segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Meu amigo pirou

Meu amigo era um ateu muito crente. Ele dizia: - Sou ateu, graças a Deus.

Como ateu, ele tinha o caráter de um bom cristão. Nunca usou aliança, mas nunca traiu a mulher. E nem sequer pensou na hipótese de traí-la. Sempre que pode, ajuda o seu próximo. Mas, sua razão rebelou-se contra as chantagens emocionais com que tentaram catequizá-lo na infância.

Outro dia meu amigo foi a Machu Pichu, no Perú, e pirou de vez. Ele foi impactado de tal maneira que voltou adorando o sol. Ele se tornou zen, e está em lua de mel com o mistério divino.

Para complicar, emprestei-lhe dois livros com argumentos opostos sobre Deus: Deus um delírio, de Richard Dawkins; e Ortodoxia, de Chesterton. Quero ver o que ele vai decidir quando submetido a dois argumentos opostos de homens inteligentes. Ele, que sempre se diz racional, terá que decidir.

Com Dawkins, talvez meu amigo conclua: - Sim, Deus é mesmo um delírio. Adorar o sol me basta. Com Chesterton, talvez o meu amigo conclua: - Deus é mesmo um delírio, mas a vida não vale a pena se não for vivida como delírio. Fora isso ela é pura loucura sem graça. Melhor seria tornar-me um "maluco beleza".

Para completar a piração, emprestei-lhe dois livros que apresentam o Deus e a prática da religião segundo a visão hindu. Esse caminho foi seguido antes por C. S. Lewis que, ao abdicar do ateísmo, teve de escolher entre o Deus segundo o hinduísmo e o Deus segundo o cristianismo.

Acho que meu amigo, que se dizia "ateu, graças a Deus", acabará dizendo, em algum momento, "graças a Deus já fui um ateu". Pode até ser que ele se torne um cristão zen. De qualquer maneira, ele continuará pirado. Talvez ele torne-se um louco em Crito.