terça-feira, 7 de agosto de 2012

O paradoxo da religião

A Folha de S. Paulo publicou, no dia 7/09/2010, na página A13, no seu Caderno de Ciência, um artigo interessante. Trata-se do resultado de uma pesquisa com mais de 450 mil pessoas em todo o mundo, sobre os fatores principais que causam tanto a felicidade quanto a infelicidade.

Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002, foi coautor da pesquisa publicada na revista científica "PNAS". Nessa pesquisa a solidão foi apontada como a maior causa isolada da infelicidade humana. Ao mesmo tempo, a religião foi apontada como a principal causa isolada de felicidade.

Abraham Maslow, o grande psicólogo do século passado, já defendia que somente as pessoas que atingem a saúde mental plena são capazes de viver sozinhas se isso for necessário. Essas pessoas até buscam a solidão voluntariamente em certas circunstâncias. Mas o tipo solitário autossuficiente pode tornar-se inútil para os seus semelhantes, pois o homem é, entre outras definições, um animal social.

Quanto à religião, sabe-se que o seu germe está inserido na natureza humana. Pode ser que um ou outro homem diga-se imune à sua influência. Ela pode ser altamente formalizada e eivada de hipocrisia, mas pode também ser caracterizada pela informalidade e verdade no mais alto grau. Na pesquisa de Kahneman ela recebeu novo brilho como sendo o principal fator isolado que contribui para a felicidade humana.

A religião, por natureza, une os homens da mesma fé e torna-os irmanados numa causa pela qual dariam a própria vida com alegria. Esses homens irmanados podem sentir-se felizez, porém, se fundamentalistas, podem predispor-se à violência contra grupos religiosos que, apesar de terem o mesmo Deus, podem lutar entre si visando à extinção mútua. A mesma religião que torna os seus adeptos felizes pode ser fonte de violência. Ao mesmo tempo ela contém o potencial de verdade e de transformação profunda do caráter violento em um caráter sociável.

Assim, não é surpresa que a religião seja o mais efetivo antídodo contra a solidão. E, tratando-se da religião verdadeira, a felicidade que a acompanha é indizível e compartilhável por todo ser humano saudável. Não surpreende, pois, que a religião tenha sido tratada como uma questão de Estado. Ao mesmo tempo, não surpreende que muitos sábios tenham reivindicado que ela seja afastada da interferência manipuladora do Estado. Mas, não resta dúvida de que o Estado deve ficar atento ao seu uso potencial como a mais refinada forma de manipulação da mente humana.

A religião, quando submetida ao crivo da razão, torna-se um fator de libertação. Ela não pode prescindir da educação de alto nível, ainda que ela possa ser combatida pelas pessoas que se submeteram a esse tipo de educação. Os filósofos superficiais geralmente são contra a religião; mas, quando eles são profundos, compreendem-na e respeitam-na, mesmo quando não a seguem na sua versão formal e ritualizada.

Segue-se que a religião deve ser estudada criticamente. Tudo que, ao longo dos séculos, tornou-se imune à mais ferranha crítica, faz parte do seu núcleo verdadeiro. E esse núcleo, até o momento, coincide com o amor. O cientista social Erich Fromm destacou esse fato nos seus livros O Dogma de Cristo e Psicanálise e Religião. Essa mesma conclusão foi tirada por outros pscicanalistas, entre eles alguns tidos por ateus.

A religião do amor, como aquela defendida por Jesus Cristo, tem agora essa confirmação empírica. Ela é o melhor antídodo contra a solidão. Mas, ela não pode prescindir da razão sob pena de tornar-se um grande flagelo para a Humanidade.

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