sábado, 25 de setembro de 2010

Eu não sei

As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei. (Deuteronômio 29:29)

Deus revelou-se ao homem de várias formas: 1) via natureza; 2) via livros sagrados; 3) via razão.

Deu ao homem a fé para buscá-Lo, e a razão como instrumento dessa busca. Ao encontrá-Lo, a fé e o conhecimento se unificam.

Entretanto, o homem, ao pesquisar, não se contenta com a verdade revelada confirmada por sua razão espiritual. Ele quer ir muito além e, por orgulho, alega saber o que não sabe.

Ao afirmar saber o que não sabe, ele se desmoraliza e desmoraliza o sistema sob o qual emite seu ponto de visto, seja a religião, a filosofia ou a ciência.

Eu não sei. Eis a primeira regra de quem busca o conhecimento. Mas, o que sei, pratico-o. Eis a primeira regra do religioso cristão. Mas, quando souber, aceitarei a verdade. Eis a primeira regra de quem se diz amigo do conhecimento e da sabedoria.

Eu não sei. Mas parto do axioma que se instalou em meu coração e em minha mente. Este é o ponto de partida de qualquer buscador da verdade, em qualquer área da atividade humana.

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8:32)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sobre o amor ( 1 Coríntios 13:1-13)

1 Coríntios 13

1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.

5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;

6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

8 O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;

9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;

10 Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.

11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

12 Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cristo: o guerreiro manso e suave

O Senhor dos Exércitos é o maior dos guerreiros. Não há força nem inteligência capaz de vencê-Lo. Ele fustiga os adversários impenitentes, e os faz prostrar a Seus pés. Ele os transforma em pó.

Entretanto, o jugo de Cristo é manso e suave para aqueles que se submetem a Ele. O sofredor que implora misericórdia, o amante que anseia por Ele e o amigo da sabedoria que O busca, para esses o Seu fardo é leve.

Não adianta desafiar a Cristo. Há que se submeter ou perecer sob o Seu poder absoluto. Então, ao invés de desafiá-Lo, é melhor entregar-se a Ele como uma criança que precisa de cuidados.

sábado, 4 de setembro de 2010

Como Cristo veria o capitalismo e o comunismo?

As palavras nem sempre representam as coisas que são evocadas para representar. Mas, não há como se comunicar sem elas. Ás vezes elas são usadas para enganar, e às vezes para libertar. Entre essas palavras estão o capitalismo e o comunismo.

Ouvi um sermão no qual o pastor brilhou em sua capacidade retórica ao referir-se aos dois sistemas. Ele afirmou que o capitalismo é o regime no qual o homem à direita explora o homem à sua esquerda. Já no comunismo, afirmou o pastor, ocorre exatamente o contrário. Nenhum dos dois sistemas presta, mas o ser humano teve de viver experiências com os dois. Assim, ele tem elementos para não se deixar escravizar mais por nenhum dos dois, desde que entenda e pratique o Evangelho.

Sob a perspectiva de Cristo, como eu posso avaliá-la, ele defenderia a liberdade do indivíduo e, ao mesmo tempo, sua posição de servo da sociedade. Ele endossaria o paradoxo: "O cristão é livre e não deve satisfação a ninguém. O cristão é servo de todos e a todos deve satisfação." Com isso Ele estaria defendendo ideias que estão tanto no capitalismo como no comunismo e, ao mesmo tempo, combatendo os dois sistemas. E disso depende a liberdade do cristão.

Na sua acepção mais próxima da literal, o capitalismo é, por definição, materialista e ateu. Ele, nessa perspectiva, é a religião de mamom, que Cristo condenou. Ele estimula que o homem idolatre o fruto do seu trabalho e que, ao mesmo tempo, sofra de necessidades que poderiam ser satisfeitas pelos bens e serviços já produzidos pelo trabalho. Na sua versão animal o capitalismo estimula o consumismo, o endeusamento do ego e destruição a Terra sem dar esperança quanto ao Céu.

Igualmente, o comunismo seria automaticamente condenado por Cristo. O ateísmo, afirmou Marx, é a primeira condição para o comunismo. A religião, disse Marx - e nisso talvez ele tivesse razão - é o ópio do povo. O comunismo seria, assim como o capitalismo, o sistema doutrinário do próprio diabo.

Foram os cristãos que, com sua parcimônia, trabalho duro e ética da responsabilidade, viveram segundo os princípios que permitiram a acumulação de capital. Igualmente, foram os cristãos que primeiro partilharam os seus bens de forma que cada um contribuísse segundo suas possibilidades e usufruisse dos recursos em comum segundo suas reais necessidades.

Embora capitalismo e comunismo tenham sido experimentados em sua forma extrema, isso praticamente não existe mais. O mundo conquistou a democracia como um valor universal. Nela, oscila-se em torno da social-democracia, à esquerda e à direita. Mas, para manter essa condição propiciada pela democracia, há que ficar atento, pois o preço da democracia é a eterna vigilância. Desque que não se imponha mais o ateísmo e a supressão da religião, o cristão pode viver muito bem nesse sistema.

Conforme ressaltou Popper no seu livro A Sociedade Aberta e seus Inimigos, o que está em jogo, realmente, é uma luta entre a sociedade aberta e a sociedade com direção central autoritária. No momento a sociedade aberta está vencendo a luta. E nela os cristãos podem sentir-se á vontade, embora devam pagar o preço de responder por sua liberdade.

Um cristão pode ser favorável tanto à sociedade aberta quanto à sociedade dirigida por autoridade central autoritária. Mas só enquanto ainda não atinge sua maturidade em Cristo. E disso depende a sua liberdade individual em qualquer sistema político/econômico.

Dentro desse campo de liberdade conquistado por duras lutas, o cristão tem o grande desafio de viver o Evangelho em meio à tentação do capitalismo e do comunismo latentes. Isto é, o diabo o tenta à esquerda e à direita, e também no centro. A luta real, porém, está no interior de cada homem. E ela só pode ser vencida quando se ancora em Cristo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A hipocrisia indesculpável

Todos nós somos hipócritas de alguma maneira, e em algum grau. Isso até faz parte dos chamados "bons costumes" com o nome de polidez. Régine Dhoquois escreveu um livro com o título "Polidez: a virtude das aparências", no qual apresentou o Japão e a Inglaterra como países que transformaram esse vício em virtude social.

Mas, uma coisa é ser polido, ainda que isso seja mera hipocrisia. Outra coisa é empenhar-se numa causa com total hipocrisia, tornando-a fonte de lucro e de reconhecimento público indevido. Ainda mais quando se lança mão das mais avançadas tecnologias de domínio da mente humana, escravizando-a com o seu consentimento. E isso em nome de Deus.

Jesus, em Marcos 7:6, afirmou sobre o hipócrita: "E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim."

Em Mateus 23 Jesus listou várias situações em que os hipócritas estão envolvidos, para a sua perdição. Ressalte-se, em particular, Mateus 23:13: "Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando."

Pode-se ver, hoje, muitas das hipocrisias condenadas por Jesus à época, e algumas novas, entre as quais:

posicionar-se, dentro da Igreja, nos lugares visíveis ao público, sem qualquer outra função senão a de mostrar-se;
fazer orações públicas que mais parecem discursos, para as quais são escolhidos a dedo aqueles que têm uma retórica mais refinada e um melhor domínio do vernáculo, o que inibe os demais;
alegar domínio sobre os temas mais difíceis da Bíblia, quando os maiores teólogos do mundo, no passado e no presente, terminaram suas vidas pedindo desculpas por terem usado mais palavras do que as necessárias para falar do que nunca conseguiram entender;
usar a neurolinguística para dominar corações e mentes carentes, hipnotizando as ovelhas e tornando-as membros de rebanhos passivos e passíveis de extorsão justificada em nome de Deus.

O maior de todos os pecados ocorre quando o líder evoca falar em nome de Deus, reivindicando subserviência em função de sua função especial. Alguns se declaram Ministros, outros Apóstolos, outros Bispos. Sua vontade torna-se a vontade do próprio Deus, que afirmam representar sem jamais tê-lo conhecido além de suas leituras da Bíblia. Mas, é ainda mais grave quando tiram sua autoridade por alegarem tê-Lo conhecido pessoalmente em encontros místicos.

Há um tipo de hipocrisia que torna a religião um mero negócio: a de exigir dízimos e ofertas acima de tudo o mais. Consolida-se, por essa via, a teologia das boas obras, e dizima-se a teologia do amor e da fé. A hipocrisia não está no fato de solicitar que os fiéis banquem as despesas da Igreja, mas no fato de o dízimo ser transformado numa espécie de mandamento acima dos demais. Porém, não sei se o pecado é menor quando se toma posse do dinheiro das ovelhas pela venda de produtos religiosos que visam a enriquecer os seus autores.

A hipocrisia pode ser perdoada nos que a praticam por ignorância ou falta de autocontrole, ou, talvez, como polidez resultante da cultura na qual vivem. Mas o castigo será grande, conforme afirmou Jesus, para aqueles que a usam como método maquiavélico para adquirir vantagens pessoais indevidas. Esse tipo de hipócrita - que ele não exista entre os cristãos! - será tratado como criminoso hediondo no dia do Juízo.

Que Deus nos faça reconhecer nossos pecados de hipocrisia e que nos force, ainda que sob muito sofrimento, a retratar-nos em relação a eles. Antes sofrer aqui, porém obtendo a graça do perdão pelo nosso arrependimento, do que prosseguir no erro rumo á perdição eterna.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós. Mateus 23:15.

Que a acusação acima não seja lançada sobre nós. Amém.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Convivendo com as passagens difíceis da Bíblia

Muitos teólogos inteligentes, alguns deles muito piedosos, perderam-se ao vasculhar demais algumas passagens difíceis da Bíblia. Coloco o assunto em pauta não para criar mais confusão, mas para enfatizar que a ninguém é lícito criar dúvidas nas pessoas humildes que depositam sua esperança no Deus da Biblia.

Em todos os casos em que há possibilidade de divergências sérias, julgo que a melhor solução é suspender o julgamento sobre o tema. O caso da predestinação, por exemplo, é fonte de confusão. Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino deixaram uma firme doutrina a respeito que, sabiamente, foi deixada de lado pela Igreja Católica na formulação de sua doutrina oficial.

João Calvino foi acusado de ressaltar esse tipo de tema, apesar de ter avisado sobre o perigo de se deter sobre ele. Aquino sugeriu que o assunto não deveria ser exposto àqueles que não estivessem à altura de compreendê-lo. E isso foi ressaltado, igualmente, por Lutero. Enfim, os três teólgos, apesar de estarem em oposição quanto a vários outros temas, estavam de acordo quanto à necessidade de se tomar cuidado com o potencial destrutitivo de uma discussão sobre a predestinação.

Suspendamos, pois, o julgamento sobre todos os temas que têm sido motivos de dissenso ao longo dos séculos. Contudo, estudemos silenciosamente tais temas. Pode ser que o Espírito Santo nos ilumine sobre o seu significado, ainda que isso valha só para nós.

Porém, se julgarmos ter sido agraciados com alguma iluminação, cuidemos para não ensinar nossa convicção como se fosse uma doutrina. Quem faz isso é falso profeta, e eles estão por ai em profusão. Eles dizem fazer milagres, e até ser contra a religião, mas seus frutos demonstram que estão interessados mesmo é no dinheiro de ovelhas de intelecto fraco.

Vivamos, pois, a verdade simples. Ela não é fácil de praticar, mas torna-se ainda mais difícil quando acrescida de dúvidas sobre temas espinhosos. Não acrescentemos mais dificuldades tentando remoer as passagens difíceis da Bíblia.