sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A hipocrisia indesculpável

Todos nós somos hipócritas de alguma maneira, e em algum grau. Isso até faz parte dos chamados "bons costumes" com o nome de polidez. Régine Dhoquois escreveu um livro com o título "Polidez: a virtude das aparências", no qual apresentou o Japão e a Inglaterra como países que transformaram esse vício em virtude social.

Mas, uma coisa é ser polido, ainda que isso seja mera hipocrisia. Outra coisa é empenhar-se numa causa com total hipocrisia, tornando-a fonte de lucro e de reconhecimento público indevido. Ainda mais quando se lança mão das mais avançadas tecnologias de domínio da mente humana, escravizando-a com o seu consentimento. E isso em nome de Deus.

Jesus, em Marcos 7:6, afirmou sobre o hipócrita: "E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim."

Em Mateus 23 Jesus listou várias situações em que os hipócritas estão envolvidos, para a sua perdição. Ressalte-se, em particular, Mateus 23:13: "Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando."

Pode-se ver, hoje, muitas das hipocrisias condenadas por Jesus à época, e algumas novas, entre as quais:

posicionar-se, dentro da Igreja, nos lugares visíveis ao público, sem qualquer outra função senão a de mostrar-se;
fazer orações públicas que mais parecem discursos, para as quais são escolhidos a dedo aqueles que têm uma retórica mais refinada e um melhor domínio do vernáculo, o que inibe os demais;
alegar domínio sobre os temas mais difíceis da Bíblia, quando os maiores teólogos do mundo, no passado e no presente, terminaram suas vidas pedindo desculpas por terem usado mais palavras do que as necessárias para falar do que nunca conseguiram entender;
usar a neurolinguística para dominar corações e mentes carentes, hipnotizando as ovelhas e tornando-as membros de rebanhos passivos e passíveis de extorsão justificada em nome de Deus.

O maior de todos os pecados ocorre quando o líder evoca falar em nome de Deus, reivindicando subserviência em função de sua função especial. Alguns se declaram Ministros, outros Apóstolos, outros Bispos. Sua vontade torna-se a vontade do próprio Deus, que afirmam representar sem jamais tê-lo conhecido além de suas leituras da Bíblia. Mas, é ainda mais grave quando tiram sua autoridade por alegarem tê-Lo conhecido pessoalmente em encontros místicos.

Há um tipo de hipocrisia que torna a religião um mero negócio: a de exigir dízimos e ofertas acima de tudo o mais. Consolida-se, por essa via, a teologia das boas obras, e dizima-se a teologia do amor e da fé. A hipocrisia não está no fato de solicitar que os fiéis banquem as despesas da Igreja, mas no fato de o dízimo ser transformado numa espécie de mandamento acima dos demais. Porém, não sei se o pecado é menor quando se toma posse do dinheiro das ovelhas pela venda de produtos religiosos que visam a enriquecer os seus autores.

A hipocrisia pode ser perdoada nos que a praticam por ignorância ou falta de autocontrole, ou, talvez, como polidez resultante da cultura na qual vivem. Mas o castigo será grande, conforme afirmou Jesus, para aqueles que a usam como método maquiavélico para adquirir vantagens pessoais indevidas. Esse tipo de hipócrita - que ele não exista entre os cristãos! - será tratado como criminoso hediondo no dia do Juízo.

Que Deus nos faça reconhecer nossos pecados de hipocrisia e que nos force, ainda que sob muito sofrimento, a retratar-nos em relação a eles. Antes sofrer aqui, porém obtendo a graça do perdão pelo nosso arrependimento, do que prosseguir no erro rumo á perdição eterna.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós. Mateus 23:15.

Que a acusação acima não seja lançada sobre nós. Amém.

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