quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A sabedoria em ação

"Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14"

Filósofo, no sentido original do termo, é todo aquele que ama a sabedoria e a busca ativamente, em todas as dimensões da vida. Todo homem, para fazer justiça à sua condição racional, deveria ser um amigo da sabedoria e do conhecimento e, como tal, um filósofo.

Contudo, o termo filosofia deturpou-se, referindo-se, com o tempo, a homens cujo objeto "é incompreensível e inútil, pois não é confirmado por nenhum fato, nem por nenhum raciocínio claro", como afirmou o padre apologista cristão Hérmias, o Filósofo.

O cientista nasceu como sucessor do filósofo. Seu objeto de pesquisa deve ser algo palpável e acessível, diretamente ou por meio de instrumentos. Ele pode, sim, tratar de objetos invisíveis, desde que a meta seja, em algum momento, desvendá-los e torná-los compreensíveis por meio de modelos matemáticos ou conceitos manipuláveis, de forma a produzir os efeitos preconizados.

O religioso existiu antes da filosofia e da ciência, e continua firme com ou apesar da filosofia e da ciência. Ele pode tanto ser um prisioneiro da ignorância, atribuindo tudo o que é desconhecido a espíritos, ou usar as armas da filosofia e da ciência no mais alto grau. Seu diferencial está no pressuposto de agir, em todos os casos, baseado num princípio fundamental: o amor.

É claro que existe o religioso formal, que cultiva a "virtude das aparências" por conveniência diante dos homens, e o religioso real, que paga o preço do princípio fundamental em nome do qual age. É pressuposto, por exemplo, que ele ame até mesmo o seu inimigo, e que o ajude caso ele entre em desgraça.

O filósofo, o cientista e o religioso são confrontados pela realidade. Esta os ignora, e impõe-se a eles de forma impessoal, dando a cada um a chance de mostrar o que realmente é. Assim, a realidade está sempre desmascarando as ideias e as doutrinas dos filósofos, os conhecimentos supostamente científicos e as doutrinas anunciadas pelos religiosos.

O político, em sentido genérico, é aquele que tem consciência de que deve posicionar-se diante dos homens, no seu entorno ou além dele, de forma a influenciar de acordo com o que sua consciência o instrui. Ele é comandado pelo seu "educador introjetado", que lhe diz o que é certo ou errado no todo ou em parte.

Já ouve a esperança de que o político deveria ser um filósofo, mas o descrédito da filosofia deslocou essa esperança para o cientista ou engenheiro social. Contudo, algumas vezes o político foi submetido à supervisão da religião, tendo a religião chegado a dominar, pelo menos nominalmente, a realidade social vigente.

O homem concreto, no seu dia a dia, primeiramente reage ás circunstâncias que condicionam a sua sobrevivência, inicialmente como qualquer animal. Com o tempo ele pode tornar-se consciente de que pode e deve conhecer e, eventualmente, adquire alguma sabedoria, atue ele em qualquer campo de atividades.

Ninguém pode ser tomado por aquilo que diz ser. O que se é só pode ser revelado a longo prazo, e mesmo assim sabendo-se que esse longo prazo pode ser tão longo que a verdade sobre alguém só apareça muitos anos após sua morte. Sob este aspecto, a História é a portadora da verdade sobre os homens; e, sob a perspectiva do religioso, Deus está no comando da História.

A esperança permanente é que a ação humana seja feita com base em conhecimento. Entretanto, todos concordam que não é possível conhecer tudo e que cada decisão, em qualquer instância, é sempre um ato de fé. Se essa fé é do tipo secular, e é exercida sem o amor, o homem torna-se um robô, e mais robô ele se torna quanto mais se avança em tecnologia sem filosofia ou sem religião.

Parece-me que a solução está na permanente busca da verdade numa sociedade aberta, onde cada um é livre para buscar, mas sempre responsabilizando-se por sua liberdade sendo, inclusive, coagido no caso de usá-la mal, intencionalmente ou por incompetência. Na minha perspectiva religiosa, essa busca depende de fé, amor e o domínio da "dinâmica do conhecimento". E isso, para funcionar, depende da combinação de filosofia, ciência, religião e política. Em síntese, tudo depende de SABEDORIA.

Contudo, tudo que existiu, existe e existirá, partiu de uma existência prévia potencial em Deus. Assim, toda sabedoria vem de Deus, mas precisa ser atualizada pela experiência de vida. Ela depende, pois, de ação e reflexão, ao longo de toda a vida. Aos que vivem pelo amor a Deus, cumprindo a verdadeira missão do crente, creio que a sabedoria lhe vem mais cedo, pois a máxima sabedoria é obtida pela prática da Razão e do amor.

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