas entre si.

O homem de fé que, ao mesmo tempo, exercita sua razão, julga que sua consciência é a melhor e mais segura fonte para encontrar a verdade, a menos que ele se contente em depositar sua confiança em especialistas que passem a pensar por ele. Quanto a isso os Reformadores, especialmente Calvino e Lutero, ousaram enfrentar a Igreja Católica que, segundo argumentaram, estava sob o comando do próprio inimigo, o que lhe tirava toda autoridade cristã. No limite, cada intérprete, no uso de usa liberdade de consciência, colocou-se à disposição para enfrentar seus opositores no campo da persuasão e até mesmo da luta física. Quanto a isso, também ocorreram e ainda ocorrem excessos entre os que se dizem cristãos Reformados e, em especial, cristãos independentes.

Apesar do que foi dito, creio que há alguns fundamentos mínimos compartilháveis por aqueles que não decidiram eliminar-se mutuamente para fazer prevalecer os seus critérios de verdade. Mas trata-se da minha opinião apenas. Não me disponho a matar ou morrer por essa opinião. Pensemos juntos sobre alguns desses possíveis fundamentos.


4. OS FUNDAMENTOS MÍNIMOS COMUNS
Os essenciais que unem, ou deveriam unir, todos os cristãos, ainda que divergentes quanto a diversos aspectos doutrinários são, na minha opinião: Deus, o amor e a vida prática. Todos concordam que a Bíblia é o principal documento de referência.

4.1 - Deus
Não há divergência quanto ao conceito de Deus. Aceita-se que Ele seja triuno. Os que se posicionaram contra a divindade de Jesus, como as Testemunhas de Jeová e os Mórmons, ficaram à parte do campo cristão. Se outros dissidentes há, eles guardam suas dúvidas em silêncio. O documento comum quanto a isso é o Credo Apostólico. Há, contudo, divergências quanto ao modo de salvação colocado por Deus à disposição dos homens, assim como a forma mais correta de cultuá-Lo.

4.2 - O Amor
Quanto ao amor, todos concordam, em teoria, que ele é a síntese do Evangelho de Cristo. Contudo, não se chegou a doutrinas ou práticas de consenso a esse respeito. Parece até que o foco no amor foi deslocado para o foco na fé ou nas obras, gerando a fonte principal das divergências entre protestantes e católicos romanos. Isso, conforme creio, pelo fato de os conceitos terem sido pinçados fora de sua ligação íntima indissociável.

4.3 - A Vida Prática
Todos os seguimentos do cristianismo concordam que o homem está obrigado a exercer, na prática, a doutrina que professa. Todos igualmente acreditam na educação do cristão, visando a infundir-lhe hábitos e virtudes que possam orientá-lo como peregrino neste mundo, além de treiná-lo no uso da razão. Esta vem do próprio Cristo, que é o Logos. Para viver na prática o homem tem necessidade de conhecer a Deus, a si mesmo, ao próximo, à natureza e à interação de todos os fatores que afetam a sua vida.

Entretanto, cada homem nasce com potencial de conhecimento e com faculdades humanas potenciais que precisam ser desenvolvidas. Então, ele precisa ser acolhido quando chega ao mundo. Precisa ser amado e receber todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento sadio. A educação pelo exemplo deve ter precedência sobre a pregação de virtudes, pois a criança não tem ainda condições de usar sua razão sem ter vivido experiências relevantes. Diz-se que a educação vem do berço. Só então, durante seu desenvolvimento, a pessoa terá condições de usar sua razão, de forma progressiva, até que adquira condições de tomar suas próprias iniciativas.

Ao chegar ao mundo, o homem recebe um sistema de doutrina pronto. Ele o herda e, eventualmente, reforma ou rejeita. Seu posicionamento, por mais que possa ser pessoal, é influenciado pelo meio. Ele entra em contado com sistemas e subsistemas conflitantes e deve, com o tempo, posicionar-se. Sua liberdade está no conhecimento, mas este depende de fé e, quando entende a mensagem de Cristo, concluiu por si mesmo que o amor é a doutrina central da vida sadia.

Vejamos, brevemente, a natureza dos sistemas de doutrinas cristãos que o homem herda do seu meio, os quais reivindicam ser verdadeiros.


5. OS SISTEMAS DE DOUTRINA
Neste tópico apenas remeterei os leitores aos documentos fundamentais que contêm as doutrinas típicas dos dois seguimentos cristãos aqui tomados como referência: o católico romano e o protestante reformado.

5.1 - A Doutrina Católica Romana
A doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana pode ser mais bem conhecida por meio dos documentos do Concílio de Trento e do Concílio Vaticano I, considerados infalíveis e, portanto, eternos. Esses documentos podem ser encontrados em endereços eletrônicos dos seguimentos que defendem o catolicismo ortodoxo, por exemplo: www.montfort.org.br, entre outros.

Os documentos do Concílio Vaticano II, embora sejam apresentados como a versão atualizada da doutrina católica, inclusive no sitio oficial www.vatican.va, não são reconhecidos pelos católicos tradicionais como válidos, pelo fato de o Concílio não ter sido infalível, mas apenas um encontro de natureza pastoral visando à abertura para o mundo, ao invés de transformá-lo.

Os defensores da ortodoxia católica acreditam que a situação atual do mundo é uma conseqüência, entre outros fatores, da influência nefasta do protestantismo.

5.2 - A Doutrina Reformada
A doutrina reformada opôs-se à doutrina católica com o pressuposto de que a estava corrigindo. Ela é melhor representada pela doutrina reformada de orientação calvinista; porém a esta opôs-se, igualmente, a doutrina reformada de orientação arminiana. As duas doutrinas continuam compartilhando pontos comuns contra a doutrina católica, mas são conflitantes entre si, conforme veremos.

5.2.1 – A doutrina reformada de orientação calvinista
O documento mais representativo do movimento protestante é a Confissão de Fé de Westminster. Ela não substitui a Bíblia, que permanece como o único documento de referência infalível, mas é tida, pelos Reformados, como a melhor representação da doutrina cristã contida na Bíblia. Basta usar o Google para localizar esse documento em sua versal original ou na versão adaptada a denominações que o tomam como base.

Uma apresentação compreensível da teologia reformada pode ser encontrada no livro de R. C. Sproul O que é a Teologia Reformada. Seus fundamentos estão concentrados em cinco pontos principais: centrada em Deus; baseada somente na Palavra de Deus; comprometido somente com a fé; dedicada ao profeta, sacerdote e rei; apelidada de teologia da aliança. Sproul aponta todas as divergências dessa doutrina em relação à doutrina católica.

Entretanto, há que se destacar que a doutrina reformada teve em Calvino o seu articulador típico, e que ela foi tida por seus adeptos como uma doutrina bíblica. Para ressaltar a oposição que lhe fez Armínio, inicialmente um calvinista, Sproul destaca os cincos pontos da sotereologia reformada, como sendo: a corrupção radical da humanidade; a opção soberana de Deus; a expiação intencional de Cristo; o chamado eficaz do Espírito; Deus e sua preservação dos santos.

5.2.2 - A doutrina reformada de orientação arminiana (em construção)

5.2.3 - Um comentário pessoal sobre as doutrinas calvinista e arminiana
Em minha opinião de leigo, o conflito se estabeleceu pelo fato de Calvino não ter fugido das questões mais difíceis da Bíblia. Tais questões foram elevadas ao status de doutrina na Confissão de Fé de Westminster.

Armínio, chocado com a aparente falta de piedade desses pontos difíceis, partiu para uma visão mais humanista de Deus. Este lhe parecia poderoso, porém gentil, como são os pais e mães em relação aos seus filhos. Para isso ele contou com passagens igualmente bíblicas que poderiam endossar o seu ponto de vista, mas foi derrotado por um conselho de sábios.

Tomados isoladamente, tanto Calvino como Armínio estão corretos, pois retiram suas doutrinas da Bíblia. Entretanto, os sábios reunidos no Concílio de DORT, aceitaram a exposição de Calvino e rejeitaram, com sendo contrário aos ensinamentos da Bíblia, a exposição de Armínio.

5.3 - Doutrinas Não Alinhadas
O movimento protestante facilitou que surgissem muitas versões do cristianismo, com suas doutrinas particulares sendo independentes dos dois sistemas doutrinários principais. É comum que um indivíduo crie, a qualquer momento, sua igreja. E isso, embora às vezes seja considerado um mal, tem sido tolerado como fazendo parte da liberdade religiosa conquistada pela civilização.

Uma doutrina não alinhada está livre, por exemplo, para voltar à própria doutrina de Cristo sem ter que pedir satisfação às autoridades estabelecidas. Isso coloca a questão religiosa no âmbito do direito á liberdade de consciência o que, pessoalmente, julgo estar correto. De qualquer forma, essa liberdade foi conseguida com sangue, suor e lágrimas, o que a torna naturalmente soberana entre os homens civilizados.


6. UMA BREVE DISCUSSÃO

Se eu estivesse no mundo como um espião de Jesus Cristo, e tivesse que Lhe fazer um relatório, eu me sentiria bem constrangido. Para conhecer todos os seguimentos ditos cristãos, eu deveria participar de todos eles, inicialmente aceitando plenamente suas doutrinas. Isso incluiria, por exemplo, participar dos movimentos considerados heréticos, como o espiritismo kardecista, as Testemunhas de Jeová e os Mórmons. Ao entrar e sair de cada um desses seguimentos eu me sentiria um pouco perdido.

De acordo com a introdução desta reflexão, eu me basearia, sobretudo, na compreensão da verdade e de seus critérios. Eu perguntaria a Cristo o que ele define como verdade, lembrando que Ele, embora tenha dito ser a Verdade, não respondeu a Pilatos essa pergunta. Somente se Ele me respondesse eu me aventuraria a fazer julgamentos.

Contudo, se eu pudesse fazer um relatório neutro, eu apenas relataria sobre as diferentes doutrinas existentes e seus respectivos frutos. Entre eles muita disputa intelectual e até extermínios ao longo dos séculos. Eu lembraria, por exemplo, que Sua divindade foi posta em dúvida até o Concílio de Nicéia, em 325, e que o assunto teve de ser decido pelo Imperador Constantino.

Em seguida, eu Lhe lembraria que a heresia defendida pelo Bispo Ário, no Concílio de Nicéia, reapareceu no século XIII na França, entre os cátaros. Dir-Lhe-ia, ainda, que a heresia só foi eliminada pela derrota militar dos cátaros, com o seu suposto extermínio e que, mesmo assim, ela voltou com as Testemunhas de Jeová e com os Mórmons.

Eu Lhe relataria que os católicos atualmente estão divididos entre tradicionais e modernistas, e que o Concílio Vaticano II não é aceito pelos primeiros. E tudo isso, possivelmente, devido a interpretações diferentes sobre o que seja a verdade e seus critérios.

Quanto à Reforma Protestante, eu Lhe diria que ela se perdeu em inúmeras versões que se acusam mutuamente. Entretanto, eu teria de declarar que minha análise não seria neutra. Dir-lhe-ia que tive formação protestante, à qual acredito dever minha liberdade de expressão. Pelo menos hoje, eu Lhe diria, é possível que certos seguimentos, se quiserem, ajam de acordo com a Verdade, ainda que só na intenção, por não compreendê-la totalmente.

Eu Lhe diria, ainda, que entre os católicos há muitos seguimentos que se acomodam dentro do sistema oficial. Os católicos, entre aqueles que conheço, eu lhe diria que O buscam sinceramente, embora alguns sejam supersticiosos, e outros, da mesma forma como ocorre entre os protestantes, aproveitem-se da ignorância do povo para tirar vantagens pessoais.

Entretanto, eu manifestaria muita preocupação com a usurpação da Verdade por negociantes da fé. Eles usam a terminologia cristã básica e modificam o que julgam necessário para chegar ao coração e ao bolso das ovelhas mais indefesas. Muitas dessas ovelhas, contudo, merecem ser enganadas, pois agem como pequenos lobos que tentam fazer negócios com Deus.


7. CONCLUSÃO
O grau de verdade contido nos sistemas de doutrinas cristãos não pode ser aferido pelo método típico da ciência objetiva. Nem pode ser garantido por nenhum método de interpretação. Ele depende, pois, de uma consciência que, se não estiver preenchida pela fé e pelo amor, além do controle da razão espiritual, será fonte da mentira e do engano.

Sob a ótica de Cristo, por exemplo, os homens serão cobrados por suas obras, e é um pressuposto que essas obras sejam as obras da fé, revestidas pelo amor e, ainda assim, sob a coordenação da razão, mas esta atingindo o nível espiritual.

Por outro lado, a doutrina protestante, opondo-se à doutrina católica romana, defende que a salvação depende da fé somente. Porém, como ressaltaram Lutero e Calvino, essa fé é fonte de amor e se manifesta, de forma visível, por meio de obras.

Já a Igreja Católica, a partir do Concílio de Trento, reafirmou que o homem não é salvo pelos seus méritos, mas pela graça de Deus, que é a fonte da fé e do amor. Contudo, os homens necessitariam ser educados para adquirirem uma certa predisposição da vontade para realizar as obras da fé.

Em síntese, percebo, como leigo, que as doutrinas, sob esse aspecto, são semelhantes. No meu ingênuo posicionamento como leigo a questão é basicamente semântica, e decorre da inexistência de um critério objetivo de verdade. E isso implica que, na falta desse critério objetivo, o critério necessário seja a fé e a prática, conforme está na doutrina de Cristo.

Porém, os especialistas não concordam comigo. Eles afirmam que essas doutrinas são completamente dessemelhantes e incompatíveis e que eu devo optar por uma delas. O que eles mais prezam é exatamente o fato de serem racionais e, como tal, serem capazes de separar o verdadeiro do falso. Diante de sua pretensão, abrem caminho para os racionalistas ateus que argumentam: - Eles rejeitam-se uns aos outros, e eu os rejeito a todos, pois não demonstram sequer saber do que estão falando.

Tendo em vista que alguns desses especialistas são homens de fé, igualmente inteligentes e bem formados, torna-se imperioso, para um leigo como eu, assumir que eles têm critérios de verdade diferentes, e que isso é permitido por Deus. Ora, se Deus permite que isso aconteça é por que há alguma finalidade nisso. Quem sou eu para questionar ou dar ganho de causa a um dos lados?

Contudo, julgo uma questão de justiça que eu não seja constrangido a escolher entre doutrinas que se contradizem. Reivindico o direito de ficar com a doutrina-raiz, ensinada diretamente por Cristo. Afirmo que, se ela não é uma doutrina segura, nenhuma outra pode substituí-la com tal prerrogativa. Reivindico que é melhor estar com Cristo do que alinhar-se a doutrinas de homens que se dizem intérpretes de Cristo e que, ao mesmo tempo, não chegam a um acordo sobre Sua mensagem.

Concluo, em função disso, que não compete a cada consciência individual ou institucional fazer-se guardiã das consciências e instituições alheias, pois não lhes foi dado um gabarito seguro para decidir sobre a verdade. Embora a necessidade de viver em grupo implique o compartilhamento de algum consenso para o grupo estabelecido, cada indivíduo só tem a própria consciência para fazer o seu julgamento íntimo. E todos serão julgados, individualmente, por Deus.


8. SUGESTÕES
Um sistema de doutrina, para ser levado em consideração, deve ser simples, conciso e claro, além de aplicável. O melhor deles, na minha opinião, é o do próprio Jesus Cristo. O sistema de Cristo foi sintetizado por Ele mesmo. Os humildes de coração estão em condições de praticar esse sistema imediatamente, sem maiores necessidades de teorias que o expliquem.

Contudo, para efeito de educação, é razoável aceitar sistemas formais, ainda que falíveis, posto que humanos, como desdobramentos da doutrina do próprio Cristo. No início de suas vidas, as pessoas precisam viver em ambientes em que a prática seja muito mais comum do que o discurso, para que aprendam naturalmente a agir de acordo com os pressupostos do Evangelho de Cristo.

Fazendo parte do seu crescimento, elas deveriam ser apresentadas à lógica formal e à lógica dialética, ambas integradas ao método científico. Deveriam ser levadas a conhecer o papel da fé no próprio método científico, assim como as limitações da razão. Feito isso, as pessoas poderiam adquirir meios de se posicionarem criticamente diante dos inimigos da religião e, ao mesmo tempo, protegerem-se contra os usurpadores do poder de Deus por meio da religião. Elas poderiam capacitar-se, também, para avaliar a consistência de interpretações bem intencionadas às quais fossem chamadas a aceitar como verdadeiras.

Trata-se, em última análise, de se montar um currículo para a educação do cristão crítico, no sentido construtivo da palavra, e prático, no sentido de que é preciso agir para transformar o mundo, e não apenas absorver o que o mundo nos oferece, pois ele é, por definição, preso à materialidade e animalidade. A razão que o mundo adota limita-se a servir o lado animal do homem, enquanto, como cristãos, devemos praticar a razão espiritual.

Ressalte-se que, literalmente, não somos deste mundo. Aqui estamos apenas como peregrinos.


9. FONTES PARA ESTA REFLEXÃO
Além de diversas versões da Bíblia, foram consultadas as seguintes fontes para esta reflexão:

9.1 - Fontes Genéricas
Eventos religiosos em geral.
Programas religiosos nas TV's.
Conversas com autoridades eclesiásticas e membros das igrejas ditas cristãs.
Livros diversos sobre teologia.
Meditação pessoal.
Prática pessoal do Evangelho, dentro do possível.

9.2 - Filosofia
Coleção Os Pensadores, da Abril Cultural: Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Imanuel Kant, entre outros.
A História do Pensamento Ocidental, de Bertrand Russel.
A História da Filosofia, de Will Durant.
História da Filosofia Cristã, de Philotheus Boehner e Etienne Gilson.
O Problema da Verdade, de Jacob Bazarian.

9.3 - Teologia
Confissões, de Agostinho.
Suma Teológica, de Tomás de Aquino
Obras diversas de Martinho Lutero.
Obras diversas de João Calvino.
O Que é Teologia Reformada, de R. C. Sproul.

9.4 - Doutrinas
Documentos dos concílios de: Trento, Vaticano I e Vaticano II.
Confissão de Fé de Westminster.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pensando no limite (1-6)

1.
Conhecer é uma possibilidade inerente ao ser humano. Conhecer em diferentes graus: por ouvir dizer, por ter contato por meio dos cinco sentidos, pelo raciocínio que vai além dos sentidos, pela intuição. Mas, o conhecimento só se completa pela prática que, acionando as percepções pelos diferentes meios citados, valida ou rejeita tais percepções por experimentos simulados e físicos. Assim, pode-se capturar o conhecimento para replicá-lo em circunstâncias similares. O conhecimento do Evangelho, segundo Jesus, depende de colocar em prática as suas palavras. Sob esse ponto de vista, o método proposto por Jesus é "científico" no mais alto grau, consolidando-se plenamente no amor.

2. 
Embora a Bíblia possa ser lida e examinada por qualquer um que saiba ler, e que tenha o mínimo de treinamento em lógica, ela não pode ser interpretada por qualquer um. Mesmo os intérpretes devidamente formados para tal sempre tiveram dificuldades em chegar a consensos sustentáveis sobre suas passagens mais difíceis. Contudo, naquilo que interessa à salvação, ela é fonte de nutrientes para o leitor sedento e faminto de Deus.

3.
Sou obrigado a concordar com a afirmação do ateu José Saramago: "A Bíblia não é um livro para deixar nas mãos de um inocente". Sabendo disso, Lutero, que era professor de Bíblia, escreveu instruções para os seus leitores, para evitar  que se confundissem. Essas instruções foram reunidas no livro Da Liberdade do Cristão, lançado no Brasil em 2006, pela Editora UNESP. Na visão de Lutero, o leitor deve ter Cristo em mente, começando a leitura por João, 1a Pedro, e Aos Romanos. Bem fundamentado na mensagem de Cristo, deveria ler a Bíblia sempre buscando encontrá-lo. Onde não o encontrasse, deveria deixar de fazer especulações a respeito.

4.
A discussão sobre a existência ou inexistência de Deus é destituída de sentido. Ela deveria começar pelo questionamento sobre se existe Algo além de tudo que possa ser detectado pela mente humana e pelos instrumentos científicos, que est5ivesse na origem de tudo que existe.  Creio que não há como fugir à conjectura razoável de que Algo existe, e está muito além da compreensão humana. Sobre esse Algo, cada um pode, de acordo com sua capacidade de análise, fazer suas conjecturas. O cristão, de acordo com sua tradição, chamará a esse Algo de Deus. Mas, como está escrito, Ele é amor, e só pode ser conhecido pelos que amam.

5.
A dupla predestinação não é e não pode ser uma doutrina, e muito menos uma doutrina calvinista, apesar de estar claramente afirmada na Bíblia. Se eu fosse obrigado a aceitá-la como doutrina, eu teria que me abster de usar minha razão. Se a aceitasse, eu  teria de admitir, como consequência lógica, que tudo é permitido, como se não houvesse Deus. Creio que a questão pode ser resolvida com a admissão de que essa afirmação bíblica é incompreensível e, como tal, nada pode ser construído sobre ela.  Ao contrário, deve-se partir da afirmação  "(...). Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. 1 João 4:16".  Esta última afirmação une católicos, calvinistas e arminianos, entre outros. Então, que se construa sobre ela.

6.
O fato de Davi ter sido um homem segundo o coração de Deus, embora tenha sujado suas mãos de sangue, às vezes da forma mais hedionda, dá ao pecador comum uma grande esperança. Buscando, implorando e batendo à porta, ele será tido como querido e santo, apesar de suas limitações. Se Davi foi aceito por amar a Deus, qualquer um pode ser aceito pelo mesmo motivo, ainda que seja tão pecador quanto ele.












segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A supremacia e suficiência do amor

Cristo resumiu a sua pregação no amor -  à Deus e ao próximo -. Tudo o mais decorreria disso naturalmente, caso as pessoas atingissem a maturidade. Contudo, essa "maturidade" inerente à criança de colo se perde durante o desenvolvimento humano, até que, combinando lógica e emoção, ou pela fé, se chegue novamente à síntese posta desde o início.

Conforme demonstrado por Cristo, os doutores podem se perder nesse processo. Já os iletrados humildes, pela fé e pelo amor, correm menos riscos.

A disputa intelectual sobre a supremacia da fé ou das obras, entre outras questões, causou a divisão da Igreja no século XVI. E, salvo melhor juízo, as duas partes erraram. Na disputa esqueceu-se de que não há Evangelho da fé ou da obra, nem mesmo da fé que gera obras, nem das obras que auxiliam a fé, embora as partes envolvidas evoquem a Bíblia para se justificarem. 

O Evangelho de Cristo foi resumido por Ele mesmo como sendo o do amor, pois gera tudo que é necessário à salvação. O Apóstolo Paulo, que defendeu a supremacia da fé sobre as obras, em aparente oposição ao Apóstolo Tiago, rendeu-se à supremacia do amor, entre outras passagens, em 1 Coríntios 13.  Porém, ele reconheceu que os partidos são inevitáveis entre os imaturos.

A imaturidade, segundo penso, pode ser devido, ou manifestar pelos seguintes aspectos, entre outros:  deficiências cognitivas, fé insuficiente,  falta de amor. Não sei em que extensão essas deficiências podem ser genéticas ou por falta de educação orientada para a prática. Mas, elas podem ser superadas quando entregues a Cristo, desde que se se faça o esforço necessário para colocar em prática as suas palavras. 

Ao longo dos séculos, preferiu-se a contínua análise, sempre inconclusiva, à síntese apresentada por Jesus, gerando confusão em vez de soluções. Infelizmente essa confusão persiste até hoje. Por isso, no que me diz respeito, sempre clamo pela síntese de Jesus como ponto de partida e de chegada.

Assim penso, salvo melhor juízo, de forma crítica e prática. Se eu estiver errado, aceito correção de quem se expressar com mais lógica e, ao mesmo tempo, vivenciar o amor, na prática, mais do que eu. Amém.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Salvação e saúde

O dicionário do Aurélio afirma que saúde vem de salute, que quer dizer salvação, conservação da vida. Portanto, há correspondência direta entre salvação e saúde. Pode-se até dizer, salvo melhor juizo, que a salvação consiste em garantir a saúde, combinando a eliminação de doenças, sua prevenção e acréscimo de alegria. A saúde perfeita só será alcançada na vida eterna, o que equivale a dizer que os salvos são salvos da condição doentia de pecador,  para a condição de perfeita saúde,  alegria e gozo da presença de Deus.

Mas, o que é necessário para se alcançar a saúde perfeita, ou salvação, ou a vida eterna? Selecionei duas respostas a esta pergunta, dadas por Jesus,  que serão apresentadas a seguir.

Veja Lucas 10:25-37 a seguir:
"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira." (Lucas 10:25-37)

Veja Marcos 10:17-31 a seguir:
"E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.
Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.
Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.
Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.
Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!
É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.
E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?
Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.
E Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos, e te seguimos.
E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho,
Que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna.
Porém muitos primeiros serão derradeiros, e muitos derradeiros serão primeiros."
(Marcos 10:17-31)

Creio que essas duas parábolas acima não deixam dúvidas sobre o que fazer para se obter a saúde perfeita, ou salvação, lá no Céu.



sábado, 19 de julho de 2014

Não se desespere, tudo se passa como num filme

Há um ditado popular que diz que "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine". Como afirmou Aristóteles, o homem quer, em última análise, ser feliz. Tudo o mais ele o faz na esperança de ser feliz.

Contudo, o sofrimento é inerente à condição humana. E ele decorre, em parte, do fato de o homem não abrir mão de ser feliz permanentemente aqui na Terra, como se isso fosse possível. Se pensarmos bem, tudo de ruim que acontece ao outro pode acontecer conosco. Mas, geralmente agimos como se tivéssemos uma espécie de proteção especial.

Minha amiga estava desesperada. Ela não se perdoava por ter trazido ao mundo uma filha que, segundo disse, iria sofrer sem necessidade, pois bastaria que não tivesse nascido. Ela estava frequentando psicanilista e psiquiatra, gastando mais do que podia. Diante do desespero, ela me pediu ajuda. Tudo que pude dizer a ela foi: - A vida aqui na Terra é como um filme. É real, mas tem o seu tempo predeterminado. Distancie-se e veja o filme passando.

Minha amiga disse que foi curada com essa imagem. Agora ela não leva tudo a ferro e fogo. Sua mente conseguiu dar novo significado à vida. Segundo ela me disse, seu sofrimento crônico teve fim. Contudo, os atores do filme vivem uma situação real. Nem sempre o papel lhes é imposto. Às vezes é possível escolher e, sem dúvida, há filmes mais felizes do que outros.

É preciso não viver de ilusões, esperando uma vida feliz o tempo todo por aqui. Parte dessa infelicidade está em decidir satisfazer todos os desejos e sonhos. Lutar por um sonho é bom, mas há sonhos que são tão invíáveis que insistir neles é como decidir sofrer. A felicidade vem de conquistas, e nunca se sabe aquilo de que somos capazes até tentarmos. Mas é preciso deixar margem para decepções. Sem aprender a sofrer, não há como ser feliz.

Contudo, o filme da vida na Terra é só um filme. A verdadeira felicidade não pode ser encontrada nele. A vida verdadeiramente feliz, conforme acredito, só pode ser encontrada no Céu. Essa vida, contudo, precisa ser imaginada ainda na Terra, e o espírito deve ser treinado para tornar-se senhor da matéria. Não se pode deixar dominar pelas ilusões do filme. Como já foi dito, só a verdade liberta.

terça-feira, 18 de março de 2014

Trafegando com segurança pelas estradas da Bíblia

 A Bíblia é um livro que dá conforto aos humildes, socorre os aflitos arrependidos, humilha os doutores e condena os que se absolvem. O seu conteúdo simples não precisa ser interpretado por ninguém, basta que seja praticado; o seu conteúdo complexo, não há quem o possa interpretar.

Ao trafegar pelas estradas da  Bíblia é preciso tomar muito cuidado para não ser atropelado, machucado e morto. Assim como no trânsito, é preciso prestar atenção aos sinais verde, amarelo e vermelho.

Só para citar três exemplos: o sinal verde pode ser ilustrado pelo amor; o amarelo pela Trindade; o vermelho pela dupla predestinação.

Sinal verde para quem tem amor no coração e o coloca em prática.  Deus é amor, e contra o amor não há lei. Como afirmou o Apóstolo Paulo, nem mesmo a fé se sustenta sem o amor.

Sinal amarelo para quem entra em discussões profundas sobre a Trindade. O tema é incompreensível e, o máximo que se pode fazer é reconhecer que ele foi resolvido como dogma amplamente aceito. Tentar rediscuti-lo novamente implica colocar-se na antessala do perigo, este alertado pelo sinal vermelho.

Sinal vermelho para quem se mete em temas como a dupla predestinação. Embora ela esteja claramente afirmada, é daqueles temas em relação aos quais  nunca houve consenso. Mergulhar nele é como entrar num pântano do qual ninguém jamais voltou.

Há muitos outros temas que poderiam ser agrupados no verde, no amarelo e no vermelho; mas, os três citados acima são suficientes para alertar o caminhante. Tendo a devida precaução, pode-se, com humildade, dar uma olhada em quaisquer dos temas em amarelo e vermelho, mas sem aprofundar-se muito na pesquisa, a não ser profissionalmente.

O bom senso recomenda concentrar-se nos temas em verde. Neles pode-se trafegar com segurança. Pelo menos, falar sobre eles não faz mal, pois sempre alguém poderá ouvir a fala, acreditar nela e praticá-la, mesmo quando o emissor da mensagem afirme que se deve praticar o que ele fala, mas não fazer o que ele faz.