quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pensando no limite (1-6)

1.
Conhecer é uma possibilidade inerente ao ser humano. Conhecer em diferentes graus: por ouvir dizer, por ter contato por meio dos cinco sentidos, pelo raciocínio que vai além dos sentidos, pela intuição. Mas, o conhecimento só se completa pela prática que, acionando as percepções pelos diferentes meios citados, valida ou rejeita tais percepções por experimentos simulados e físicos. Assim, pode-se capturar o conhecimento para replicá-lo em circunstâncias similares. O conhecimento do Evangelho, segundo Jesus, depende de colocar em prática as suas palavras. Sob esse ponto de vista, o método proposto por Jesus é "científico" no mais alto grau, consolidando-se plenamente no amor.

2. 
Embora a Bíblia possa ser lida e examinada por qualquer um que saiba ler, e que tenha o mínimo de treinamento em lógica, ela não pode ser interpretada por qualquer um. Mesmo os intérpretes devidamente formados para tal sempre tiveram dificuldades em chegar a consensos sustentáveis sobre suas passagens mais difíceis. Contudo, naquilo que interessa à salvação, ela é fonte de nutrientes para o leitor sedento e faminto de Deus.

3.
Sou obrigado a concordar com a afirmação do ateu José Saramago: "A Bíblia não é um livro para deixar nas mãos de um inocente". Sabendo disso, Lutero, que era professor de Bíblia, escreveu instruções para os seus leitores, para evitar  que se confundissem. Essas instruções foram reunidas no livro Da Liberdade do Cristão, lançado no Brasil em 2006, pela Editora UNESP. Na visão de Lutero, o leitor deve ter Cristo em mente, começando a leitura por João, 1a Pedro, e Aos Romanos. Bem fundamentado na mensagem de Cristo, deveria ler a Bíblia sempre buscando encontrá-lo. Onde não o encontrasse, deveria deixar de fazer especulações a respeito.

4.
A discussão sobre a existência ou inexistência de Deus é destituída de sentido. Ela deveria começar pelo questionamento sobre se existe Algo além de tudo que possa ser detectado pela mente humana e pelos instrumentos científicos, que est5ivesse na origem de tudo que existe.  Creio que não há como fugir à conjectura razoável de que Algo existe, e está muito além da compreensão humana. Sobre esse Algo, cada um pode, de acordo com sua capacidade de análise, fazer suas conjecturas. O cristão, de acordo com sua tradição, chamará a esse Algo de Deus. Mas, como está escrito, Ele é amor, e só pode ser conhecido pelos que amam.

5.
A dupla predestinação não é e não pode ser uma doutrina, e muito menos uma doutrina calvinista, apesar de estar claramente afirmada na Bíblia. Se eu fosse obrigado a aceitá-la como doutrina, eu teria que me abster de usar minha razão. Se a aceitasse, eu  teria de admitir, como consequência lógica, que tudo é permitido, como se não houvesse Deus. Creio que a questão pode ser resolvida com a admissão de que essa afirmação bíblica é incompreensível e, como tal, nada pode ser construído sobre ela.  Ao contrário, deve-se partir da afirmação  "(...). Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. 1 João 4:16".  Esta última afirmação une católicos, calvinistas e arminianos, entre outros. Então, que se construa sobre ela.

6.
O fato de Davi ter sido um homem segundo o coração de Deus, embora tenha sujado suas mãos de sangue, às vezes da forma mais hedionda, dá ao pecador comum uma grande esperança. Buscando, implorando e batendo à porta, ele será tido como querido e santo, apesar de suas limitações. Se Davi foi aceito por amar a Deus, qualquer um pode ser aceito pelo mesmo motivo, ainda que seja tão pecador quanto ele.












segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A supremacia e suficiência do amor

Cristo resumiu a sua pregação no amor -  à Deus e ao próximo -. Tudo o mais decorreria disso naturalmente, caso as pessoas atingissem a maturidade. Contudo, essa "maturidade" inerente à criança de colo se perde durante o desenvolvimento humano, até que, combinando lógica e emoção, ou pela fé, se chegue novamente à síntese posta desde o início.

Conforme demonstrado por Cristo, os doutores podem se perder nesse processo. Já os iletrados humildes, pela fé e pelo amor, correm menos riscos.

A disputa intelectual sobre a supremacia da fé ou das obras, entre outras questões, causou a divisão da Igreja no século XVI. E, salvo melhor juízo, as duas partes erraram. Na disputa esqueceu-se de que não há Evangelho da fé ou da obra, nem mesmo da fé que gera obras, nem das obras que auxiliam a fé, embora as partes envolvidas evoquem a Bíblia para se justificarem. 

O Evangelho de Cristo foi resumido por Ele mesmo como sendo o do amor, pois gera tudo que é necessário à salvação. O Apóstolo Paulo, que defendeu a supremacia da fé sobre as obras, em aparente oposição ao Apóstolo Tiago, rendeu-se à supremacia do amor, entre outras passagens, em 1 Coríntios 13.  Porém, ele reconheceu que os partidos são inevitáveis entre os imaturos.

A imaturidade, segundo penso, pode ser devido, ou manifestar pelos seguintes aspectos, entre outros:  deficiências cognitivas, fé insuficiente,  falta de amor. Não sei em que extensão essas deficiências podem ser genéticas ou por falta de educação orientada para a prática. Mas, elas podem ser superadas quando entregues a Cristo, desde que se se faça o esforço necessário para colocar em prática as suas palavras. 

Ao longo dos séculos, preferiu-se a contínua análise, sempre inconclusiva, à síntese apresentada por Jesus, gerando confusão em vez de soluções. Infelizmente essa confusão persiste até hoje. Por isso, no que me diz respeito, sempre clamo pela síntese de Jesus como ponto de partida e de chegada.

Assim penso, salvo melhor juízo, de forma crítica e prática. Se eu estiver errado, aceito correção de quem se expressar com mais lógica e, ao mesmo tempo, vivenciar o amor, na prática, mais do que eu. Amém.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Salvação e saúde

O dicionário do Aurélio afirma que saúde vem de salute, que quer dizer salvação, conservação da vida. Portanto, há correspondência direta entre salvação e saúde. Pode-se até dizer, salvo melhor juizo, que a salvação consiste em garantir a saúde, combinando a eliminação de doenças, sua prevenção e acréscimo de alegria. A saúde perfeita só será alcançada na vida eterna, o que equivale a dizer que os salvos são salvos da condição doentia de pecador,  para a condição de perfeita saúde,  alegria e gozo da presença de Deus.

Mas, o que é necessário para se alcançar a saúde perfeita, ou salvação, ou a vida eterna? Selecionei duas respostas a esta pergunta, dadas por Jesus,  que serão apresentadas a seguir.

Veja Lucas 10:25-37 a seguir:
"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira." (Lucas 10:25-37)

Veja Marcos 10:17-31 a seguir:
"E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.
Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.
Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.
Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.
Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!
É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.
E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?
Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.
E Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos, e te seguimos.
E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho,
Que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna.
Porém muitos primeiros serão derradeiros, e muitos derradeiros serão primeiros."
(Marcos 10:17-31)

Creio que essas duas parábolas acima não deixam dúvidas sobre o que fazer para se obter a saúde perfeita, ou salvação, lá no Céu.



sábado, 19 de julho de 2014

Não se desespere, tudo se passa como num filme

Há um ditado popular que diz que "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine". Como afirmou Aristóteles, o homem quer, em última análise, ser feliz. Tudo o mais ele o faz na esperança de ser feliz.

Contudo, o sofrimento é inerente à condição humana. E ele decorre, em parte, do fato de o homem não abrir mão de ser feliz permanentemente aqui na Terra, como se isso fosse possível. Se pensarmos bem, tudo de ruim que acontece ao outro pode acontecer conosco. Mas, geralmente agimos como se tivéssemos uma espécie de proteção especial.

Minha amiga estava desesperada. Ela não se perdoava por ter trazido ao mundo uma filha que, segundo disse, iria sofrer sem necessidade, pois bastaria que não tivesse nascido. Ela estava frequentando psicanilista e psiquiatra, gastando mais do que podia. Diante do desespero, ela me pediu ajuda. Tudo que pude dizer a ela foi: - A vida aqui na Terra é como um filme. É real, mas tem o seu tempo predeterminado. Distancie-se e veja o filme passando.

Minha amiga disse que foi curada com essa imagem. Agora ela não leva tudo a ferro e fogo. Sua mente conseguiu dar novo significado à vida. Segundo ela me disse, seu sofrimento crônico teve fim. Contudo, os atores do filme vivem uma situação real. Nem sempre o papel lhes é imposto. Às vezes é possível escolher e, sem dúvida, há filmes mais felizes do que outros.

É preciso não viver de ilusões, esperando uma vida feliz o tempo todo por aqui. Parte dessa infelicidade está em decidir satisfazer todos os desejos e sonhos. Lutar por um sonho é bom, mas há sonhos que são tão invíáveis que insistir neles é como decidir sofrer. A felicidade vem de conquistas, e nunca se sabe aquilo de que somos capazes até tentarmos. Mas é preciso deixar margem para decepções. Sem aprender a sofrer, não há como ser feliz.

Contudo, o filme da vida na Terra é só um filme. A verdadeira felicidade não pode ser encontrada nele. A vida verdadeiramente feliz, conforme acredito, só pode ser encontrada no Céu. Essa vida, contudo, precisa ser imaginada ainda na Terra, e o espírito deve ser treinado para tornar-se senhor da matéria. Não se pode deixar dominar pelas ilusões do filme. Como já foi dito, só a verdade liberta.

terça-feira, 18 de março de 2014

Trafegando com segurança pelas estradas da Bíblia

 A Bíblia é um livro que dá conforto aos humildes, socorre os aflitos arrependidos, humilha os doutores e condena os que se absolvem. O seu conteúdo simples não precisa ser interpretado por ninguém, basta que seja praticado; o seu conteúdo complexo, não há quem o possa interpretar.

Ao trafegar pelas estradas da  Bíblia é preciso tomar muito cuidado para não ser atropelado, machucado e morto. Assim como no trânsito, é preciso prestar atenção aos sinais verde, amarelo e vermelho.

Só para citar três exemplos: o sinal verde pode ser ilustrado pelo amor; o amarelo pela Trindade; o vermelho pela dupla predestinação.

Sinal verde para quem tem amor no coração e o coloca em prática.  Deus é amor, e contra o amor não há lei. Como afirmou o Apóstolo Paulo, nem mesmo a fé se sustenta sem o amor.

Sinal amarelo para quem entra em discussões profundas sobre a Trindade. O tema é incompreensível e, o máximo que se pode fazer é reconhecer que ele foi resolvido como dogma amplamente aceito. Tentar rediscuti-lo novamente implica colocar-se na antessala do perigo, este alertado pelo sinal vermelho.

Sinal vermelho para quem se mete em temas como a dupla predestinação. Embora ela esteja claramente afirmada, é daqueles temas em relação aos quais  nunca houve consenso. Mergulhar nele é como entrar num pântano do qual ninguém jamais voltou.

Há muitos outros temas que poderiam ser agrupados no verde, no amarelo e no vermelho; mas, os três citados acima são suficientes para alertar o caminhante. Tendo a devida precaução, pode-se, com humildade, dar uma olhada em quaisquer dos temas em amarelo e vermelho, mas sem aprofundar-se muito na pesquisa, a não ser profissionalmente.

O bom senso recomenda concentrar-se nos temas em verde. Neles pode-se trafegar com segurança. Pelo menos, falar sobre eles não faz mal, pois sempre alguém poderá ouvir a fala, acreditar nela e praticá-la, mesmo quando o emissor da mensagem afirme que se deve praticar o que ele fala, mas não fazer o que ele faz.