terça-feira, 28 de junho de 2011

O amor fraterno é para sempre

Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão. Provérbios 17:17

Meu irmão era amado por muitos. Contudo, ele foi assassinado por um fanático da política do interior, em 1976, após seu partido ter vencido a eleição.

Recentemente descobri que uma senhora o amava tanto que mudou do local. Ela o considerava como a um filho. A filha dessa senhora, que me contou a história de sua mãe, estava chorando. Ela disse que também amava, e ama, a família do meu irmão.

Meu pai tinha muitos amigos que o amavam. Ele sempre agiu como pacificador, embora fosse muito corajoso. Os amigos que ele reencontrou na velhice deram-lhe o apoio que dariam a um irmão querido.

Eu também tenho amigos que já fizeram mais por mim do que alguns dos meus irmãos fariam. E pude fazer para alguns deles o que os seus próprios irmãos não fizeram, mesmo podendo.

Sou obrigado a concluir, de acordo com a minha experiência, que o amor fraternal é mais importante do que a paixão. Mesmo entre casais, a paixão passa. Mas o casamento pode continuar sem transtornos se o amor fraternal se instala.

Amo minha mulher nos dois sentidos: carnal e espiritual. Mas vejo que só o amor espiritual pode nos unir realmente. Mas esse mesmo amor, sem nenhuma necessidade de contra-partida, tenho-o por alguns poucos amigos e amigas.

O amor de Cristo é do tipo fraternal. Ele acolhe sem restrições. Ele não é compatível com nenhum tipo de barganha. Nem mesmo dízimos, ofertas e sacrifícios.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em síntese

Em síntese, na minha opinião, o cristianismo pode ser explicado da maneira a seguir.

1. O homem, ao usar sua razão, choca-se com o fato de existir. Ele é um milagre! Sua razão força-o a buscar saber de onde veio, o que deve fazer na Terra, e para onde vai.

2. Esse choque manifesta-se especialmente em duas ocasiões: quando sofre e não sabe explicar os motivos do seu sofrimento, ou quando, usando sua mente inquiridora, fica ciente de sua fragilidade e, ao mesmo tempo, capacidade de compreender.

3. A existência de um fundamento último da vida impõe-se pela intuição combinada com vivências e experiências planejadas, ou, em alguns casos, por meio de experiências culminantes.

4. O povo judeu, com sua experiência documentada na Bíblia, além de sua existência atual para testemunhar sua história, aparece como garantia de que o cristianismo tem fundamento histórico.

5. Jesus Cristo, em dado momento, impõe-se ao homem reflexivo como modelo a seguir. Ele anunciou a Boa Nova, ou Evangelho, que liberta a tantos quantos têm a alegria de conhecê-lo.

6. Sendo escolhido, ou escolhendo o Evangelho para conduzir sua vida, o homem, embora submetido a todo tipo de sofrimento, torna-se imune, pois, pela fé, fortalece sua confiança na sua origem, responsabilidade na Terra e destino final.

7. Sua meta, aqui, é aprender a arte de amar, apesar de todas as barreiras, principalmene a do seu ego, que pretende viver por si e para si, sem considerar nada além de si.

8. Embora o homem possa ser treinado mecanicamente na tradição cristã, ele pode, a qualquer momento, adquirir plena consciência sobre a verdade e, assim, agir livremente. Ele se realiza em Cristo assumindo-se mero peregrino neste mundo.

9. Consciente de sua identidade verdadeira, o homem pode viver seguro em meio à insegurança típica da vida na Terra. Ele pode dominar sua condição material, tornando-se senhor da matéria e artífice de suas condições de vida. Para isso ele precisa tornar-se escravo da verdade.

10. Entregando-se a Cristo, e tomando-o como referência, o homem pode, finalmente, realizar o potencial de Cristo que está em si. Essa autorrealização implica reconhecer o próximo como irmão, ao qual deverá prestar serviços como se fosse para si mesmo, em nome de Deus, o Pai de todos.

E assim se completa o conhecimento básico mínimo para que cada homem assuma sua liberdade com responsabilidade. Tudo o mais é secundário, embora ainda útil. Por exemplo, unir-se a determinado grupo para realizar sua missão e sua visão de futuro, mediante os valores inerentes ao Evangelho do amor, anunciado por Cristo.

Por analogia com a ilustração da circuncisão física com a circuncisão do coração, comunidade cristã não é aquela que, formalmente, adere ao Evangelho, mas aquela que o pratica de fato. Ela pode estar em qualquer lugar, mesmo que seus membros tenham pontos de vista filosóficos, políticos e relgiosos diferentes quanto aos aspectos secundários.

Em síntese, tudo se resume no amor, que se adquire pela prática. Para tal, é preciso aceitar, pela fé, o que não pode ser visto. Assim, o caminhante pode prosseguir com esperança, vivendo, desde já, como se estivesse na sua pátria verdadeira: o Céu.

sábado, 25 de junho de 2011

Vida ganha, vida perdida

Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. Marcos 8:35

Meu amigo teve infância pobre. Passou fome. Trabalhou e superou tudo. Ao final, ficou rico. Ganhou milhões e milhões, mas agora ele está correndo grande risco.

Meu amigo encontrou-se casualmente com o homem mais rico do município onde viveu sua infância de pobreza. O homem estava contando que ganhara a sua vida. Aos 80 anos, sentia-se bem sucedido por ter tido uma vida de muito dinheiro.

O homem com o qual meu amigo se encontrou morreu. Meu amigo esteve no cemitério e viu que, se considerada esta vida, o homem venceu enquanto a teve, mas já não existia mais.

Então, meu amigo teve a oportunidade de pensar: - Será que ele ganhou a vida eterna? Será que eu estou lutando apenas por esta vida? Será que eu ainda tenho tempo de fazer bons investimentos no Céu?

Meu amigo ainda está pensando. Não sei o que ele decidiu. Mas acho que ele, com certeza, não quer apenas ser rico nesta vida. Ele tem visão de futuro. Um dia desses ele ainda vai me contar a sua história.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Jesus chorou

João 11:35

Percebi, desde tenra infância, que é muito fácil ser escravo da emoção. Eu via como os mais fortes humilhavam os mais fracos, sob diversos aspectos. Vi que amores não correspondidos podiam gerar tragédias.

Eu decidi vencer a emoção. Sem saber, eu assumi a filosofia de vida dos estóicos. Investi tempo em conhecer as coisas que poderiam tornar-me livre, seja financeiramente, seja emocionalmente.

De certa forma, consegui. Quando chegou a hora de amar pela primeira vez, dediquei-me com entusiasmo ao meu nomoro. Eu morava longe, mas viajava com a maior frequência possível para ver minha amada. No intervalo eu lhe enviava muitas cartas apaixonadas. Quando vi que minha amada não tinha a maturidade necessária para receber o meu grande amor por ela, sofri com antecedência. Quando chegou a hora de romper, eu estava tranquilo. Sofri, mas não chorei.

Contudo, eu também tive os meus momentos de choro. Chorei numa igreja, no final de 1999, alguns meses após a morte de minha mãe. Os hinos que ela cantava na minha infância mantiveram-me em estado de hibernação espiritual até aquele dia. Chorei novamente muitos anos depois de ter perdido meu primeiro amor. Chorei quando ela me contou o quanto chorou ao descobrir que me perdera por não ter compreendido o quanto eu a amava.

Se Jesus chorou, qualquer um pode chorar. Eu chorei. E pretendo chorar mais. Chorar pode ser um bom remédio auxiliar, até mesmo para quem, como eu, aprendeu a controlar suas emoções.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O amor ainda é o melhor investimento

Eu estava desiludido. Investira tudo no amor, mas o objeto do meu amor fez outro investimento, tirando-me do seu coração sem aviso prévio.

Ao invés de mudar o foco do meu investimento, pedi a Deus que me enviasse a mulher certa. Não queria que ela fosse excessivamente bonita, nem rica, nem muito intelectualizada. Eu precisava de uma pessoa normal, porém sedenta do meu amor.

E Deus me enviou a Márcia. Pude, pela primeira vez, amar e sentir-me amado. Ela tinha foco total em mim. E eu tinha foco total nela. Tivemos um filho e uma filha maravilhosos. Espero que tenhamos dado bons exemplos para ambos.

Num certo momento, minha paixão pela Márcia pareceu apagar. Então, lembrei-me de que já fora vítima de um amor não correspondido. Investi nela, cumprindo os compromissos assumidos na igreja. Com a firme decisão de amá-la, tudo mudou.

Quanto mais avançamos em idade, mais nos amamos. Estamos namorando novamente. Tudo está muito melhor do que jamais foi. Eu a amo cada vez mais. Cada vez mais ela demonstra que me ama. O investimento feito está dando alto retorno em felicidade.

Não digo que o meu primeiro amor tenha errado ao redirecionar o seu investimento. Eu estava apaixonado, mas não fazia qualquer esforço para entrar na competição pelo seu amor. Ela era muito cortejada, e, talvez, gostasse da experiência de ter muitos olhares sobre si. Em última análise, ela não me amava. Eu a perdoo.

Ao mesmo tempo, aconselho-a a restaurar sua confiança no amor. Seu marido deve ser seu único foco. Sugiro-lhe que, se julgar que precisa de ajuda, leia o livro A Arte de Amar, de Erich Fromm. O autor defende que o amor exige treino, e eu concordo com ele.

Se o amor entre casais é tão importante, e pode dar tão alto retorno, como ocorreu comigo, imaginem o retorno do amor a Deus. Este é, em última instância, o mais importante e definitivo investimento de pessoas ajuizadas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A fé do engenheiro

A fé, nesta reflexão, é entendida, inicialmente, em seu sentido genérico de "acreditar naquilo que não se vê". Ela é uma condição para toda busca, em todos os campos de atividades. Contudo, indo além dessa visão de uma fé natural, acredito que a fé em Deus é a mais alta fonte de autoconfiança que o homem pode ter.

Engenheiro, no sentido aqui adotado, é todo ser humano orientado para a obtenção dos resultados possíveis, tendo em vista as restrições inerentes à situação. Ele respeita as leis da natureza, mas pode agir, em termos práticos, sem conhecê-las. Neste caso, ele se orienta por experimentos. Na perspectiva desta reflexão, não há sequer necessidade de escolaridade formal para se pensar e agir como engenheiro.

A fé do engenheiro é tal que o seu possuidor não precisa esperar ter conhecimento absoluto para agir. Ele nem precisa discutir se existe ou não o conhecimento absoluto. Bastam-lhe os conceitos operacionais necessários e, mesmo eles, podem ser obtidos da prática orientada pela razão experimental. Na sua vida prática, o engenheiro não busca mais milagres do que pode obter usando sua inteligência para manipular os recursos que estão à sua disposição.

O engenheiro poderia ser chamdo de filósofo, se o termo filósofo ainda se referisse à pessoa amiga do conhecimento e da sabedoria. Mas o termo está desgastado, pois foi associado ao pedante que diz ser capaz de conhecer tudo somente pelo pensamento, sem alinhamento experimental com a realidade. O engenheiro poderia, ainda, ser um cientista, mas, igualmente, o termo cientista sofreu distorções. Ele hoje se refere a alguém que se especializou num campo restrito do conhecimento. Eventualmente o cientista, no mau uso de sua autoridade, é capaz de fazer afirmações charlatãs sobre aquilo que não conhece. Sobre Deus, por exemplo.

Alguns filósofos e cientistas afirmam que é possível aproximar-se progressivamente da "coisa-em-si" usando sua inteligência, vontade e ativa capacidade de experimentação. Nisso, comportam-se como engenheiros. Porém, o engenheiro não pode condicionar a sua ação ao conhecimento absoluto da "coisa-em-si". Ele é obrigado a partir do conhecimento parcial, desde que este lhe indique o caminho para a obtenção dos resultados de que necessita.

No extremo, filósofos e cientistras são místicos ou lógicos. Mas, se movidos pela visão do engenheiro, combinam mística e lógica, assim como indução e dedução, imaginação e ação, enfim, teoria e prática. Quanto a isso, os crentes e os ateus usam o mesmo método; e ambos precisam ter fé.

O homem de fé acredita naquilo que não vê. E, acreditando, busca. E, existindo o que busca, encontra. Mas, ele só saberá se existe ou não o que busca se for persistente e agir com paciência e fé. Cada um, portanto, só encontra aquilo que busca; mas, eventualmente pode tropeçar em "descobertas casuais felizes" se estiver bem atento.

Pergunta-se: Uma "coisa-em-si" inteligente, pode buscar o homem, ao invés de esperar ser buscada por ele?

Nisto se contradizem o espiritualista e o materialista. O primeiro acredita, se for Cristão, que a "coisa-em-si", como Realidade Suprema, ou Deus, só pode ser conhecida se Ela revelar-se ao homem. O segundo acredita que a "coisa-em-si" não é inteligente e ativa e que, portanto, não pode tomar a iniciativa de revelar-se ao homem. Em comum, os dois aceitam a intuição, mas a atribuem a fontes diferentes.

O engenheiro pragmático diz: - Toda essa discussão é-me indiferente. Busco; mas, se for buscado e encontrado, rendo-me à verdade. Analiso, mas aceito a intuição que me ocorre enquanto analiso, desde que confirmada por experimentos posteriores. Sou sujeito e objeto. Ajo e interajo. Sou prático, embora tenha em conta que a melhor prática vem da boa teoria.

O engenheiro crente diz: - Sou servo. Estou nas mãos de Deus, que é a Realidade Suprema. Se O busco é porque fui buscado por Ele. Nada vem de mim, mas o que em mim age vem de Deus.

O engenheiro ateu diz: - Tudo de que preciso para descobrir ou inventar está em mim. Não estou interessado na tal Realidade Suprema. Acho até que ela não existe. Mas, por via das dúvidas, não posso afirmar nada definitivo a esse respeito. Trabalho dentro das restrições que me são impostas pelas leis da natureza.

Ressalto, novamente, que me refiro ao engenheiro quanto à forma de pensar e agir. Ele pode ser qualquer ser humano que lida com a realidade de forma operacional, integrando teoria e prática, mas priorizando a prática na hora de obter os resultados de que necessita. Não há sequer necessidade de escolaridade formal para pensar como um engenheiro, mas o bom engenheiro é, sobretudo, um grande estudioso e pesquisador.

A fé, de muitas maneiras, remove montanhas. O engenheiro remove a montanha com máquinas. Embora a fé, em suas manifestações extremas, possa produzir milagres, Deus permitiu que a medicina, a engenharia, entre outras artes e ciências, tornassem real e produtiva a fé do homem engenhoso. Isso sob a perspectiva material e cultural; mas com inevitável apelo à transcendência.

Portanto, meu amigo, tenha fé. Mas não espere que Deus premie a sua preguiça de estudar e de trabalhar. Tenha fé, mas vá à luta. Não fique por ai esperando o milagre da imortalidade nesta vida. Lázaro foi ressuscitado, mas, com certeza, morreu de novo. Se ficar doente, procure um médico. Contudo, ore/reze para que Deus, se quiser, o cure diretamente ou inspire o médico para lhe dar o tratamento correto.

A fé do engenheiro a que me referi neste texto é a fé do homem trabalhador, estudioso e, ao mesmo tempo, conformado com a inevitabilidade do sofrimento e da morte. Considero-a a melhor fé, pois começa a trabalhar antes que a razão possa dar explicações, e penetra por regiões aonde a razão não pode ir sozinha.