sábado, 17 de setembro de 2011

Os dois amores

O homem está condenado a viver sob a pressão extrema de dois amores incompatíveis que reivindicam exclusividade. Isso o submete a uma tensão às vezes insuportável, a não ser que ele consiga mergulhar em cada um desses amores esquecendo o outro por alguns instantes.

Como alma vivente, o homem não pode deixar de amar sua condição atual, sob pena de tornar-se insano. Não pode abandonar o corpo, pois está nele, e sem ele não pode viver sua condição humana. E isso lhe é concedido quando se afirma que deve "amar ao próximo como a si mesmo". Mas, o que é esse "si mesmo"?

O homem está sempre sob a tensão do seu passado-presente-futuro, de uma paixão indecifrável que o faz suspirar de desejo de reecontrar o seu primeiro amor, o único e verdadeiro que poderá preencher a lacuna que se formou no seu coração desde que nasceu na Terra.

A lacuna que se forma no coração humano é um mistério. Ninguém pode compreendê-la, nem preenchê-la, mas, de reprente, ela pode ser preenchida instantaneamente quando o coração se deixa permear pela presença invisível do seu primeiro amor: o Espírito Imortal.

E, no mister de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo, sente-se o homem um futuro ex-miserável, ao projetar-se na sua condição real, esta fora de seu invólucro material. Assim, ele ama o que está na sua essência; mas, não pode ignorar sua corporeidade atual.

O homem vive, pois, no limiar de um paradoxo terrívelmente dolororoso e, ao mesmo tempo, saboroso. Ele precisa, a cada momento, lutar para tornar-se aquilo que, em potencial, já é. E ele é, em potencial, eternamente feliz ao lado do Altíssimo, do qual é filho.

Imerso na carne, e amando a carne, o homem vive segundo a carne. Ele pode ser momentaneamente feliz, mas só isso. Em seguida ele geme de dor pela carência daquilo que é sua íntima essência: luz, e amor. Assim, o homem vive uma espécie de paixão recolhida. Ele sofre e, ao mesmo tempo, é feliz só de lembrar-se de sua origem e destino.

Embora tenha dois amores o homem sabe, intuitivamente, que só poderá ser plenamente feliz quando dedicar-se a um só amor: o amor de Deus. Então, ele não tem alternativas senão abondonar, progressivamente, o amor à carne e ao mundo, purificando-se para viver exclusivamente o amor de Deus.

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