segunda-feira, 23 de maio de 2011

Um exemplo de consenso obtido em conversas informais

Minha amiga classificou-se, informalmente, como "batisteriana". Ela tem pais presbiterianos e casou-se com um batista. Frequenta as duas denominações indistintamente e não se sente constrangida. Seu argumento central: - naquilo em que as duas denominações divergem, não se pode dizer que saibam do que estão falando. Então, concentro-me na doutrina do amor, cuja fonte é Cristo. Quanto ao mais, ignoro.

Meu amigo presbiteriano começou a falar de uma difícil doutrina comigo. Quando o questionei se sabia, realmente, do que estava falando, ele confessou logo: - rigorosamente, não sei do que estou falando. A esse respeito, pessoas inteligentes, formadas nas melhores escolas de teologia, têm assumido posições opostas. Para falar a verdade, eu fico mesmo é com a doutrina de Cristo, sintetizada no amor.

Conversando com um amigo católico, percebi que ele repetia argumentos sem saber defendê-los. No final da conversa, ele também disse que, rigorosamente, não estava em condições de defender as doutrinas que subscrevia em confiança. Afirmou, ainda, que a Igreja Católica está dividida, e que até mesmo os leigos, com a intenção de defender a ortodoxia, estão julgando os papas. Ele concordou, como a amiga "batisteriana" e o amigo presbiteriano, que a dúvida sobre aspectos doutrinários desaparece diante das práticas de vida inspiradas no amor.

Fiquei alegre com os meus amigos. Eles reconheceram sua ignorância, e colocaram suas esperanças no amor. Eu, reconhecendo-me como o maior de todos os ignorantes, pensei comigo mesmo: - há esperança quando, ao invés de fingir conhecer o que não se conhece, busca-se refúgio na doutrina central de Cristo. Deus só é acessível pelo amor, este gerado pela fé, e ambos gerando esperança. Esse trio em ação, embora não dispense a lei, supera-a com vantagem.

O caminho do consenso, conforme percebi, só pode ser trilhado por pessoas que, cultivando a humildade, são capazes de reconhecer a própria ignorância. Quanto a isso, ajuda muito ter uma boa noção sobre as principais teorias do conhecimento para saber até onde vai a arrogância de alguns interlocutores. O tom doutoral de alguns deles indica quando se deve desistir do diálogo que poderia deixá-los nus diante do público a quem tentam vender sua "sabedoria".